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09/05/2001 - 04h52

Emergente no cenário lírico vem a São Paulo com "La Traviata"

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IRINEU FRANCO PERPETUO
da Folha de S.Paulo

Os Patronos do Teatro Municipal de São Paulo estão apostando em uma voz emergente norte-americana para homenagear o centenário de morte de Giuseppe Verdi. A soprano Patricia Racette canta o papel de Violetta na montagem da ópera "La Traviata" que os patronos fazem em São Paulo, em agosto. A ópera é baseada na obra "A Dama das Camélias", de Alexandre Dumas Filho.

Racette é uma cantora ligada ao repertório do século 20, que se projetou nos EUA ao cantar a estréia mundial da ópera "Emmeline", de Tobias Picker, em 96, em uma montagem transmitida pela rede de televisão PBS.

Tendo estreado no Metropolitan de Nova York, em 95, como Musetta, na ópera "La Bohème", de Puccini, ela teve seu real estouro internacional ao cantar no mesmo teatro, em 98, em uma ambiciosa produção
da "Traviata", dirigida por Franco Zeffirelli.

Crítica e público adoraram -ela voltou a cantar várias vezes o papel na casa nova-iorquina, tendo interpretado "La Traviata" ainda em outras cidades norte-americanas e em Paris.

Sua carreira fonográfica ainda é tímida -acaba de ser lançada sua gravação da ópera "Der Traumgörge", de Zemlinsky, sob regência de James Conlon.

De sua casa, em Santa Fé, no Novo México (EUA), Racette falou por telefone com exclusividade à Folha.

Folha - Quando você cantou sua primeira "Traviata" ?
Patricia Racette -
Faz tempo. Foi numa cidadezinha em Connecticut. Eu tinha vencido o Prêmio Marian Anderson, e "La Traviata" fazia parte do prêmio. Foi muito bom, exceto por um pequeno detalhe: naquela época, estávamos tendo uma terrível onda de calor na Costa Leste dos EUA, com 40C. Acho que, se consegui cantar naquelas condições, posso fazer "Traviata" em qualquer lugar.

Folha - Você tem idéia de quantas vezes cantou "Traviata"?
Racette -
Acho que foram umas 50, 60 apresentações, pelo menos. Desde então, participei de umas sete ou oito produções diferentes -na semana que vem, estarei em San Francisco, cantando Violetta numa produção da "Traviata" que já fiz antes.

Folha - Quais são as principais dificuldades e características desse papel?
Racette -
É um papel que exige tudo do artista. Vocalmente falando, ele pede um domínio da coloratura e, ao mesmo tempo, canto "verista" pesado. Ele pede agudos, pede graves. Pede pianíssimos, mas também pede que se cante bem alto, em fortíssimo. E dramaticamente ele também exige muito do artista, porque ele insiste em que você saiba usar o máximo de cores possíveis em cada frase, em cada momento interpretativo diferente. Ela é uma personagem maravilhosamente complicada, e é uma alegria retratar Violetta justamente porque ela não é uma mulher simples.

Folha - Não há como pensar em uma ópera popular como "La Traviata" e não pensar em divas do passado, como Callas ou Tebaldi. Como você lida com as influências do passado ?
Racette -
Essas são as dificuldades e, digamos, injustiças de fazer uma ópera tão popular. Embora eu nunca a tenha visto, minha favorita é Callas, por causa das cores que ela emprega e pela maneira que interpreta o papel.

Folha - Callas, de alguma forma, influenciou sua "Traviata" ?
Racette -
Não. Eu apenas me instruo sobre o que foi feito e procuro saber daquilo que gosto. Eu não posso, e nem quero, copiar o que ela fez. Espero poder oferecer algo único e realmente individual. Acho que continuam a me contratar porque eu tenho algo de único a dizer sobre o papel.

Folha - Você tem cantado muito Verdi. A "voce verdiana" (voz verdiana) é realidade ou mito?
Racette -
Isso não existe. Estou cansada de ver as revistas de ópera perguntando onde estão as sopranos verdianas, os tenores verdianos etc. As pessoas se esquecem de que, no passado, cantores famosos faziam "Traviata" num dia e, logo depois, "Bohème". Claro que há alguns aspectos da vocalidade que se prestam a cantar Verdi, mas acho que caracterizar a "voz verdiana" de uma única forma é um erro.

Folha - Além de Verdi, você tem uma relação próxima com a ópera do século 20. Como isso aconteceu?
Racette -
Desde meus tempos de estudante, eu sempre fui interessada em novas obras e queria trazer algo de novo para os campos da ópera e da música clássica. Eu cantei "Emmeline", de Tobias Picker, em Santa Fé, que foi televisionada pela PBS. A experiência foi muito significativa para mim, pois pude trabalhar ao lado do compositor. Foi um grande privilégio criar um papel pela primeira vez, pois não há ninguém com quem você possa ser comparada. Além disso, boa parte da minha experiência com ópera do século 20 foi em inglês, e eu acho muito bom para um cantor poder atuar em sua língua materna e entender a gama de significados que ele pode adicionar ao texto.
 

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