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04/04/2001 - 04h13

Reynaldo Gianecchini protagoniza "O Príncipe de Copacabana"

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FABIO CYPRIANO, da Folha de S.Paulo

"Ser ou não ser", uma das mais famosas frases do teatro, em "Hamlet", de Shakespeare, não deve estar na montagem da peça que o diretor Gerald Thomas prepara para o próximo mês. Ops! Thomas diz que não será "Hamlet", mas "O Príncipe de Copacabana". "A peça de Shakespeare é apenas uma referência", afirma.

Em todo caso, a peça, com estréia programada para 11 de maio, no Sesc Copacabana (Rio), inicia um novo ciclo que o diretor prepara para o segundo semestre e que une estrelas da televisão e o astro do teatro, Shakespeare.

Francisco Cuoco deverá encarnar Próspero, o duque de Milão, em "A Tempestade", Paulo Autran e Luiz Damasceno devem fazer "Édipo Rei", e Marília Gabriela e filhos devem ser dirigidos por Thomas em "A Rainha e Seus Dois Filhos", uma versão (feminina?) do "Rei Lear". Segundo o
diretor, misturar figuras públicas com ficção é a retomada de uma proposta de 85.

Na semana passada, durante os ensaios de "O Príncipe", em São Paulo, Thomas falou com a Folha sobre seus projetos. No domingo passado, embarcou para Israel, onde participa de um ciclo de debates, e seguiria pela Europa, onde também acerta detalhes para uma montagem de "Galileu Galilei", de Brecht, no Schaubühne, de Berlim. Leia trechos:

Folha - Vamos falar do "Hamlet".
Gerald Thomas -
Não é "Hamlet". Eu não conheço nenhuma peça do Shakespeare chamada "O Príncipe de Copacabana".

Folha - Mas é uma inspiração?
Thomas -
É impossível que essa peça tenha alguma coisa a ver com Shakespeare. Eu não quero ninguém indo ver essa peça: "O que é? Baseada em "Hamlet'?". Aí chega o crítico e diz: "Não, essa peça não tem nada a ver com "Hamlet'". Mas tem a inspiração de alguns temas recorrentes que me interessam. A peça é sobre a sociedade conspirativa, "fofoquenta", por trás dos panos.

São os labirintos politicamente incorretos e sórdidos de um cara que matou alguém e ocupou seu lugar, de um cara que faz média com todo mundo. Esse é o clima que me interessa. Isso, num bairro que é o microcosmo onde você poderia ser o príncipe ou o rei ou alguma coisa assim.

Folha - Há algo de podre em Copacabana?
Thomas -
Tem um emissário submarino que é bem podre lá.

Folha - E a história da peça?
Thomas -
São operários de metrô, que estão debaixo de Copacabana, como é o nosso teatro lá. O Gianecchini faz um arqueólogo, e a Paulinha Burlamaqui é uma pessoa da alta sociedade que escapou e caiu ali embaixo, está virada de várias festas que acontecem ali em cima de Copacabana.

Folha - Por que convidar o Gianecchini?
Thomas -
A história tem a ver com ele. Pega os exemplos mais recentes dos meus espetáculos. É uma coisa que eu fiz há muito tempo e parei de fazer, não sei muito bem por que, que é a mistura entre ficção e verdade.

Pega o Julian Beck, que eu dirigi em 85 na "Trilogia Beckett": ele estava morrendo de câncer, e a peça "Dead Time" era a história de um ator no fim da vida, morrendo de câncer, ouvindo momentos da sua vida.
Depois eu fiz isso com a Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, que são mãe e filha na vida real. Depois, chegando na Gabi, ela é ela em "Esperando Beckett": não visa ser nenhuma outra coisa, eu parto de uma situação real. O Gianecchini ascendeu a esse lugar de um dia para o outro e ao mesmo tempo ele colocou um pé na mídia de uma maneira tão despreparada quanto um príncipe que aprendeu filosofia em Wittenberg e não sabe lidar com as fofocas terríveis, grosseiras e calhordas de um castelo.

O despreparo me interessa, assim como o fato de que ele vivenciou isso por dentro e chegou a um lugar que tem labirintos "fofoquentos", que é o poder de verdade. É um castelo isolado do resto. As analogias são minhas, mas, às vezes, elas até são verdadeiras.

Folha - E por que essa junção entre realidade e ficção no teatro?
Thomas -
Eu adoro isso, eu detesto teatro. Eu adoro quando tem um ponto em comum. Adoro quando as duas ruas se cruzam, porque você fica: "Meu Deus, até que ponto ele está falando dele mesmo?". E com ironia. A crítica já está metalinguisticamente dentro da peça. É a peça mais a crítica da peça dentro dela. Eu gosto muito quando você pára de acreditar. "Nowhere Man" foi escrito para o Damasceno. Não poderia ter sido escrito para outro ator.

Pego as pessoas que trabalham comigo há muito tempo ou que são figuras públicas num ponto onde realidade e ficção se tornam um ponto de interrogação.

Folha - Você também mistura ficção e realidade no seu comportamento. Nunca se sabe exatamente quando é o Gerald que está falando para poder aparecer na mídia e quando é a sua opinião verdadeira.
Thomas -
Só que ela é espontânea, então não é estratégia. Mas existe um método aí que você descreveu que é verdadeiro, mas não existe uma preconcepção. Quem dera pudesse ser assim. Se eu pudesse decidir a hora em que eu entro na mídia, seria uma loucura.

Folha - Mas você está sempre na mídia.
Thomas -
Vocês são culpados disso. Vocês me colocam na mídia, não sou eu. O interesse é de vocês. O maquiavelismo é de vocês, não é meu. Mas eu não sou burro, não é? E vocês também não. A gente precisa um do outro.
 

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