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23/03/2001 - 15h47

Comentário: "Homens de Honra" escorrega na emoção fácil

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da Reuters, em São Paulo

Cuba Gooding Jr. chegou a levar uma estatueta de melhor ator coadjuvante pelo papel do jogador de futebol norte-americano Rod Tidwell no filme "Jerry Maguire - A Grande Virada". É uma pena que ele tenha embarcado em furadas depois, como no papel do primeiro afro-americano da história da Marinha dos EUA a conquistar a medalha Master Diver em "Homens de Honra", que estréia nesta sexta-feira trazendo ainda o ator Robert De Niro na pele de um carrasco.

Se a comunidade gay e a grande maioria do público viu conservadorismo no trato da questão da Aids em "Filadélfia", estrelado por Tom Hanks, Spike Lee e companhia certamente torcerão o nariz para a abordagem um tanto piegas e moralista da luta real do negro Carl Brashear (Cuba Gooding Jr.) para ingressar na Marinha dos Estados Unidos e fazer carreira como mergulhador.

Baseado em uma história verídica, o filme, dirigido pelo desconhecido George Tillman Jr., relata de forma convencional e didática a batalha heróica de Carl Brashear (Cuba Gooding Jr.) para vencer barreiras e combater o preconceito na Marinha dos EUA em nome de um sonho afro-americano individualista.

Com uma atuação marcada por caras e bocas fechadas a cada situação problemática e um orgulho arrogante, Gooding faz uma dobradinha mal explorada com Robert De Niro, que também exagera no papel fictício do comandante chefe da escola de mergulho, Billy Sunday.

O personagem de Sunday é caótico e até risível. Com o seu cachimbo numa mão, bebida na outra e cabeça repleta de baboseiras machistas e preconceituosas, Sunday impõe inúmeros obstáculos para Carl não passar na prova da Marinha, mas a sua rebeldia "contra o sistema" (sabe-se-lá qual exatamente) acaba fazendo-o cúmplice de Gooding, principalmente quando este luta para reingressar na Marinha após perder a perna.

Fictício, Sunday é um artefato hollywoodiano usado para criar um clima de tensão-cumplicidade entre os astros Gooding e De Niro, que acaba não convencendo até mesmo pela ausência de uma exploração maior da personalidade de ambos.

O espectador, por exemplo, fica sem entender a razão da obstinação de Carl por entrar na Marinha e nunca chega a conhecer o homem por trás da cara amarrada, tampouco compreende os atos rebeldes de um comandante histérico contra uma ordem à qual ele pertence.

Como Denzel Washington em "Duelo de Titãs", Cuba Gooding Jr. é um ator desperdiçado num filme que vende uma moral oca manipuladora e sentimentalista, aquela que assinala a vitória como o único objetivo da vida.

Outra moral fora de moda é a representação da unidade da família afro-americana de Carl, cuja mulher Jô (Aunjanue Ellis) o apóia com amor, num paralelo com a desunião da família do branco Sunday. Gwen (Charlize Theron) vive às turras com o marido De Niro, beberrão e rebelde sem causa, enquanto Jô só tem palavras doces e meigas para Carl.

O verdadeiro Carl Brashear, hoje com 70 anos, auxiliou em vários momentos da filmagem, como na cena quando perde a perna, em 1996, depois de recuperar uma bomba proveniente da queda de um B-52 no litoral de Palomares, na Espanha.

Carl entrou na Marinha em 1948, quando o presidente Truman aboliu a obrigatoriedade do serviço militar e, em 1970, tornou-se o primeiro negro a ganhar a medalha Master Diver na história da Marinha norte-americana. Pena que o sentimentalismo foi associado a uma história tão curiosa. De fato fica-se com a vontade de pesquisar os arquivos da Marinha logo após o filme para descobrir mais do homem atrás da imagem.
 

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