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25/03/2002 - 12h46

Garoto fez dieta rigorosa e se tornou vítima de anorexia

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FERNANDA MENA
da Folha de S.Paulo

Quando João (nome fictício), 16, se deu conta de que estava magro demais, tinha apenas 40 kg, distribuídos ao longo de seu 1,72 metro de altura, e um quadro de anorexia nervosa que precisava de tratamento o quanto antes. Até chegar a essas medidas, João olhava-se no espelho sem conseguir enxergar a magreza de seu corpo em desenvolvimento.

João sabe que exagerou nas restrições alimentares, mas não encontrou explicação para a obsessão em contar calorias que o levou a ultrapassar a barreira de sua saúde para emagrecer. "Hoje, sou normal. Percebi que não existe nada de bonito na magreza", admite.

Leia, a seguir, trechos de sua entrevista ao Folhateen.

Folha - Você parou de comer aos poucos ou de uma hora para a outra?
João - Foi bem gradativo. Eu tinha 1,70 m e pesava 62 kg quando iniciei um regime por conta própria. Aos poucos, fui diminuindo a quantidade de alimentos. Tentava consumir uma média de 1.200 calorias diárias. Só que, no início, contava 20 calorias para uma colher de arroz e, com o passar do tempo, contava 40 e, depois, 50. Assim, cada vez comia menos. Passei a restringir demais a minha alimentação. Eu olhava os valores nutricionais de tudo, pesquisava na internet e não colocava na boca nada que não soubesse quantas calorias tinha. Uma neura!

Folha - Você sentia desconforto com seu corpo antes do regime?
João - Não me achava gordo, só um pouco acima do peso.

Folha - O que você acha que detonou esse processo?
João - Não tem uma explicação lógica. Percebi que, diminuindo um pouco aqui e ali, eu emagrecia, e isso me dava motivação. Não me negava a comer, mas achava que tudo o que eu comia iria me engordar, que, se eu comesse um salgadinho, iria engordar 7 kg. E, ao me olhar no espelho, não me via tão magro como eu realmente estava.

Folha - Quando percebeu que estava com algum problema?
João - No Natal, vi parentes que não encontrava havia tempos. Eles estranharam minha magreza. Meus pais, que acompanharam o processo, não haviam percebido. Fui a uma farmácia com meu primo -que sempre achei magro- e nos pesamos. Ele, que é mais baixo do que eu, estava com 52 kg, e eu, com 43 kg. Percebi que estava magro demais. Algo estava errado.

Folha - Quanto chegou a pesar no pico da doença?
João - Já fiquei com 40 kg.

Folha - O que você sentia à época?
João - Tinha um humor muito ruim. Via todo mundo comendo e eu não. Só de eu olhar para a comida já me sentia saciado.

Folha - Você tinha vergonha de mostrar seu corpo?
João - Tinha e ainda tenho. Ainda estou bem magro. Hoje peso 45,6 kg. Evito mostrar o corpo.


Folha - Como foi seu tratamento?
João - Quando fui ao consultório do médico, foi um abalo. Ele fez uma avaliação e disse que talvez eu tivesse de ser internado. Minha pressão estava em 6 por 4 [a pressão considerada normal é 12 por 8". Meu corpo estava sem energia, e o coração começou a bater mais devagar. O sangue não chegava às extremidades. Tinha pés e mãos gelados. Não tinha ânimo para nada.


Folha - Você acha que foi influenciado pela estética da magreza pregada pela moda e pela publicidade?
João - Um pouco. A pressão do estereótipo da magreza me ajudou a querer ficar cada vez mais magro.

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