Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
16/02/2001 - 04h14

"O Tigre e o Dragão": O golpe implacável de Ang Lee

Publicidade

JORDAN RIEFE, da "Planet Syndication"

Desde que surgiu no cenário internacional com "O Banquete de Casamento", em 1994, Ang Lee é rotulado de "cineasta asiático". Depois disso, ele fez "Razão e Sensibilidade", indicado para o Oscar, o nada asiático "Tempestade de Gelo", que ganhou o prêmio de melhor roteiro em Cannes, e, no ano passado, "Cavalgada com o Diabo", uma história sobre exploradores no Missouri durante a Guerra Civil Americana. Nesta temporada, ele se lançou numa área que muitas pessoas supõem ser natural para ele: o filme sobre artes marciais. Ele nunca trabalhara no contexto histórico chinês, mas, apesar disso, com "O Tigre e o Dragão", conseguiu criar o que talvez seja o filme definitivo de artes marciais de Hong Kong.

Pergunta - Você já disse que esse filme é um "Razão e Sensibilidade" com artes marciais.
Ang Lee -
Foi como o descrevi quando tentávamos levantar dinheiro para o filme. "Razão e Sensibilidade" foi de longe o filme de maior sucesso comercial que já fiz, e os filmes de artes marciais são um gênero instigante, de modo que a descrição saiu naturalmente.
Venho fazendo filmes sobre razão e sensibilidade ao longo de minha carreira -obrigações sociais versus livre arbítrio pessoal-, e este não é exceção. Talvez seja esse o elemento que une meus filmes. Ele mostra o paradoxo da essência da vida, o yin e o yang. Num drama familiar há embates verbais; neste filme, são combates físicos.

Pergunta - Você fala em físico, mas torna-se quase metafísico.
Lee -
Eu queria um encontro cara a cara com as alegrias mais sagradas que tive desde a infância. Qualquer fantasia que eu já tenha tido sobre ação, poder, moralidade, romance, todas estão no filme. Mas eu tinha que encontrar uma desculpa para isso, e essa era a forma perfeita. É a abordagem metafórica e metafísica de um mundo abstrato de minha fantasia sobre relacionamentos e sobre a China. Quis pegar esse gênero, pegar a liberdade e torná-la emocionalmente relevante para a platéia, de maneira realista.

Folha - E as mulheres fortes?
Lee -
Essa é outra fantasia que tenho. Elas não se comportam como homens, são mulheres, você pega o ponto de vista delas e o leva para dar uma volta emocional pelo filme.

Muitas vezes, quando se pensa na fantasia masculina, especialmente nesse gênero, as mulheres ganham papéis grandes apenas para causar impressão e mostrar o quanto são fantásticas. Elas podem dominar os homens ou não, mas você as olha como um fenômeno, em lugar de compreendê-las com o coração e embarcar na viagem ao lado delas. É isso que é importante.

Pergunta - Como é filmar na China?
Lee -
O filme tinha bom apoio, mas a natureza da produção na China é difícil, muito menos organizada do que no cinema americano. Por um lado, é mais flexível. Deixando de lado as questões políticas, eu sou de Taiwan, a equipe é de Hong Kong e trabalhamos com cineastas chineses. De alguma maneira, aquela velha fantasia da China como o dragão oculto é uma regra cultural universal abstrata aplicada por todos.

Pergunta - As cenas de luta devem ter tomado muito tempo.
Lee -
Trabalhei com o melhor cara, Yuen He Ping, de quem sou fã desde a década de 70. A cada dez anos, mais ou menos, ele faz alguma coisa que revoluciona o setor, e todo mundo o copia.
Como muitos dos melhores, ele vem de um passado de ópera, mais do que de artes marciais. São esses os melhores coreógrafos.

Pergunta - Alguma vez você imaginou chegar ao nível de sucesso que já atingiu?
Lee -
Sim, acho que sim. Não existe distância entre a gente e uma fantasia -é um sonhar acordado. Às vezes sinto tudo isso como muito real, mas é claro que tenho uma concepção diferente do que é. Há muita realidade envolvida nessa fantasia.

Leia mais notícias sobre o Oscar 2001
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página