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22/06/2000 - 04h08

Ken Loach embaralha política e futebol em "Meu Nome É Joe"

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JOSÉ GERALDO COUTO
da equipe de articulistas da Folha de S. Paulo

"Meu Nome É Joe", que estréia hoje no Brasil com quase dois anos de atraso, é talvez o mais poderoso drama social realizado pelo inglês Ken Loach.

O Joe do título é um ex-alcoólatra que vive de bicos e treina o time de várzea de um bairro operário de Glasgow (Escócia). O papel valeu a Peter Mullan o prêmio de melhor ator em Cannes.

Aos 64 anos, Loach é hoje sinônimo de cinema social e politicamente engajado. Entre os filmes mais importantes que realizou estão "A Agenda Secreta" (1990) e "Terra e Liberdade" (1995).

Depois de "Meu Nome É Joe" Loach rodou nos EUA "Bread and Roses", sobre imigrantes latino-americanos que trabalham como zeladores em Los Angeles. O filme deve ser lançado no final do ano. E o diretor já começa a filmar no norte da Inglaterra um drama sobre ferroviários. Loach falou à Folha por telefone, de Londres.

Folha - O senhor entrevistou desempregados, alcoólatras, traficantes e prostitutas para compor os personagens do filme?
Ken Loach -
Houve muita pesquisa, mas ela foi feita principalmente pelo roteirista, Paul Laverty. A maioria das pessoas que eu conheci foi por meio dele. Também os atores fizeram seu tanto de pesquisa, conversando com gente que vivia numa situação semelhante à dos personagens. Algumas dessas pessoas foram incorporadas ao filme e aparecem em papéis secundários.

Folha - O futebol parece ser o único elemento de cultura e beleza no ambiente do filme. Foi inevitável ou é uma preferência pessoal sua?
Loach -
O futebol é algo muito importante para a cultura do meu país, assim como é para a do seu. É algo com que o personagem Joe está muito comprometido, e por meio de seu envolvimento com o futebol nós vemos todas as coisas de que ele é capaz: sua paixão, sua responsabilidade, sua lealdade, seu entusiasmo. É algo que dá um sentido a sua vida.

Folha - Alguns críticos disseram que o senhor exagerou os aspectos sombrios dos bairros pobres de Glasgow.
Loach -
Podíamos ter pintado um quadro mais feio, acredite. Esses críticos não gostam da verdade. A questão é que áreas como as que aparecem no filme _e há muitas na Grã-Bretanha_ são o lugar onde você vê os resultados da política de Margareth Thatcher, que produziu desemprego em massa e criou um ambiente propício para o tráfico de drogas. Isso destrói tudo: família, esperanças das pessoas. Isso decorre das políticas adotadas nos anos 80, quando Thatcher destruiu a indústria britânica e infligiu desemprego em massa à população, de propósito, para enfraquecer os trabalhadores e dar ao capital britânico uma nova força. Essa foi a base do chamado "milagre econômico" de Thatcher.

Folha - Como o senhor fez para sintetizar essa situação social no drama de uns poucos personagens, fugindo do mero documento e do panfleto político?
Loach -
Isso é mérito do roteirista, Laverty. Trabalhamos juntos, mas o roteiro é dele. O que você menciona era o ponto mais importante do nosso projeto. Se os elementos do drama estivessem certos, fazer o filme ficaria fácil.

Folha - A escolha do tema de "Meu Nome É Joe" foi artística?
Loach -
Sim, e também política. Porque, se alguma coisa tem de mudar, essa mudança virá da classe trabalhadora, não dos elementos burgueses da sociedade. Os burgueses não têm nada a ganhar com a mudança, e os trabalhadores têm tudo a ganhar. Portanto investigar a situação da classe trabalhadora tem um sentido político também.

Folha - Como foi o trabalho de direção de atores, sobretudo de Peter Mullan, o protagonista?
Loach -
Peter é um ator fantástico. Ele pesquisou muito. Foi a reuniões dos alcoólicos anônimos, frequentou bares. De todo modo, esse é um mundo que ele conhece bem, pois veio daquela cidade e nasceu numa família operária. Ele viveu a situação na carne e foi maravilhoso ao dar vida àquilo tudo. Meu papel como diretor foi preparar o terreno para ele. Se o elenco está natural e homogêneo, isso se deve ao fato de que todos os atores são daquela cidade e têm origem nas classes trabalhadoras. Eles conhecem os detalhes daquela vida.

Folha - Por que foi a seleção brasileira de 1970 a inspiração para o time de várzea de Joe?
Loach -
(risos) Bem, eles foram os grandes mestres. O time do filme é o pior de Glasgow, talvez do mundo. Mas isso não significa que eles não tenham altas ambições. Na cabeça deles, são grandes jogadores, e é por isso que trazem às costas os nomes dos maiores craques que já existiram.

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