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19/06/2000 - 09h21

"O Povo Brasileiro" leva Darcy Ribeiro à TV em série do GNT

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FABIO CYPRIANO
da Folha de S. Paulo

"Vamos contar essa história para bastante gente", foi a primeira reação da cineasta Isa Ferraz, quando, em 1995, leu os originais de "O Povo Brasileiro" (Cia. das Letras, 1995), do antropólogo, romancista e político Darcy Ribeiro.

Quando leu os originais do livro do antropólogo, com quem trabalhou durante 13 anos, Isa vislumbrou a força imagética das idéias de Darcy Ribeiro e a necessidade de espalhá-las pelo país. Foi o livro da vida de Ribeiro. No prefácio ele conta que precisou de 30 anos para escrever "o desafio maior a que me propus".

Em 1995, Darcy Ribeiro chegou a fugir de um hospital, no Rio de Janeiro, onde se recuperava de uma pneumonia, para se esconder em sua casa de Maricá (RJ), onde terminou de escrever o livro.

O antropólogo se encantou pela idéia de levar "O Povo Brasileiro" à TV. Uma semana antes de morrer, em 1997, ele chegou a cobrar de Isa Ferraz como estava o andamento do projeto.

Agora, finalmente, "O Povo Brasileiro" chega à TV. Daqui a duas semanas, a partir de 3 de julho, o canal GNT (Net/Sky) transmite diariamente os dez episódios da série (veja as datas ao lado), que no mês de agosto serão também exibidos pela TV Cultura.

O argumento, desenvolvido por Antônio Risério e Marcos Pompéia, analisa a formação dos brasileiros, sua origem mestiça e a singularidade do sincretismo cultural. Além de utilizar depoimentos do próprio Darcy Ribeiro, gravados em 1995, na casa de Maricá, Isa conseguiu reunir um time invejável.

O cantor e compositor Chico Buarque de Holanda faz o duplo de Ribeiro. Topou participar sem cobrar cachê e lê trechos do livro.

Darcy Ribeiro estava muito fraco durante as filmagens -levou quatro dias para realizar apenas cinco horas de gravação. Sua fala, muitas vezes, é fraca e pausada. Mesmo assim, sua participação é emocionante. Empolgado e teatral, ele é o ator perfeito para representar suas idéias.

Sofisticadas são as vinhetas criadas pelo artista plástico Siron Franco e pelo designer Rico Lins. Elas não são apenas legendas para os programas, mas se integram a eles, mesclando-se à estrutura dos episódios, da mesma maneira que a mestiçagem brasileira, tão elogiada pelo antropólogo.

Outro elemento fundamental para a condução da série é a trilha musical criada por Marco Antônio Guimarães. Para cada episódio ele criou um tema, que ressalta a importância da música na cultura brasileira. É encantadora a participação de Gilberto Gil, que em um dos programas canta uma canção composta a partir de um poema de Fernando Pessoa, adaptado por André Luiz de Oliveiro.

O ufanismo característico de Darcy Ribeiro poderia ter contagiado a narração, o que não foi a opção da diretora. O ator Matheus Nachtergaele deu um tom discreto e contido, próximo do espectador.

A diretora conseguiu, de fato, sintetizar as quase 500 páginas do livro em algo claro e conciso. Para tanto, utilizou também depoimentos de pensadores importantes na cultura brasileira, como Antonio Candido, Hermano Vianna, Aziz Ab'Saber, Ariano Suassuna e Eduardo Gianetti.

Outro dos pontos altos da série é a pesquisa iconográfica. A cineasta utiliza imagens obtidas em arquivos no Brasil e em cinematecas da França, Portugal e Angola. "Eu não tinha que inventar a roda de novo", justificou para defender a escolha de imagens produzidas por terceiros.

Lá estão cenas realizadas por Jean Manzon e até um momento precioso, quando a cantora Clementina de Jesus dá uma receita de feijoada, durante sua participação no programa "Ensaio", da TV Cultura. Há também muitas imagens realizadas nos anos 30 e 40, algumas do contato de Darcy Ribeiro com os índios tupinambá.

A produção da série foi da Superfilmes e custou R$ 1,4 milhão, obtido por meio da Lei de Incentivo à Cultura, com patrocínio da Petrobrás, Odebrecht e Embratel. Uma pequena parcela desse total ainda foi paga pelo canal GNT e pela TV Cultura.

Junto a "Música do Brasil", do antropólogo Hermano Vianna, em cartaz na MTV, "O Povo Brasileiro" traz para a TV um olhar sem estereótipos e clichês. Em um ano de comemorações que pouco tratam do país real, os dois programas apresentam uma das melhores análises sobre a cultura brasileira. Visões plurais e relacionais, a partir de uma das idéias que Darcy Ribeiro defende em um de seus depoimentos: "O mais importante é inventar o Brasil que nós queremos".

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