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21/07/2000 - 20h31

'O Patriota' conta Guerra da Independência como fábula infantil

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da Folha de S.Paulo

Um ex-guerreiro, célebre pela competência e impiedade, torna-se um fazendeiro pacífico, viúvo e pai de vários filhos, até que, em 1776, se vê forçado a voltar ao campo de batalha na tentativa de proteger o filho Gabriel, que se havia engajado.

Este ponto de partida de "O Patriota'' conviria como uma luva a um Clint Eastwood (no mais, parece dever muito a "Os Imperdoáveis''). Quis o destino que acabasse com Roland Emmerich, realizador que tem feito carreira no ramo dos filmes patrióticos.

Ou seja, é melhor renunciar, antes que a projeção comece, a qualquer pretensão de ver um espetáculo à altura do evento que o motiva. A concessão e os apelos sentimentais serão frequentes: "O Patriota'' existe para agradar.

Basta observar os primeiros planos dos diversos personagens secundários. Quando alguém pronuncia uma frase de efeito, automaticamente o filme salta para um primeiro plano. Se um mocinho diz algo heróico, vemos uma mocinha ostentando uma expressão de incontida admiração. Etc. É quase impossível ver "O Patriota'' sem lembrar das famosas experiências de Pavlov com seus cães: o filme é uma clicheria.

Dito isso, estamos longe da paranóia espacial de "Independence Day'', por exemplo. Quando Mel Gibson, aliás Benjamin Martin, decide voltar aos campos de batalha, o que está em jogo é a Guerra da Independência dos EUA, talvez o acontecimento político mais importante do século 18, ao lado de Revolução Francesa.

Ainda que Emmerich reduza essa epopéia a um misto de sanguinolência e fábula infantil, resta ali a relevância do fato propriamente dito. E mesmo que os personagens sejam reduzidos a sua expressão mínima, algo de tocante e de humano permanece intacto.

Estamos diante de uma versão dessa guerra adaptada sobretudo ao gosto infantil (de certo ponto de vista, as crianças são os verdadeiros protagonistas da trama), onde massacres atrozes são misturados a cenas sentimentais, de modo a provocar um equilíbrio capaz de não afugentar o público mais sensível (nesse particular, o papel da música melosa de John Williams não é pequeno).

À parte isso, "O Patriota'' é um filme com uma única idéia de direção, mas ela é boa e se mostra logo nas primeiras cenas.

Ali, Ben exercita seus precários dotes de marceneiro na inútil tentativa de fabricar uma cadeira de balanço que se aguente por mais de cinco segundos.

Trata-se de uma bela observação sobre este homem, ex-temível guerreiro, que hoje procura encontrar seu equilíbrio na confecção de um objeto que, de certo modo, sintetiza seu ideal de segurança tranquila, mas ao mesmo tempo denuncia o quanto ele pode ser frágil (passemos pelo primeiro plano em que a filha menor o recrimina quando Ben, irado, arrebenta os restos de uma cadeira _ é o prefácio de uma série de primeiros planos idiotas).

À parte isso, é preciso dar crédito ao roteiro de Robert Rodat, que consegue construir um bom vilão, na pessoa de Tavington (Jason Isaacs), coronel britânico, o que ajuda a manter o interesse pelo desfecho da trama.

E ainda que a presença de um francês, o major Jean Villeneuve (Tcheky Karyo), tenha basicamente a função de agradar a um mercado que resiste bravamente à invasão do filme americano.

Vale a resistência, já que um terno abraço selará a amizade entre Ben e Jean, com este último pronunciando a frase que define o filme como uma patriotada intercontinental: "Viva a liberdade''.

Ainda que a independência americana deva muito a idéias desenvolvidas na França do século 18, não é menos verdade que a Revolução Francesa aconteceria apenas em 1889 e que, se a França monárquica alinhava-se ao lado dos EUA, não era propriamente por ser uma defensora intransigente da liberdade.

Por fim, "O Patriota" pode criar a falsa idéia de que, tivesse Mel Gibson entrado antes na guerra, ela seria mais rápida e branda. Na ótica do filme, isso conta pouco: o que se impõe aqui é da ordem da fábula infantil.
 

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