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20/02/2001
-
04h50
AMIR LABAKI, da Folha de S.Paulo
Moritz de Hadeln não teria se despedido ontem da direção da Berlinale caso tivesse apresentado na edição do cinquentenário em 2000 o bom nível médio do evento deste ano. A competição manteve um patamar aceitável, porém com raros picos.
Faltaram estrelas (Sean Connery, Juliette Binoche e o homenageado Kirk Douglas foram as principais exceções), mas público e profissionais lotaram o tempo todo a nova sede em torno da Marlene-Dietrich Platz, na antiga Berlim socialista.
"Intimacy" (Intimidade), o primeiro filme em língua inglesa do francês Patrice Chéreau, levou com todos os méritos o último Urso de Ouro da era Hadeln. É um drama romântico a um só tempo terno e visceral, baseado num romance e num conto do escritor britânico Hanif Kureishi.
Um gerente de bar (Mark Rylance) e uma atriz de teatro de bairro (Kerry Fox) iniciam um caso exclusivamente sexual, com encontros regulares às quartas-feiras. Logo saberemos que há tempos ele abandonou mulher e dois filhos, enquanto ela mantém um casamento em banho-maria com um taxista.
São 30 minutos de sexo muitas vezes explícito seguidos por hora e meia de mergulho na desordem amorosa. Há em "Intimacy" algo de "O Último Tango em Paris". A comparação honra a ambos.
Rylance e Fox têm desempenhos extraordinários e poderiam ambos ter saído premiados. O júri preferiu contudo celebrar apenas o trabalho dela, destinando o prêmio de melhor ator ao eficiente Benício del Toro de "Traffic". O tempo fará justiça a Rylance.
O cinema asiático brilhou menos na mostra competitiva do que em anos anteriores, mas acabou conquistando um duplo reconhecimento. Ambos destacam o aparecimento de novos talentos.
Wang Xiao-shuai levou o Grande Prêmio do Júri ao celebrar a herança neo-realista com o sensível "Beijing Bicycles" (Bicicletas de Pequim).
Por sua vez, Ling Chin-sen, de Taiwan, ficou com o prêmio de direção por "Betelnut Beauty", um simpático retrato de um amor entre "outsiders" na presente Taipé.
Outro Urso de Prata foi merecidamente atribuído a "Italiensk for Begyndere" (Italiano para Iniciantes), da dinamarquesa Lone Scherfig. Oxigenando as produções do Dogma 95, Scherfig realizou a primeira verdadeira comédia do movimento, a partir dos encontros e desencontros de solitários da periferia de Copenhagen. Campeão das premiações paralelas, incluindo a da crítica, foi de longe o concorrente mais popular deste ano. Não surpreende que tenha batido longe nas bilheterias dinamarquesas os episódios iniciais do movimento triunfal de sua despretensão, ironia e delicadeza.
Embora fora da disputa principal, a produção brasileira saiu-se muito bem. O curta gaúcho "O Branco", de Liliana Sulzbach e Angela Pires, recebeu uma menção especial do júri do Festival de Cinema Infantil. É um lírico estudo do cotidiano de um garoto cego em Porto Alegre.
No ciclo paralelo Panorama, tanto "Latitude Zero", de Toni Venturi, quanto "Memórias Póstumas", de André Klotzel, estrearam com sessões totalmente lotadas e colheram fortes aplausos e elogiosas discussões.
Foi o lançamento internacional do tenso drama de Venturi e a première mundial da divertida versão de Klotzel para o clássico de Machado de Assis. Também foi bem recebido o curta experimental "Palíndromo", de Philippe Barcinski, que mostra de trás para frente, literalmente, o trágico dia de um executivo na avenida Paulista.
Berlim 2002 assistirá a uma dupla troca de direção. Dieter Kosslick assume a Berlinale em março próximo, vindo do apoio regional à produção alemã, enquanto Christoph Terhechte sucede Ulrich Gregor à frente do Fórum Internacional do Jovem Cinema. O primeiro é um nome de ruptura, o segundo, de continuidade. Demorou, mas a radical reconstrução berlinense chegou também ao festival.
