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14/04/2001 - 08h42

Autor esquadrinha modo de vida nos EUA

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BIA ABRAMO
free-lance para a Folha de S.Paulo

Bill Bryson é um sujeito aparentemente capaz de escrever sobre tudo, e isso não é um problema.

Em seu currículo, estão um livro sobre a língua inglesa ("The Mother Tongue"), a Austrália ("In a Sunburned Country") e uma caminhada por 3.000 quilômetros nos Apalaches ("Into the Woods", este traduzido pela Companhia das Letras como "Uma Caminhada na Floresta").

Nestas "Crônicas de um País Bem Grande", o escritor esquadrinha a cultura e o modo de vida dominantes do século 20, de um ponto de vista privilegiado: ele nasceu nos EUA, viveu quase 20 anos na Inglaterra e voltou a morar em seu país natal aos quase 50 anos.

Ou seja, o olhar de Bryson sobre uma gama variadíssima de assuntos encerra familiaridade e estranheza, ataque e defesa, absurdo e naturalidade.

As crônicas sobre as peculiaridades do cotidiano, as idiossincrasias dos habitantes, os hábitos perversos e o traços encantadores do enorme país ao norte do Rio Grande foram originalmente escritas para a revista semanal de um jornal inglês, o que certamente deve ter influenciado o tom bastante ardido das colunas de Bryson.

Ele não poupa os seus próprios conterrâneos de alfinetadas -"(...) tenho certeza, certeza mesmo, de que existe algo na vida moderna americana que está agindo para suprimir o pensamento"-, nem de sarcasmos mais arrasadores ("Nunca brinque com uma autoridade na América e, quando preencher seu cartão de embarque, na pergunta "Você já foi membro do Partido Comunista ou usou de ironia numa situação pública?", faça um xis no "não".").

O tom é basicamente divertido, e seu humor vivo, rápido, combina com a ligeireza própria das crônicas, mas Bryson também é um fantástico coletor de números, dados de pesquisas, recortes de jornal, de anedotas, o que torna alguns textos quase vitrines vivas dos aspectos mais fascinantes e aterradores do modo de vida americano.

Esteja comentando o sistema jurídico ou numa digressão sobre a incrível quantidade de opções e escolhas necessárias para conseguir uma xícara de café, Bryson sempre saca da manga um número ou um fato interessante em que apoiar seu argumento.

Apesar de seu entusiasmo genuíno pela "facilidade da vida cotidiana, o povo em geral amigável, as porções espantosamente abundantes, a noção intoxicante de que praticamente qualquer desejo ou capricho pode ser simples e instantaneamente realizado", o escritor não deixa de bater na pena de morte, na ignorância e desprezo que os norte-americanos têm em relação ao resto do mundo, na novilíngua enganadora dos departamentos de marketing das megacorporações, no puritanismo.

"Crônicas de um País Bem Grande", apesar de menos revelador que "The Mother Tongue", é uma leitura deliciosa de como o inglês se tornou a língua que mais de 300 milhões de pessoas no mundo inteiro falam e "o resto, parece, às vezes tenta falar", consegue dar voz àquela sensação de pasmo inevitável que acomete qualquer cidadão não-norte-americano ao pensar ao mesmo tempo nas esquisitices, na ingenuidade e na potência dos Estados Unidos: "Como é que eles fizeram?".


 

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