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26/02/2001 - 04h16

Música ganha dicionário com 10 mil verbetes

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IRINEU FRANCO PERPETUO, especial para a Folha

Vai ter 340 termos relacionados à técnica de arco dos instrumentos de cordas de uma orquestra sinfônica, mas também 15 nomes para berimbau e 120 para danças do fandango. Estarão representados ainda o hip hop, que verbaliza a revolta política da periferia de São Paulo, e o funk, que anima os bailes do Rio, entre muitos outros gêneros.

É com essa perspectiva democrática e abrangente que Henrique Autran Dourado, 47, elaborou seu "Dicionário de Termos e Expressões da Música" (título provisório), a ser lançado no ano que vem pela Jorge Zahar.

Contrabaixista, professor do Departamento de Música da ECA/USP, ex-diretor da Escola Municipal da Música e autor de diversos livros, Dourado levou cerca de um ano e meio para compilar os 10 mil verbetes de seu dicionário. Embora ainda não estejam na forma definitiva, o autor concordou em divulgar alguns para a Folha (leia quadro ao lado). "A idéia foi dada por meu pai (o escritor Autran Dourado, vencedor do último Prêmio Camões), após ler meu último livro, "Pequena Estória da Música'", explica.

Lançada em 99 pela Irmãos Vitale, a obra termina com um "Glossário Interessantíssimo", no qual Dourado explica, de forma bem-humorada, alguns termos musicais, como "coda", "microtom" e "trítono".

"Meu pai sugeriu que eu ampliasse o "Glossário" e o transformasse em um
pequeno dicionário", conta. "Mas esse trabalho é como um buraco: quanto mais você cava, mais fundo fica."

E, de pequeno, o dicionário não teve nada. Dourado começou sua pesquisa pelas principais obras de referência, como o "Dicionário Musical Brasileiro", de Mário de Andrade, e o britânico "Dicionário Grove de Música" (uma espécie de "bíblia" do meio musical).

Foi a Internet, contudo, o veículo que permitiu à obra ter a pluralidade desejada pelo autor. "Fiz uma verdadeira "pesquisa de campo" na rede. Achei sites de ciganos, de umbandistas e me correspondi com um "chorão" carioca pelo ICQ (sistema de comunicação instantânea)."

Embora tenha elaborado o dicionário sozinho, Autran constituiu, dessa forma, uma rede de colaboradores virtuais. "Achei gente da Jamaica para me ajudar com termos de reggae; músicos indianos; e pessoas especializadas na música "klezmer" judaica. Alguns DJs nova-iorquinos me explicaram estilos como "acid house" e "drum'n'bass"."

Tal ecletismo pode chocar os puristas, mas é, para o autor, a força do dicionário. "O conceito é o seguinte: diga uma palavra em música e lá você vai achar. Preferi abrir o leque, mesmo às custas de perder profundidade e ter de encurtar os verbetes."

Uma diferença importante entre o dicionário de Dourado e obras como o "Grove" é que o volume do escritor mineiro não vai conter nem biografias de compositores e intérpretes, nem nomes de obras.
Vocabulário técnico, jargão e gíria constituem o cerne do dicionário.

Nomes de musicistas, contudo, devem aparecer nos verbetes relacionados a seu instrumentos. "Quando eu falo de violino, por exemplo, além de mencionar os grandes intérpretes da história, como Joachim e Heifetz, faço questão de incluir nomes importantes para o instrumento no Brasil, como Cláudio Cruz, Cecília Guida, Aylton Pinto etc.."

Esse enfoque nacional é um diferencial buscado pelo autor. "O "Grove" é a principal obra de referência. Quem sou eu para concorrer com ele ou com os dicionários internacionais?", pergunta.
 

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