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27/02/2001 - 05h06

CD traz jovens amantes do arcaico e bons poetas

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da Folha de S.Paulo

Talvez seja inevitável ligar o Cordel do Fogo Encantado à grife "mangue beat", que tem abarcado tudo que vem de Pernambuco. Mas já não é o caso, aqui não há mangue beat.

A presença na produção de Naná Vasconcelos, músico velha-guarda da geração dos anos 60, já indica que não se está em terreno de convulsão estética.

A proposta modernizadora do grupo interiorano (de Arcoverde, a 252 km de Recife) reside em registrar da forma mais técnica e precisa (e ao mesmo tempo calorosa, o que soa como contradição no sistema fonográfico) manifestações, digamos, tradicionais.

O que acontece é que o Cordel é constituído por jovens muito jovens que são amantes dos arcaicos coco, reisado e ritos indígenas, exímios percussionistas e, surpresa, poetas de primeira.

Há muito tradicionalismo -"Os Oim do Meu Amor", roubada dos emboladeiros de Arcoverde, concorre a momento mais nobre do disco-, mas é das composições próprias, sempre com o jovem Lirinha à frente, que sai muito do impacto do Cordel.

Em mais de uma passagem, suas músicas evocam o pop corajoso, tipo "Pavão Mysteriozo" (74), do cearense Ednardo. Acontece provavelmente porque ambos compartilham a fascinação pela literatura de cordel.

Lá no final, Lirinha declama os versos sertanejos que um tal Zé da Luz compôs, no início do século passado, quando lhe disseram que para falar de amor o português devia ser correto:

"Se um dia nós se gostasse/ se um dia nós se queresse/ se nós dois se empareasse/ se juntim nós dois vivesse/ se juntim nós dois morasse/ se juntim nós dois drumisse/ se juntim nós dois morresse/ se pro céu nós assubisse/ mas porém se acontecesse/ se São Pedro não abrisse/ a porta do céu e fosse/ te dizer qualquer tolice/ e se eu me arriminasse/ e tu com eu insistisse/ pra que eu me arresolvesse/ e a minha faca puxasse/ e o bucho do céu furasse/ tarvez que nós dois ficasse/ tarvez que nós dois caísse/ e o céu furado arriasse/ e as virge toda fugisse".

É a alma em pano de cordel do Fogo Encantado se desnudando, sem elogio irracionalista à ignorância (alô, Carlinhos Brown). É poesia, só, o assunto do grupo.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

Cordel do Fogo Encantado
Lançamento:
independente (tel. 0/xx/ 81-3461-1094)
Quanto: R$ 25, em média
 

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