Radical reconstrução berlinense finalmente chega à mostra
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Moritz de Hadeln não teria se despedido ontem da direção da Berlinale caso tivesse apresentado na edição do cinquentenário em 2000 o bom nível médio do evento deste ano. A competição manteve um patamar aceitável, porém com raros picos.
Faltaram estrelas (Sean Connery, Juliette Binoche e o homenageado Kirk Douglas foram as principais exceções), mas público e profissionais lotaram o tempo todo a nova sede em torno da Marlene-Dietrich Platz, na antiga Berlim socialista.
"Intimacy" (Intimidade), o primeiro filme em língua inglesa do francês Patrice Chéreau, levou com todos os méritos o último Urso de Ouro da era Hadeln. É um drama romântico a um só tempo terno e visceral, baseado num romance e num conto do escritor britânico Hanif Kureishi.
Um gerente de bar (Mark Rylance) e uma atriz de teatro de bairro (Kerry Fox) iniciam um caso exclusivamente sexual, com encontros regulares às quartas-feiras. Logo saberemos que há tempos ele abandonou mulher e dois filhos, enquanto ela mantém um casamento em banho-maria com um taxista.
São 30 minutos de sexo muitas vezes explícito seguidos por hora e meia de mergulho na desordem amorosa. Há em "Intimacy" algo de "O Último Tango em Paris". A comparação honra a ambos.
Rylance e Fox têm desempenhos extraordinários e poderiam ambos ter saído premiados. O júri preferiu contudo celebrar apenas o trabalho dela, destinando o prêmio de melhor ator ao eficiente Benício del Toro de "Traffic". O tempo fará justiça a Rylance.
O cinema asiático brilhou menos na mostra competitiva do que em anos anteriores, mas acabou conquistando um duplo reconhecimento. Ambos destacam o aparecimento de novos talentos.
Wang Xiao-shuai levou o Grande Prêmio do Júri ao celebrar a herança neo-realista com o sensível "Beijing Bicycles" (Bicicletas de Pequim).
Por sua vez, Ling Chin-sen, de Taiwan, ficou com o prêmio de direção por "Betelnut Beauty", um simpático retrato de um amor entre "outsiders" na presente Taipé.
Outro Urso de Prata foi merecidamente atribuído a "Italiensk for Begyndere" (Italiano para Iniciantes), da dinamarquesa Lone Scherfig. Oxigenando as produções do Dogma 95, Scherfig realizou a primeira verdadeira comédia do movimento, a partir dos encontros e desencontros de solitários da periferia de Copenhagen. Campeão das premiações paralelas, incluindo a da crítica, foi de longe o concorrente mais popular deste ano. Não surpreende que tenha batido longe nas bilheterias dinamarquesas os episódios iniciais do movimento triunfal de sua despretensão, ironia e delicadeza.
Embora fora da disputa principal, a produção brasileira saiu-se muito bem. O curta gaúcho "O Branco", de Liliana Sulzbach e Angela Pires, recebeu uma menção especial do júri do Festival de Cinema Infantil. É um lírico estudo do cotidiano de um garoto cego em Porto Alegre.
No ciclo paralelo Panorama, tanto "Latitude Zero", de Toni Venturi, quanto "Memórias Póstumas", de André Klotzel, estrearam com sessões totalmente lotadas e colheram fortes aplausos e elogiosas discussões.
Foi o lançamento internacional do tenso drama de Venturi e a première mundial da divertida versão de Klotzel para o clássico de Machado de Assis. Também foi bem recebido o curta experimental "Palíndromo", de Philippe Barcinski, que mostra de trás para frente, literalmente, o trágico dia de um executivo na avenida Paulista.
Berlim 2002 assistirá a uma dupla troca de direção. Dieter Kosslick assume a Berlinale em março próximo, vindo do apoio regional à produção alemã, enquanto Christoph Terhechte sucede Ulrich Gregor à frente do Fórum Internacional do Jovem Cinema. O primeiro é um nome de ruptura, o segundo, de continuidade. Demorou, mas a radical reconstrução berlinense chegou também ao festival.
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