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08/02/2001
-
13h33
da Folha de S.Paulo
Se você não for assistir a mais nada neste ano no cinema, dê um jeito de ver pelo menos "Traffic", do diretor Steven Soderbergh, um dos favoritos ao Oscar 2001.
O Festival de Berlim exibe hoje o filme, que está em cartaz nos EUA e deve estrear no Brasil ainda neste semestre. É incrível. Nenhuma outra obra retratou tão bem a hipócrita e talvez inútil cruzada antidrogas mundial liderada pelo governo norte-americano.
O tema, que nas mãos de um diretor menos talentoso poderia virar panfletário qualquer que fosse a pegada (pró ou contra), se torna uma envolvente história humana com Soderbergh, o mesmo que fez "Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento".
São três histórias que em algum momento se encontram, como nos melhores momentos de Robert Altman. Todas ricas em personagens, cada um tão bem apresentado e colocado que poderia estar liderando um filme só seu.
Cada uma foi diferenciada na tela por uma cor predominante na hora de filmar. Assim, é azul a vida do novo czar da repressão às drogas de Washington (Michael Douglas), cuja filha é viciada.
Ganha tons avermelhados a reviravolta sofrida pela típica dona-de-casa (Catherine Zeta-Jones) que nem desconfia que o bem-sucedido marido é o chefão local do narcotráfico até sua prisão numa emboscada.
E amarela é a realidade do policial mexicano da fronteira com os EUA (Benicio del Toro), que tem de decidir diariamente se se entrega à corrupção ou continua lutando uma batalha perdida.
Michael Douglas é Michael Douglas, com tudo de bom e ruim que há nesta frase, mas é o resto do elenco que brilha. Zeta-Jones, sua mulher na vida real, está ótima como a lady Macbeth grávida que quer manter seu status custe o que custar.
Os novatos Erika Christensen e Topher Grace (irreconhecível para quem só se lembra dele como o Eric do seriado "That '70s Show"), alter egos do roteirista, são os responsáveis pelas cenas mais perturbadoras.
Mas o filme é mesmo de Benicio del Toro, injustamente indicado aos prêmios como coadjuvante (o critério para o principal ser Michael Douglas só pode ser o salário). Seu policial dividido entre abraçar a corrupção e se dar bem ou entregar os traficantes e dormir tranquilo é comovente.
Em entrevista na segunda ao "The New York Times", Stephen Gaghan, o roteirista, admitiu que grande parte do filme é autobiográfica. "Perguntavam de onde vinham as histórias, e eu respondia em código", disse. "E parte do processo de se curar da dependência é dizer a verdade."
Diz o roteirista, que levou o Globo de Ouro deste ano: "Num fim-de-semana, meus três traficantes de heroína foram presos. Foi quando eu bati a cabeça na parede, fiquei cinco dias trancado no banheiro e falei: 'Chega!'".
"Traffic" é uma co-produção entre Alemanha e EUA e foi bancada por um canal de TV paga, o USA Filmes. Não consigo pensar em dinheiro mais bem empregado. Fica a inspiração para as emissoras locais.
Quando 'Traffic' estrear, não perca de jeito nenhum
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Se você não for assistir a mais nada neste ano no cinema, dê um jeito de ver pelo menos "Traffic", do diretor Steven Soderbergh, um dos favoritos ao Oscar 2001.
O Festival de Berlim exibe hoje o filme, que está em cartaz nos EUA e deve estrear no Brasil ainda neste semestre. É incrível. Nenhuma outra obra retratou tão bem a hipócrita e talvez inútil cruzada antidrogas mundial liderada pelo governo norte-americano.
O tema, que nas mãos de um diretor menos talentoso poderia virar panfletário qualquer que fosse a pegada (pró ou contra), se torna uma envolvente história humana com Soderbergh, o mesmo que fez "Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento".
São três histórias que em algum momento se encontram, como nos melhores momentos de Robert Altman. Todas ricas em personagens, cada um tão bem apresentado e colocado que poderia estar liderando um filme só seu.
Cada uma foi diferenciada na tela por uma cor predominante na hora de filmar. Assim, é azul a vida do novo czar da repressão às drogas de Washington (Michael Douglas), cuja filha é viciada.
Ganha tons avermelhados a reviravolta sofrida pela típica dona-de-casa (Catherine Zeta-Jones) que nem desconfia que o bem-sucedido marido é o chefão local do narcotráfico até sua prisão numa emboscada.
E amarela é a realidade do policial mexicano da fronteira com os EUA (Benicio del Toro), que tem de decidir diariamente se se entrega à corrupção ou continua lutando uma batalha perdida.
Michael Douglas é Michael Douglas, com tudo de bom e ruim que há nesta frase, mas é o resto do elenco que brilha. Zeta-Jones, sua mulher na vida real, está ótima como a lady Macbeth grávida que quer manter seu status custe o que custar.
Os novatos Erika Christensen e Topher Grace (irreconhecível para quem só se lembra dele como o Eric do seriado "That '70s Show"), alter egos do roteirista, são os responsáveis pelas cenas mais perturbadoras.
Mas o filme é mesmo de Benicio del Toro, injustamente indicado aos prêmios como coadjuvante (o critério para o principal ser Michael Douglas só pode ser o salário). Seu policial dividido entre abraçar a corrupção e se dar bem ou entregar os traficantes e dormir tranquilo é comovente.
Em entrevista na segunda ao "The New York Times", Stephen Gaghan, o roteirista, admitiu que grande parte do filme é autobiográfica. "Perguntavam de onde vinham as histórias, e eu respondia em código", disse. "E parte do processo de se curar da dependência é dizer a verdade."
Diz o roteirista, que levou o Globo de Ouro deste ano: "Num fim-de-semana, meus três traficantes de heroína foram presos. Foi quando eu bati a cabeça na parede, fiquei cinco dias trancado no banheiro e falei: 'Chega!'".
"Traffic" é uma co-produção entre Alemanha e EUA e foi bancada por um canal de TV paga, o USA Filmes. Não consigo pensar em dinheiro mais bem empregado. Fica a inspiração para as emissoras locais.
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