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14/05/2001 - 09h54

Mostra reafirma o vigor da escultura de Amilcar de Castro

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TIAGO MESQUITA
da Folha de S.Paulo

Até o próximo dia 26, uma coletiva de Amilcar de Castro, Thaïs Helt, Allen Roscoe, Pedro e Rodrigo de Castro comemora a inauguração, ocorrida em abril, do novo ateliê de Amilcar e Thaïs, em Nova Lima (MG).

A mostra reforça o prestígio de Amilcar de Castro e mostra a vitalidade de um trabalho que não abre mão do frescor de 40 anos atrás. Diante da amostra de boa porção de sua obra, reconstituir um itinerário é tentador.
Mesmo quem desconhece o percurso de Amilcar observa os múltiplos desdobramentos de uma escultura centrada em procedimentos relativamente simples: o corte e a dobra.

Quando Amilcar trabalha o ferro, não espera dele nem docilidade nem obediência. Esculpe incorporando as resistências e dificuldades da matéria.

Ao contrário dos praticantes de um construtivismo mais ortodoxo e formalista, Amilcar não leva a matéria a se acomodar numa forma ideal: a temporalidade almejada é mais afeita ao modo da obra agir no espaço do que à sua aproximação com qualquer modelo. O artista quer, como mostram suas pinturas, singularizar um ato.

Suas recentes esculturas, sobretudo aquelas com chapas apenas dobradas, atestam essa vontade de lidar com a matéria e o meio como se personificasse modos diferenciados no aço. No ateliê, uma escultura exposta no jardim tem a quina da chapa de ferro cortada e plantada no solo, ganhando características vegetais, como se pertencesse àquele plano.

Dobrada, em chapas de ritmos, inclinações e tamanhos diversos, a obra forma um lugar diferente daquele que aparecia nas frestas das esculturas de corte e dobra. Dentro dessa chapa surge um lugar em que o ferro procura conversar com o espaço, elogiando-o. Estendendo a generosidade que tem com a matéria para a paisagem, o artista pretende um diálogo em que a reconfiguração de ambas propõe uma maneira mais generosa e contemplativa de lidar com o mundo -um jeito que busca o rumor das coisas para mudar a vida.

Por vias diversas, o prédio projetado por Allen Roscoe também busca esse conforto da forma e da paisagem. Os locais de trabalho não aparecem como refúgio, mas como lugar fronteiriço, em que outro tempo pode ser imaginado.

Composto por estruturas de ferro, concreto e vidro, são essas enormes chapas escuras que chamam primeiro a atenção do olhar. Na fachada, estabelecem certo contraste entre uma transparência refletora e a intransponibilidade da vegetação. Mas, por dentro, o espaço se vê invadido pela paisagem, sem que ela se imponha à construção.

Nos trabalhos de Pedro de Castro, o que não falta é luminosidade. O artista descobre espaços inusitados nas formas e nas frestas até de um pé de uma mesa. Em seu melhor trabalho -uma escultura composta por formas circulares-, a equação entre pesos demonstra a paciência contemplativa que o local pretende.

Thaïs Helt também pinta transformando cor em coisa, que vira sabor, como se inventariasse as sensações de estar no vazio -algo de um prazer do silêncio, da geometria das nuvens, ou melhor, do céu que aparece entre elas.

Já Rodrigo de Castro é pintor rigoroso. E o prazer, que existe, vem por essa via. Hoje em dia, poucos artistas se submetem à cor como Rodrigo. Muitas vezes, preferem conformá-la a um conceito ou a uma intenção deliberada.

Mas Rodrigo usa o peso das linhas para abri-las a uma vivência da superfície, que surge por detrás da forma e deve ser capturada, como se fosse poente. Tem algo da abertura das esculturas de corte e dobra de seu pai, em especial uma vontade de a forma se particularizar, que sai detrás das faixas.

A pintura de Rodrigo de Castro é a que talvez mais insista na urgência dessa generosidade silenciosa em ouvir o mundo, abordada em todos os trabalhos. Entre eles, se não há tal generosidade, a possibilidade de criação está morta. Rodrigo pinta de ouvido.

Onde: Condomínio Ville de Montagne (al. Universo, 268, estrada de Nova Lima, 0/xx/31/3261-3993, MG)
Quando: de seg. a sex, das 9h às 19h; sáb., das 9h às 14h; até 26/5
Quanto: entrada franca
 

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