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19/04/2001 - 04h12

Samba dos bambas ganha nova chance em discos inéditos

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES, da Folha de S.Paulo

Há moçada nova no pedaço. Beirando os 80 anos, o mangueirense Guilherme de Brito e o portelense Casquinha comemoram a novidade (eles próprios dizem que não esperavam mais) de poderem gravar discos inéditos, em esquema de luxo e rigor.

Une-se aos dois o "nova velha-guarda" (o termo é dele) Jards Macalé, 58, que dedica disco inteiro ao mestre da malandragem Moreira da Silva (1902-2000), outro com quem as gravadoras já não queriam mais conversa.

"Samba Guardado" (de Guilherme), "Casquinha da Portela" e "Macalé Canta Moreira" chegam juntos por iniciativa da nova Lua Discos e do sambista Moacyr Luz, coordenador dos projetos e produtor dos três álbuns.

A paulistana Lua é dirigida pelo também compositor Thomas Roth, 49, que festeja abrigar tanta história sob seu selo, mas não quer se caracterizar como editor de samba ou velha-guarda.

"Quero constituir um pólo fomentador de arte e preservação de memória, não importa se os artistas são antigos ou novos", diz Roth, que lançou há pouco o segundo disco da nova baiana eletrônica Rebeca Matta e prepara trabalhos dos veteranos pouco conhecidos Virgínia Rosa, Filó Machado e Simone Guimarães.

Do lado dos "antigos", Casquinha, 78, comanda a novidade. "Casquinha da Portela" é o primeiro trabalho solo desse integrante histórico da Velha Guarda da Portela, desde há muito parceiro de discípulos seus como Paulinho da Viola, Candeia e Zeca Pagodinho ("em todo disco do Zeca eu participo do coro", constata).

"Vou ser sincero: eu já não esperava por essa oportunidade. Estou cansadão, velhusco. Quando me convidaram eu não queria, porque pouco falta para eu fechar o paletó. Mas fui convencido e estou satisfeitíssimo. De saúde é que não estou muito bom, mas acho que não é sério, é coisa de velho".

Guilherme de Brito, 79, parceiro histórico de Nelson Cavaquinho, traz discurso parecido no bolso e fala das participações dos "jovens" Luiz Melodia e Cássia Eller em seu disco: "Eles não são jovens, são veteranos. Jovens, só na idade. Têm mais estrada do que eu. Melodia
quando entra encobre minha voz. Mas tudo bem, nós ficamos amigos".

E conclui, autocrítico: "Estou muito feliz, pena que tenha acontecido tão tarde. Já cantei bem melhor que isso, minha voz já foi melhor. Fiz o melhor que podia".

O produtor Moacyr Luz dá o tom geral do projeto, ressaltando a presença dos convidados "de vanguarda" e o volume de sambas inéditos reunidos nos álbuns de Guilherme e Casquinha:

"Ando pelos botequins e vejo caras de 79 anos sacando músicas clássicas junto com mais um punhado de inéditas. Isso incomoda, como é que pode? Só eu vou conhecer? A Lua Discos faz parte de uma nova mentalidade, tenho enorme esperança no futuro da MPB. Precisamos de novos casquinhas e guilhermes, precisamos conhecê-los para saber disso".

Adianta-se: "Quis retomar com eles a religiosidade do LP, as 12 músicas que sentávamos para ouvir com atenção, uma após a outra. Fiz três discos de 12 faixas, não acredito nos 72 minutos de música de um CD, acho que dispersa".

À parte (mas nem tanto) da noção geral do projeto de reconhecimento em vida de nomes hoje jogados a escanteio, Jards Macalé retoma a vertente do samba de malandragem carioca, homenageando um autor e intérprete de quem foi amigo desde os anos 70 até sua morte (uma parceria dos dois, "Tira os Óculos e Recolhe o Homem", está incluída no CD).

"Era uma coisa que já estava na minha cabeça fazia muito tempo, mas a idéia de concretizar foi do Moacyr. Eu vinha da linha de Moreira, num caminho paralelo, com elementos de humor. Não sou só isso, nem ele era.
Acho até que a história do malandro afastou o grande cantor que ele era, na linhagem de Orlando Silva. Procurei fazer tudo ao mesmo tempo, não sair do barato do Moreira nem da minha inventividade".

Contando com a participação de Zeca Baleiro, ele fala do anúncio não concretizado da presença do rapper Marcelo D2: "D2 não apareceu no dia da gravação. Mas como ele já havia desaparecido outras vezes, com outras figuras, nem me preocupei", brinca.

Para concluir, Macalé se diz à vontade metido entre os da "velha nova guarda": "Sempre andei no meio de bambas. Os velhinhos (como eu) estão entusiasmadíssimos. Não é um projeto saudosista, é a afirmação de um som brasileiro de altíssima qualidade musical e poética". Falou, bicho.
 

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