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02/03/2001 - 03h43

Cantor francês é homenageado com lançamento de caixa com 18 CDs

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SYLVIA COLOMBO, da Folha de S.Paulo

No dia 11 de março de 1984, o cantor Serge Gainsbourg foi à emissora de TV francesa TF1 para uma entrevista. Os jornalistas perguntaram: "Como um dos artistas mais bem pagos da França vê os problemas econômicos e sociais do país?". Gainsbourg tirou o isqueiro do bolso. Na outra mão, uma nota de 500 francos -a de maior valor-, e começou a queimá-la. O fogo devorou três quartos da cédula, enquanto Gainsbourg criticava os impostos que consumiam o dinheiro de cidadãos como ele. "Isso não vai para os pobres, vai para as pesquisas nucleares", disse.

O episódio chocou a sociedade francesa e ganhou espaço na mídia, mas essa não foi a primeira vez, e também não seria a última.
Hoje se completam exatos dez anos da morte do cantor Serge Gainsbourg, provocador de escândalos e autor de belíssimas e obscenas canções de amor.

O aniversário da morte do autor do hit erótico "Je T'Aime Moi Non Plus" (1969), música condenada pelo Vaticano -e proibida no Brasil pelo regime militar- por evocar, entre versos e gemidos, um ato sexual, está sendo lembrado com o lançamento na França de uma caixa com 18 CDs (leia texto ao lado). A gravadora Mercury também prepara a edição, no final do mês, de um álbum de remixes com versões trip hop e house de suas canções.

Em entrevista à Folha, Gilles Verlant, autor da biografia "Gainsbourg" (ed. Albin Michel), relançada recentemente, disse que o cantor não acreditava na fama póstuma. "Ele tinha a dimensão da importância de sua obra, mas dizia que a posteridade de nada lhe serviria."

Ginzburg
O verdadeiro nome deste homem, que aparece sempre envolto em fumaça de cigarro, de olhar malicioso, narigudo, despenteado e de orelhas que dizia serem "como as do Mickey", era Lucien Ginzburg. Nascido em Paris em 1928, judeu, filho de pais russos que fugiram do governo comunista da então União Soviética, Lucien cresceu ouvindo seu pai ao piano interpretando Bach, Scarlatti e Chopin, entre outros.

"Sua opção pela música popular foi uma tentativa de se opor à erudição do ambiente familiar. Primeiro, como cantor de cabaré, ia aos bares no meio da noite, interpretava algumas canções e desaparecia", diz Verlant.

Gainsbourg
Então Lucien Ginzburg mudou seu nome para Serge Gainsbourg. "O rapaz tímido queria ser sedutor e criou um personagem, que é o Gainsbourg que conhecemos até hoje", diz Verlant.

A França da contracultura dos anos 60 era o cenário ideal para suas composições libertinas e sua atitude sexy e misógina, que às vezes dava lugar ao romantismo, noutras, ao machismo.

Em 1967, gravou a primeira versão de "Je T'Aime Moi Non Plus", com Brigitte Bardot. Assustada com o escândalo que se anunciava, a atriz pediu que a música não fosse lançada. Gainsbourg respeitou-a, mas, dois anos depois, regravou a canção, desta vez com a mulher, a atriz Jane Birkin.

As composições de Gainsbourg eram inovadoras, experimentais e passeavam pelo reggae, funk, ritmos latinos e o rock, gênero pelo qual se apaixonou ao conhecer a "swinging London".

Gainsbourg foi original também na interpretação, falando por cima da melodia, como um rapper romântico e sonolento.

Em 1979, Gainsbourg foi à Jamaica e gravou "Aux Armes et Caetera", versão reggae para a "Marselhesa". Outro escândalo.

Nos anos 80, quando a filha Charlotte tinha 14 anos, Gainsbourg gravou com ela "Lemon Incest". A interpretação sensual e o clipe que os mostrava sobre uma cama sugeriam o incesto. Mais um escândalo, ainda que Serge cantasse: "O amor que nós nunca faremos juntos".

Gainsbarre
Foi também no começo dos anos 80 que Gainsbourg gravou a canção "Ecce Homo". Na ocasião, criou um novo personagem: Gainsbarre. Dizia que era a parte vil de seu caráter.

"Gainsbarre era o seu lado negro, como se tivesse decidido brincar de dr. Jeckyll e mr. Hyde", conta Verlant.

Foi Gainsbarre quem queimou dinheiro francês na TV, enquanto Gainsbourg escreveu músicas eróticas de tom quase religioso. Com seus dois personagens, o tímido Lucien Ginzburg inscreveu sua dupla contribuição ao pop.
 

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