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16/02/2001 - 04h29

Velha-Guarda da Portela reencontra afilhado

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES, da Folha de S.Paulo

Cresce a participação de Paulinho da Viola, 58, na atual fase de retomada da Velha-Guarda da Portela. No show que os sambistas veteranos da escola carioca fazem hoje em São Paulo, o antes afilhado da velha-guarda cantará uma série de músicas com o grupo e ainda terá bloco próprio, de voz e violão.

Paulinho brinca com a possibilidade de estar, ele próprio, tornando-se "velha-guarda": "Estou há 36 anos na música popular. O termo é uma coisa carinhosa; se me chamarem de velha-guarda, acho ótimo. Mas olho ao redor e vejo outros mais antigos do que eu: não tenho autoridade ainda".

O último comentário não significa que ele aceite tomar "velha-guarda" por "decadência": "Na escola de samba, o da velha-guarda é aquele que precisa ser respeitado porque deu suporte ao que aconteceu e deixou um legado".

Ele continua: "Quando Noel Rosa morreu, eu nem havia nascido, mas ele me parece muito próximo. É como se todos estivessem em movimento, e não estáticos no passado. Não que eu não me preocupe com o aspecto formal ou não acredite em evolução da arte, mas a obra muitas vezes tem um peso que transcende tudo".

Paulinho foi responsável, aos 27 anos, pela constituição do grupo Velha-Guarda da Portela. Foi quando produziu o LP "Portela Passado de Glória" (70) -Marisa Monte, no ano passado, parece ter se inspirado nele ao revigorar os veteranos da Portela e produzir para eles o CD "Tudo Azul".

"Daquela época acho que não há mais ninguém, muitos já morreram. Monarco
já era próximo da velha-guarda, como eu, mas não era do grupo, embora um samba dele tenha dado origem ao nome do primeiro disco", lembra.

Monarco, 67, hoje um dos líderes do numeroso grupo, modifica a versão contada por Paulinho: "Da primeira formação, só sobramos eu e Armando.
Eu já estava lá, sim, estou na capa, e meu samba "Passado de Glória" deu nome ao disco. Só não participei da gravação porque estava trabalhando, e o patrão não me dispensou".

Monarco também parece aceitar a alcunha. "Candeia não gostava, falava comigo que "velha-guarda" era coisa de aposentado. Mas eu gostava deles, na linha do respeito, me alinhava muito com eles", explica.

"Preconceito sempre existiu. Sambista é como o próprio negro, que continua marginalizado no Brasil. Não tenho nada contra gênero musical de ninguém, mas o samba sempre foi perseguido."

Monarco ilustra a marginalização com uma historieta antiga: "Carlos Cachaça me contou que, uma vez, a polícia subiu o morro para tirar satisfação, porque ele fez um samba falando de Olavo Bilac e de Gonçalves Dias. Para eles, "marginal" não podia falar daqueles vultos".

Falando do show de hoje, volta a puxar pela memória: "Vamos homenagear Paulo da Portela, que faria 100 anos se estivesse vivo, cantando "Cidade Mulher'", diz, referindo-se ao patrono da Portela, morto em 1949.

"Ele fez esse samba para agradecer as autoridades pela oficialização dos desfiles de Carnaval, em 1935. Cantou na porta da Câmara. Paulo ajudou muito o samba, não só a Portela. Botava gravata e procurava civilizar o sambista para mostrar que não era um marginal. Tanto é que, em seu enterro, veio gente de toda escola para levá-lo à última morada."

Um dos ritmos do samba -a falta de pressa-, tanto Paulinho quanto Monarco evocam ao falar de seus próximos trabalhos solo.

Diz Monarco: "Estou esperando uma oportunidade para fazer algo a sério. Não quero gravar só por gravar".

Fala Paulinho: "Estou animado, pretendo fazer um disco neste ano". Já começou? "Já comecei a sentir vontade de fazer", ri.

Hoje é noite deles, das pastoras, dos ritmistas, da Portela.

Show: Velha-Guarda da Portela e Paulinho da Viola
Onde: Credicard Hall (av. das Nações Unidas, 17.955, tel. 0/x/11/3177-3663)
Quando: hoje, às 22h
Quanto: de R$ 15 a R$ 40
 

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