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23/05/2001
-
04h28
ANTONIO CARLOS DE FARIA
da Folha de S.Paulo, no Rio
A grande estrela da 10ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro não é nenhum dos escritores nacionais e estrangeiros, mas Emiliano Martínez, 60, presidente da Federação dos Grêmios de Editores da Espanha.
No comando de uma organização com mais de 800 editoras, Martínez representa o mais novo segmento empresarial espanhol interessado em entrar no mercado brasileiro, seguindo os passos já dados nos setores de energia, telefonia, financeiro e comercial.
A indústria editorial espanhola faturou cerca de US$ 4,2 bilhões no ano passado -o dobro da brasileira-, isso sem levar em conta as exportações, que chegaram a quase US$ 400 milhões.
Os espanhóis querem comprar mais editoras do Brasil (o governo brasileiro é considerado o maior comprador de livros escolares do mundo), avisa Martínez, como já fez o grupo Prisa, que em março comprou a editora Moderna, uma das quatro maiores brasileiras, por R$ 150 milhões.
A seguir, trechos da entrevista de Martínez à Folha.
Folha - Por que as editoras espanholas estão interessadas no mercado brasileiro?
Emiliano Martínez - Porque a indústria editorial espanhola tem a tradição de trabalhar em distintas modalidades, voltada para o mercado interno, para a exportação e com implantação em outros países, principalmente na América Latina. O mercado brasileiro é diferente dos outros países latino-americanos, por ser maior e pela diferença da língua. Por isso temos que encontrar fórmulas específicas para nossa entrada aqui.
Folha - Quais seriam as fórmulas?
Martínez - Penso no desenvolvimento de projetos editoriais conjuntos com editores brasileiros.
Folha - Entre essas fórmulas, está também a compra direta de empresas nacionais. Quantas editoras espanholas estão comprando editoras brasileiras?
Martínez - Não posso falar em números, mas há mais de um negócio em andamento, e isso vai crescer. Com o desenvolvimento econômico do Brasil e o maior poder de consumo, há setores editoriais que acompanharão esse movimento.
Folha - Quais?
Martínez - Logo, o literário. Mas também os livros práticos, de hobbies, técnicos e científicos. Há um outro lado que nos interessa imediatamente. A indústria brasileira de livros tem bons produtos infantis e juvenis que queremos levar para a Espanha.
Folha - Hoje, a presença da literatura brasileira na Espanha é quase nenhuma?
Martínez - É muito pequena. Dos 70 mil títulos que lançamos anualmente na Espanha, 16% são traduções. Desses, só uns 200 títulos são traduzidos do português. Com a riqueza dos livros infantis e juvenis que há no Brasil, é seguro que haja na Espanha muito mais mercado do que isso para escritores brasileiros.
Folha - As exportações espanholas de livros vão principalmente para a América Latina?
Martínez - Sim, mas também para os países da Europa, para os quais exportamos produtos já nas próprias línguas. Não nos limitamos a publicar em espanhol. É preciso uma política de expansão constante, ganhando competitividade para disputar o mercado mundial.
Folha - Na Espanha, há filiais de editoras da Argentina, México e de outros países latino-americanos. Do Brasil, não. O empresário brasileiro tem uma visão limitada?
Martínez - Isso se justifica, em parte, porque o Brasil tem um mercado interno tão grande que leva a um comportamento insular. O empresário brasileiro não vê a necessidade de sair do país. O mesmo não acontece em países menores, onde a única forma de crescer é pensando no mercado externo. Isso aconteceu no passado com a Espanha.
Folha - A entrada de grandes grupos espanhóis no mercado brasileiro não vai levar a uma exclusão dos editores nacionais?
Martínez - Isso é impossível. Ninguém monopoliza nunca um mercado, muito menos um tão grande como o brasileiro, com tantas possibilidades de crescimento. Eu acredito em associações com editores brasileiros para dinamizar ainda mais o mercado local. Acreditar que um mercado possa crescer sem investimentos e sem a valorização dos autores é um absurdo. A entrada de capital externo no Brasil levará ao crescimento do mercado editorial, por investimentos em novos lançamentos de qualidade.
Folha - O crescimento da indústria editorial espanhola foi marcante depois que acabou o período franquista, nos anos 70. O que mudou com a democratização?
Martínez - Empresários e autores fizeram um trabalho potente, ao mesmo tempo em que o governo fez importantes investimentos na educação, com o estabelecimento de uma escolaridade mais completa, mais rica. Houve também um crescimento dos níveis de renda da população. Esse quadro tornou natural a expansão do setor editorial.
