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22/06/2000 - 04h12

Inácio Araujo: M:I-2 é colcha de retalhos de vários filmes

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INÁCIO ARAUJO
Crítico de cinema da Folha de S. Paulo

"Missão Impossível 2" pode ser visto à luz do filme original, da obra pregressa de John Woo ou daquele que parece ser seu modelo, James Bond. Nos três casos, a impressão é desconcertante. Em relação ao original, realizado em 1996 por Brian De Palma, "Missão Impossível 2" decepciona pela ficção quadrada, que abdica de toda invenção em favor de uma colcha feita com retalhos de filmes de aventuras já realizados nos últimos cem anos.

É verdade que o procedimento tem sido frequente no gênero (o que é "Gladiador'', senão uma tosca costura de "A Queda do Império Romano" com "Ben-Hur"?).

Mas pode-se perguntar onde está a saudável ironia com que De Palma pontuou o filme anterior e que o distinguia tanto do padrão. É verdade que Tom Cruise, personagem central e manda-chuva do empreendimento, odiou o que viu. Mas, como teve a audácia de escolher John Woo para dirigir "Missão Impossível 2", podia-se esperar o melhor dessa sequência.

Desde os tempos em que filmava em Hong Kong, Woo destacou-se pela vitalidade, por certa demência do olhar, por um gosto pelo desmedido. Isso continuou em Hollywood, mesmo no filme de estréia, com Van Damme.

Do ponto de vista da obra de Woo, este trabalho é uma desgraça. Pela primeira vez, o vemos como autêntico pau-mandado. Pode acontecer.

Quase todo o filme poderia ser dirigido por qualquer um, embora "Missão Impossível 2'' seja bem filmado. A sequência de abertura, com Tom Cruise escalando uma montanha, é um primor. Dá mesmo para imaginar que dali por diante Woo nos introduza a um filme vertiginoso.

Não é o que acontece. Logo entramos numa intriga de quarta categoria: Cruise recruta uma bonita ladra (Thandie Newton) para ajudá-lo a combater os ladrões do terrível vírus Quimera (e de seu antídoto, que fará a fortuna de um laboratório farmacêutico).

Com 15 minutos de história, já se sabe como vai ser o final. Isso não é problemático em si. Podemos prever o desenrolar de uma história e, ainda assim, ter surpresa e encantamento com os volteios de um bom roteiro para chegar até seu ponto culminante.

Problemático, aqui, é que o roteiro pareça se empenhar em repetir tudo o que já se fez nas aventuras dos últimos dez anos.

Ainda assim, por alguns instantes, o tema do duplo, tão frequente em Woo, se manifesta. Nada que lembre a intensidade demente de "A Outra Face'', mas ao menos está lá.

Também na perseguição e duelo finais, muito fortes, sente-se algo além da banalidade ambiente. Mas é muito pouco.

Por fim, é possível fazer a aproximação entre "Missão Impossível 2'' e a série James Bond. Ambas têm a mesma matriz narrativa, o filme de espionagem conduzido por um personagem masculino forte. No mais, o gosto pelos "gadgets" é comum a ambos.

Bond é um personagem meio envelhecido e já está a merecer um sucessor. Papel que poderia convir a "Missão Impossível 2''. Mas não desse jeito. Bond, já nos anos 60, era um sedutor incorrigível. Suas proezas e agruras tinham bastante a ver com isso.

O agente Ethan Hunt, ao contrário, afunda-se em um romance meloso com a tal ladra de nome arrevesado (Nyah). Poderia ser interessante, já que no início seu chefe faz comentários pouco airosos à natureza feminina, que qualifica como traiçoeira.

Comentários que a moça vai desmoralizar ao longo do filme: ela se mostra de uma fidelidade desinteressantíssima ao longo de toda a história.

Se é decepcionante, "Missão Impossível 2'' não é, no entanto, indigno. Sobretudo aos adolescentes, submetidos a antologias da tolice e da contrafação, os bons momentos desse trabalho podem introduzir ao que seja o prazer do cinema. Já é mais do que nada.

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