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18/03/2001 - 03h45

Globo tem setor de "caça" a atores

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CRISTIAN KLEIN, da Folha de S.Paulo, no Rio

Até meados dos anos 80, quando um ator queria emprego na Globo corria para os banheiros da emissora. Era ali que candidatos desesperados por uma chance na campeã do Ibope assediavam diretores e produtores. O "jeitinho" tentava burlar as longas filas que se formavam na emissora, sempre que o elenco de uma novela estava em aberto.

Hoje, o sonho de ser um ator famoso, no Brasil, ainda frequenta o mesmo endereço, no bairro do Jardim Botânico, no Rio. Mas, desde 1986, quando o diretor Daniel Filho criou a Divisão de Recursos Artísticos da Globo, o caminho das pedras passa longe dos banheiros.

A peregrinação continua a mesma. Cerca de 80 candidatos se dirigem ao departamento, em média, todo mês. O processo de seleção, porém, é mais racional e tenta diminuir a chance de privilégios e acasos. Um cadastro de atores com mais de 8.000 nomes é uma das fontes que alimentam a máquina geradora de novos rostos, novos corpos e novos talentos.

Para fazer parte desse cadastro, nada de enviar currículo. O aspirante deve ir pessoalmente ao departamento, das 11h às 13h, somente às terças-feiras. Há uma entrevista, e, se houver interesse, a emissora inclui o pretendente no cadastro e o chama para um teste de vídeo.

"Ninguém procura um hospital para se tornar um médico. Faz faculdade primeiro. Por isso, o perfil que procuramos é de pessoas que já tenham formação e possuam o registro de ator", diz Ana Margarida Leitão, coordenadora de pesquisa e produção de elenco, responsável pelo processo de seleção dentro da Divisão de Recursos Artísticos da Globo.

Ana Margarida critica o mito e o sonho de ser ator da Globo. "É uma deformação de visão. Muita gente quer ser ator e nunca foi ao teatro. É mais uma questão narcisista do que uma escolha profissional."

A coordenadora já cansou de responder a cartas de adolescentes querendo um lugar na emissora. O retorno nem sempre é animador, e os sonhadores são confrontados com perguntas do tipo: "Será que você quer ser mesmo ator?".

"Não posso ter pena de alguém só porque veio do Amapá. A Globo não é, necessariamente, a porta de entrada na carreira. Por que não começar com um grupo de teatro?", diz Ana Margarida.

Para os menores de idade, os pré-requisitos não são tão rígidos. O registro profissional não é obrigatório, e nem a experiência teatral é tão necessária. A atriz Aisha Jambo, 15, por exemplo, só havia participado de uma peça de teatro, na qual não interpretava. Fazia acrobacias durante o espetáculo.

Há um ano ela fez um teste para a novela "Laços de Família". Não passou. Mas acabou sendo aproveitada para "Malhação", um dos programas que mais absorvem elenco na emissora. "Nunca pensei em ser atriz da Globo. Isso não é o mais importante. Nem sei se vou seguir carreira", diz Aisha, que fez comerciais, clipes e uma performance de dança de rua no filme "Xuxa Requebra".

Em "Malhação", Aisha começou no elenco de apoio ganhando R$ 600. No entanto, sua personagem, Naomi, cresceu na trama, e hoje o salário subiu para R$ 1.000. Quando não está gravando ou estudando, Aisha tem aulas de música (violão, violino, piano e flauta), acrobacia, natação, inglês e dança.

Aptidões extras, como essas, são bem-vindas. "É difícil um cara com muitas habilidades ser ruim. O currículo do ator precisa deixar o diretor com água na boca", diz Ana Margarida.

Caça
Mas o fluxo na escolha de atores também corre na direção contrária. A Globo vai atrás de talentos pelo Brasil afora. Seus pesquisadores viajam para outras cidades, onde visitam escolas de teatro. As atrizes Priscila Fantin ("Malhação") e Débora Falabella ("Um Anjo Caiu do Céu"), por exemplo, foram "descobertas" em Belo Horizonte.

A produtora de elenco Ciça Castelo, de "Malhação", afirma que não existe mais na Globo a preferência apenas por atrizes e atores bonitinhos. "Já abrimos mão de um ator com beleza perfeita, um boneco, e optamos por um bonito com peso de ator", diz a produtora.

Para Antônio Carvalho, coordenador das oficinas de atores da Globo, a beleza física não é essencial nem secundária. "Mesmo que um ator não seja tão talentoso, o processo, a vivência na televisão o torna bom", afirma Carvalho, ressaltando que a pessoa deve ter carisma e uma visão de mundo original, que possa prender a atenção do espectador.

As oficinas de atores da Globo não são voltadas para quem quer entrar na emissora. Elas funcionam como uma espécie de "tropa de elite", da qual participam atores já contratados, selecionados para um aperfeiçoamento profissional, recebendo aulas de voz, expressão corporal, dança, mitologia e palestras.
 

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