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05/02/2001 - 13h25

MAM expõe "país inventado" por Antonio Dias com 36 obras

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FABIO CYPRIANO
da Folha de S. Paulo

Se há um artista brasileiro que conseguiu concretizar as idéias da antropofagia de Oswald de Andrade, este é Antonio Dias. Nos mais de 40 anos de carreira, sempre atento às novas correntes internacionais, Dias transitou pelos movimentos pop, neoconcreto e das instalações dos anos 80, entre outros. De maneira particular, mesclando estes conceitos ao contexto brasileiro, Dias é dono de uma vasta e diversa obra.

"Tenho orgulho de ter obras tão diferentes, se conseguisse produzir apenas um tipo de arte, eu já teria me tornado criador de galinhas", disse Dias à Folha, na semana passada, enquanto montava sua exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM. E ainda brincou: "Mas pode ser também desvio de múltiplas personalidades".

A mostra "O País Inventado" chega à cidade nesta quinta, após já ter sido vista em Salvador e Curitiba, mas agora com um número maior de obras. São 36 trabalhos, que representam o percurso do artista desde 1965. A última escala prevista é o Rio, em maio.

Esse caráter de mostra itinerante tem tudo a ver com o percurso pessoal de Dias. "Sou nordestino, um povo que já é acostumado a se locomover para viver", diz.

Antonio Dias nasceu em Campina Grande, na Paraíba, em 1944. Na infância, viveu em várias cidades do sertão e da costa nordestina. Em 53 transferiu-se para o Rio e, com 21 anos, já recebia o prêmio da Bienal de Paris, que lhe concedeu uma bolsa de estudos de um ano na capital francesa.

"Fiquei seis meses esperando um passaporte, mas quando descobri que a demora ocorria porque o Dops não queria emiti-lo, comprei um no dia seguinte e embarquei para a França", lembra.

Por três anos viveu lá, mas, fotografado em uma manifestação na efervescente Paris de 68, acabou não tendo o visto de permanência renovado pela polícia.

Com isso, o artista transferiu-se para Milão. "Era um momento bastante propício, pois a cidade vivia uma euforia pelo contemporâneo." Até hoje Dias mantém lá uma residência.

É dessa época sua obra "Anywhere Is My Land" (Minha Terra é Qualquer Lugar), que está na mostra e assume o caráter nômade do artista. Também é desse ano a criação daquela que se tornou sua assinatura artística: uma forma em "L", com a imagem de um retângulo, no qual um dos cantos é recortado por um quadrado. "Eu queria criar uma distinção a priori, e fiz um cantinho que seria a minha parte, mas que também sugere a presença do outro."

Aliás, essa proposta de participação é, segundo Dias, uma das mais fortes características da arte brasileira. "Sempre falei sobre as obras de Hélio Oiticica e Lygia Clark na Europa, mas ninguém entendia; só agora eles percebem nossas idéias", afirma.

Assim também em suas obras, o enigma, que permite várias leituras, tornou-se uma marca registrada. Político, Dias não é panfletário em seu trabalho, e muitas vezes é apenas nos títulos de suas obras que as questões sociais tornam-se claras. A discriminação racial, em "Todas as Cores dos Homens", o drama latifundiário, em "Chico Mendes", ou o tema da guerra, em "KasaKosovoKasa" (96), são apenas alguns dos exemplos. Os títulos são sinalizações de como as obras podem ser lidas, mas, por outro lado, tornam-se de fato sugestões, já que seu trabalho não é ilustrativo.

Outra das características de sua obra, também marcante em outros brasileiros, é o uso da ironia. "Tudo que faço parte de algo extremamente emocional, mas vou filtrando para não deixar tão óbvio, e o resultado é um certo sarcasmo", diz. Esse recurso é patente especialmente em obras que têm a arte como tema. Desde "Faça Você Mesmo: Território Liberdade", de 68, até a série "A Ilustração da Arte", de 74.

Em 77, o artista faz uma viagem à Índia e ao Nepal, para estudar técnicas de produção artesanal em papel. "Interessava-me construir trabalhos cuja forma fosse determinante no processo de produção." Dessa época, está no MAM a obra "Niranjanirakhar".

Após a viagem pelo Oriente, em 78 retorna ao Brasil. Em João Pessoa, funda com Paulo Sérgio Duarte o Núcleo de Arte Contemporânea, na Universidade Federal da Paraíba. "O problema é que no Nordeste havia muita influência da política local."

Em 80 retorna à Milão, mesmo ano em que representa o Brasil na Bienal de Veneza. Já em 88, reside por um ano em Berlim, com uma bolsa do governo alemão. "Naquela época, Colônia tornou-se o centro da arte contemporânea, e para lá me mudei em 89."

Até hoje, Dias divide seu tempo entre o Brasil e a Alemanha. O artista participa da Liga de Artistas Alemães, mas, apesar de ter direito, não tem o passaporte germânico. Um dos brasileiros com mais destaque na cena internacional, é com sua arte que conquista seu espaço, um território claro, que pode ser conferido a partir desta semana em "O País Inventado".

Exposição: Antonio Dias - O País Inventado
Onde: Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM (parque Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5549-9688)
Quando: abertura na quinta, às 19h; ter., qua. e sex., das 12h às 18h; qui., das 12h às 22h, sáb. e dom., das 10 às 18h. Até 8/4
Quanto: R$ 5 (qui. após 17h e ter., entrada gratuita)
Patrocínio: Petrobras
 

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