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11/04/2001 - 04h40

Livro "Três Filhas da Mãe" é escrito erótico com status de literatura

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CYNARA MENEZES, da Folha de S.Paulo

Embora não pudesse prever que, 75 anos depois, o imaginário erótico masculino estivesse praticamente reduzido a traseiros e seios expostos em páginas de revista, telas de computador ou filmes pornográficos, Pierre Louys sabiamente dirigiu seu livro a uma hipotética leitora -ainda que a época não sugerisse encontrar muitas representantes do sexo feminino entre os que tiveram em mãos "Três Filhas da Mãe".

O escritor francês (1870-1925) escreveu o texto, em meados dos anos 1910, alquebrado por problemas de saúde, meio cego e recluso em seu gabinete em Paris havia já algum tempo.

O livro só seria publicado dois anos após sua morte, quando começou a ser desvendado seu "baú" de escritos eróticos, em número tal que, diz a poeta e ensaísta Annie Le Brun no prefácio, "chegou-se a falar em 420 quilos de papéis do gênero".

Finalmente, em 1994, um pesquisador reuniu "a soma perturbadora -porém não definitiva", diz Le Brun, da obra erótica de Louys, considerado por alguns um dos maiores erotômanos dos últimos dois séculos: mil páginas com poemas, contos, romances, teatro e paródias. Entre eles, "Três Filhas da Mãe", agora publicado no Brasil por uma pequena editora de Salvador.

Annie Le Brun, estudiosa da literatura erótica francesa, diz que Louys, autor também de "La Femme et le Pantin" (1898) -inspiração para o filme de Luis Buñuel "Este Obscuro Objeto do Desejo"-, é tão grande que se poderia compará-lo "apenas a Sade ou ao anônimo autor inglês de "Ma Vie Secrète" ("Minha Vida Secreta')", livro de confissões sexuais de um cavalheiro da era vitoriana.

"Três Filhas da Mãe" começa com um estudante de 20 anos seduzindo a jovem vizinha de 14, como se fosse o mestre, e a menina, a aprendiz, o que lhe parece do mais natural: "Desde sempre, os estudantes e as moças de 14 anos deitaram juntos". Lá pela terceira página, porém, já se vê que quem irá aprender será ele -não apenas com Mauricette, mas com sua mãe, a italiana Teresa, de 36, e a irmã Charlotte, também de 20. Mais ainda: será aluno da caçula, Lili, de... 10 anos de idade.

A ação do romance pouco se desloca da alcova do estudante, mas, uma vez lá dentro, tudo pode acontecer, na realidade ou nos relatos da mãe e de suas filhas, todas por ela iniciadas nas artes da sodomia aos 8 anos -de acordo com a genitora, "tarde demais". Naquela época, pedofilia já era crime, mas se engana quem imaginar que isso é o que há de mais escandaloso no livro.

Louys não possui nenhum tipo de limitação, está tudo lá: incesto (as meninas com a mãe; as meninas entre elas; a mãe com a mãe dela; a avó com as irmãs), sadomasoquismo, escatologia.

Curiosamente, o que tem de menos é o sexo heterossexual convencional: o leitor (ou leitora) passa metade do romance esperando que o protagonista, enfim, o consiga, porque uma das meninas, para seu espanto, é ainda virgem.

Perturbador e excitante, "Três Filhas da Mãe" é um clássico do erotismo universal que agradará em cheio, seguramente, às mulheres (uma assina o prefácio, outra a orelha do livro e outra esta resenha; sobre ele disse Susan Sontag tratar-se de um dos poucos escritos eróticos que merecem o status de literatura). Tampouco fará infeliz a homens cujo imaginário vá além de mirar popôs de popozudas.

Três Filhas da Mãe
Trois Filles de Leur Mère
Autor:
Pierre Louys
Tradutores: Denise Coutinho e Michel Colin
Editora: Ágalma (sob encomenda ao e-mail agalma@svn.com.br) Quanto: R$ 32 (253 págs.)
 

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