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06/02/2001 - 03h50

Crítica: "Então você quer ser um rock'n'roll star?"

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da Folha de S.Paulo

Um apanhado que se faça do discurso fogoso de Carlinhos Brown o apanha como artista sob o signo da contradição. No ponto em que se encontra hoje, é músico e falador de extrema expressividade que tem parcialmente obstruídos os canais de comunicação, tanto com o grande público quanto com os ditos formadores de opinião.

Contraditório, beneficia-se de ser extremamente audacioso, encarando dificuldades, confusões e as próprias limitações de peito aberto, rei do Candeal.

A instabilidade também o atrapalha. É por isso que "Bahia do Mundo" (concebido como CD despretensioso que minimiza a aura de gênio "fake" que se colara a ele) foi atropelado antes de nascer pelo discurso moralista contra moralismos no Rock in Rio.

Não se pode por causa daquele desastre invalidar o passo adiante que é "Bahia do Mundo - Mito e Verdade" (título tão indefinido quanto o próprio artista). De bola mais baixa, Brown produz hoje momentos plenos de melancolia, como em "Lagoinha" e "Vai Rolar". Se seu discurso congregador de todas as coisas vale de fato, a alegria não precisa ser sempre a prova dos nove, como reza o mito baiano, e aquelas faixas o provam.

Da alegria, ele extrai musicalidade sem parar: acontece na marqueteira "Crendice" (produção de Memê, mago da eletrônica bem padronizada -e outro ponto de contradição, já que por Brown a eletrônica não seria brasileira), na sertaneja "Cavalo da Simpatia", nas melódicas e quase orientais "Cearabe" e "Shalom".

Clichês vão se seguindo. "Trabalhador de Carnaval" dá à Bahia o que a Bahia quer em fevereiro (março... abril...), a letra evocando talvez sem querer o "Trem das Onze" de Adoniran Barbosa; "Vilões Satisfeitos" embola letra confusa e lembrança do pop Paralamas "Lanterna dos Afogados" (89); "Mil Verões" parece Skank. A alegria é a prova dos nove.

Quem é Carlinhos Marrom, afinal? Difícil dizer, mas "Mess in the Freeway" (em inglês sofrível à moda do ídolo Jorge Ben) e a divertida "Horário de Verão" fazem do moço um Bob Marley brasileiro, simples assim. Pode chorar que o rap não é brasileiro, mas ele próprio é aí mais jamaicano (ou árabe à revelia, na comovente "Shalom") que baiano -o que é ótimo, se vale seu discurso contra a xenofobia. A cobra da contradição morde o rabo, e esse é Brown.

Das contradições todas sobra o cortante personalismo, que, se em "Bahia do Mundo" parece equalizado, nos festivais de verão tem estado à toda -e lhe tira a voz, por briga no Rio ou rouquidão em Salvador.

Lá da Bahia, sexta passada, provocou os inimigos cariocas, fazendo rock
pesado com big band de soul e com "Mosca na Sopa" (73), do conterrâneo desgarrado Raul Seixas. Faz lembrar versos dos roqueiros Byrds, que em 67 ironizavam: "Então você quer ser um astro do rock'n'roll?". Metáfora da crise do pop star, diz que prefere o "pop chão" agindo como legítimo "rock'n'roll star". Talvez por ciúmes de Axl Rose, mas vivo, muito vivo e sentindo o reggae balançar na barriga.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

Bahia do Mundo - Mito e Verdade
Artista:
Carlinhos Brown
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 25, em média
 

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