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25/08/2000 - 19h27

Filme com George Clooney pára nos efeitos especiais

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da Folha de S.Paulo

O problema do fascínio recente de Hollywood pelas imensas possibilidades dos efeitos digitais não é o que fazer com eles, mas o que fazer além deles. Chegou-se a um ponto em que o mais honesto seria anunciar alguns filmes como pequenos catálogos de cenas há alguns anos inimagináveis, sem perder tempo com a embalagem dramática que, no fundo, tornou-se mesmo apenas encheção de linguiça.

"Mar em Fúria", por exemplo, seria vendido como "meia hora de cenas incríveis de tempestade em alto-mar", com "navios naufragando" e "pescadores desesperados lutando pela própria vida". Nada de embromação e consequente constrangimento para a platéia.

O cinema voltaria a adquirir a feição de espetáculo feito exclusivamente para saciar a curiosidade do olhar, como acontecia nas primeiras sessões promovidas pelos irmãos Lumière, no final do século 19.

Aqui, por incrível que pareça, houve um livro como ponto de partida: o romance homônimo de Sebastian Junger baseado na história verídica de pescadores da pequena Gloucester, na costa de Massachusetts (EUA), que resolveram enfrentar os caprichos do destino.

Eles estavam a bordo do Andrea Gail, um barco pesqueiro de dimensões modestas, já excessivamente rodado, quando enfrentaram a "tempestade perfeita" do título original, em outubro de 1991. O inferno esteve ali mesmo, no Atlântico Norte.

O capitão do Andrea Gail é Billy Tyne (George Clooney), um velho lobo-do-mar que anda sem muita sorte com os peixes. Na tentativa de melhorar um pouco a receita da temporada, ele se propõe a fazer uma última viagem.

Sua tripulação, que também está matando cachorro a grito, resolve acompanhá-lo. No meio do caminho, porém, Tyne decide esticar até o remoto Cabo Flemish em busca dos peixes que parecem sumidos. A insensatez o deixará arrependido.

O diretor alemão Wolfgang Petersen ("A História sem Fim", "Na Linha de Fogo", "Força Aérea 1") passa então a administrar situações paralelas.
Em terra, as famílias e os amigos acompanham o noticiário. No mar, a guarda costeira faz o que pode para salvar outros barcos pegos pela tempestade. E uma alma gêmea de Tyne, a capitã Linda Greenlaw (Mary Elizabeth Mastrantonio), procura demovê-lo da idéia tresloucada de atravessar a tormenta.

Como em "Twister" (96), de Jan de Bont, que materializa a violência dos tornados, "Mar em Fúria" mostra como não convém brincar com a fúria dos elementos. Seria um belo tema se houvesse de fato algum interesse em explorá-lo além do aspecto puramente visual.

De personagens sem densidade a situações erguidas a partir da pior espécie de clichês melodramáticos, o que se vê é o triunfo absoluto dos efeitos digitais sobre as idéias.

Não deixa de ser estranho que, mesmo assim, o filme ultrapasse as duas horas. Sem mexer uma vírgula nas cenas de tempestade, "Mar em Fúria" sobreviveria bem com 30 minutos a menos.

Bastaria jogar fora toda a baboseira humanitária que usa para supostamente homenagear a bravura dos pescadores _gente boa e corajosa que merecia um filme melhor.
 

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