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17/06/2000 - 02h50

Mendes da Rocha apresenta projetos ligados à água em Veneza

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CELSO FIORAVANTE
da Folha de S. Paulo, em Veneza

Capixaba radicado em São Paulo, Paulo Mendes da Rocha apresenta em Veneza três projetos ligados à água: uma cidade-porto fluvial às margens do rio Tietê; uma proposta de reurbanização da esplanada do Suá, na baía de Vitória (ES); e um estudo de reurbanização da baía de Montevidéu, no Uruguai. Leia abaixo trechos de entrevista que deu à Folha.

Folha - Por que levar três projetos ligados à água?
Paulo Mendes da Rocha -
Antes de mais nada, são projetos que não foram realizados, mas estavam analisados. São estudos sobre a reconfiguração do território e da espacialidade do lugar para que amparem as instalações humanas, a cidade. Trata-se de fazer surgir a espacialidade nova e possível da cidade com intervenções nítidas e marcantes.

Folha - Não lhe incomoda trazer projetos que não saíram do papel?
Mendes da Rocha -
O que eu acho fundamental em urbanismo e arquitetura hoje, mais do que realmente as obras realizadas, é a reflexão crítica, diante de tantos desastres, sobre a especulação e mau uso do espaço da cidade, mas é bom considerar que esses projetos não são especulações teóricas porque foram demandados por estudos de transformação já existentes, como a navegação fluvial do Tietê ao Paraná.

Folha - Como o trabalho do João Filgueiras Lima, o Lelé, se relaciona com o seu?
Mendes da Rocha -
É um grande prazer vir para Veneza com Lelé. Ele trabalha com questões atuais e intensamente ligadas às dificuldades do homem. Em sua rede de hospitais Sarah Kubitschek, por exemplo, ele preza muito a técnica, que é uma perspectiva absolutamente contemporânea. É uma arquitetura que se faz com as máquinas, uma visão que distancia a construção dessa imagem de trabalho penoso e desajustado dos tempos modernos. É um trabalho muito bonito e criativo, que não difere do meu.

Folha - Além de João Filgueiras Lima quem você considera seus pares na arquitetura?
Mendes da Rocha -
Dentro do Brasil há mestres exemplares, como Vilanova Artigas, Affonso Eduardo Reidy e Oscar Niemeyer, artistas que transformaram espaços em nítidas realizações do desejo, que vão além das necessidades práticas.

Folha - O projeto moderno de arquitetura brasileira ainda tem fôlego ou é um projeto que se esgotou?
Mendes da Rocha -
Eu acho muito difícil considerar o futuro da arquitetura a partir de uma estética de fachadas e invólucros. A arquitetura deveria ser muito mais discutida. É um absurdo a arquitetura pública não se exprimir claramente por meio de arquitetos/ autores e propostas concretas de transformação.
Quando se fala em ecologia, e nessa consciência de caráter quase popular sobre a dimensão natural de nossa existência, é importante que se coloque em primeiro plano a questão ética da política de como levaremos a própria natureza. Ela não é mais modelo de contemplação e imitação, como seria o ideal das manifestações clássicas do passado.
Também não é mais o próprio homem que aparece como a primeira questão, estamos em um momento em que homem e natureza surgem como uma intrigante questão fundamental. É a nossa presença na natureza e nosso poder de intervenção nos eventos da própria natureza que interessa.

Folha - Você quer dizer que o projeto moderno também precisa ser atualizado?
Mendes da Rocha -
O que eu quero dizer é que a atenção da arquitetura poderia ser um pouco deslocada de seu interesse apenas por temas vulgares como a construção massiva. A arquitetura deveria ser considerada como uma forma de conhecimento que transforma os lugares para que saibamos, de fato, o que queremos e o que devemos fazer, em vez de construir incessantemente, sempre demandando novos territórios.
A cidade se expande de uma maneira inconveniente e, ao contrário de abrigar todos, cria novas áreas de exclusividade e de exclusão total. A cidade deixa a ver os escombros horríveis de algo que estava construído e se tornou inútil, como todos esses prédios abandonados em sua área central.
A sua degenerescência significa um desastre tão horrível como o bombardeio da velha Europa nas últimas guerras. Nós não temos consciência do valor da paz na América e do valor do que já fizemos.

O jornalista Celso Fioravante viaja a Veneza a convite da Fundação Bienal, que organiza a participação brasileira

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