Leia mais notícias sobre a Bienal do Livro
Bienal: Espanhóis querem comprar mais editoras brasileiras
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da Folha de S.Paulo, no Rio
A grande estrela da 10ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro não é nenhum dos escritores nacionais e estrangeiros, mas Emiliano Martínez, 60, presidente da Federação dos Grêmios de Editores da Espanha.
No comando de uma organização com mais de 800 editoras, Martínez representa o mais novo segmento empresarial espanhol interessado em entrar no mercado brasileiro, seguindo os passos já dados nos setores de energia, telefonia, financeiro e comercial.
A indústria editorial espanhola faturou cerca de US$ 4,2 bilhões no ano passado -o dobro da brasileira-, isso sem levar em conta as exportações, que chegaram a quase US$ 400 milhões.
Os espanhóis querem comprar mais editoras do Brasil (o governo brasileiro é considerado o maior comprador de livros escolares do mundo), avisa Martínez, como já fez o grupo Prisa, que em março comprou a editora Moderna, uma das quatro maiores brasileiras, por R$ 150 milhões.
A seguir, trechos da entrevista de Martínez à Folha.
Folha - Por que as editoras espanholas estão interessadas no mercado brasileiro?
Emiliano Martínez - Porque a indústria editorial espanhola tem a tradição de trabalhar em distintas modalidades, voltada para o mercado interno, para a exportação e com implantação em outros países, principalmente na América Latina. O mercado brasileiro é diferente dos outros países latino-americanos, por ser maior e pela diferença da língua. Por isso temos que encontrar fórmulas específicas para nossa entrada aqui.
Folha - Quais seriam as fórmulas?
Martínez - Penso no desenvolvimento de projetos editoriais conjuntos com editores brasileiros.
Folha - Entre essas fórmulas, está também a compra direta de empresas nacionais. Quantas editoras espanholas estão comprando editoras brasileiras?
Martínez - Não posso falar em números, mas há mais de um negócio em andamento, e isso vai crescer. Com o desenvolvimento econômico do Brasil e o maior poder de consumo, há setores editoriais que acompanharão esse movimento.
Folha - Quais?
Martínez - Logo, o literário. Mas também os livros práticos, de hobbies, técnicos e científicos. Há um outro lado que nos interessa imediatamente. A indústria brasileira de livros tem bons produtos infantis e juvenis que queremos levar para a Espanha.
Folha - Hoje, a presença da literatura brasileira na Espanha é quase nenhuma?
Martínez - É muito pequena. Dos 70 mil títulos que lançamos anualmente na Espanha, 16% são traduções. Desses, só uns 200 títulos são traduzidos do português. Com a riqueza dos livros infantis e juvenis que há no Brasil, é seguro que haja na Espanha muito mais mercado do que isso para escritores brasileiros.
Folha - As exportações espanholas de livros vão principalmente para a América Latina?
Martínez - Sim, mas também para os países da Europa, para os quais exportamos produtos já nas próprias línguas. Não nos limitamos a publicar em espanhol. É preciso uma política de expansão constante, ganhando competitividade para disputar o mercado mundial.
Folha - Na Espanha, há filiais de editoras da Argentina, México e de outros países latino-americanos. Do Brasil, não. O empresário brasileiro tem uma visão limitada?
Martínez - Isso se justifica, em parte, porque o Brasil tem um mercado interno tão grande que leva a um comportamento insular. O empresário brasileiro não vê a necessidade de sair do país. O mesmo não acontece em países menores, onde a única forma de crescer é pensando no mercado externo. Isso aconteceu no passado com a Espanha.
Folha - A entrada de grandes grupos espanhóis no mercado brasileiro não vai levar a uma exclusão dos editores nacionais?
Martínez - Isso é impossível. Ninguém monopoliza nunca um mercado, muito menos um tão grande como o brasileiro, com tantas possibilidades de crescimento. Eu acredito em associações com editores brasileiros para dinamizar ainda mais o mercado local. Acreditar que um mercado possa crescer sem investimentos e sem a valorização dos autores é um absurdo. A entrada de capital externo no Brasil levará ao crescimento do mercado editorial, por investimentos em novos lançamentos de qualidade.
Folha - O crescimento da indústria editorial espanhola foi marcante depois que acabou o período franquista, nos anos 70. O que mudou com a democratização?
Martínez - Empresários e autores fizeram um trabalho potente, ao mesmo tempo em que o governo fez importantes investimentos na educação, com o estabelecimento de uma escolaridade mais completa, mais rica. Houve também um crescimento dos níveis de renda da população. Esse quadro tornou natural a expansão do setor editorial.
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