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25/05/2001 - 05h06

Haneke fragmenta cotidiano e xenofobia em "Código desconhecido"

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JOSÉ ROCHA M. FILHO
da Folha de S.Paulo, em Viena

O cineasta austríaco Michael Haneke, 59, recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes deste ano pelo filme "La Pianiste". Seu filme anterior, "Código Desconhecido" -"um emaranhado de episódios cotidianos"-estréia hoje em São Paulo.

Haneke falou à Folha sobre "Código Desconhecido", sobre a produção cinematográfica contemporânea na Áustria e também sobre a situação política austríaca. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - A violência aparece como tema recorrente em seus filmes. A violência de cidadão contra cidadão aparece em "Violência Gratuita", em seguida, a situação violenta de imigrantes ilegais que vivem nas grandes cidades européias em "Código Desconhecido". O sr. ligaria sua obra a temas sobre violência?
Michael Haneke -
"Violência Gratuita" seria um comentário sobre o discurso midiático em torno do tema violência. É um filme de recepção controversa.

Em "Código Desconhecido", existe a tematização da violência, mas esse não é único aspecto ou o tema principal, pois o filme é fragmentado, um emaranhado de episódios cotidianos.

De qualquer maneira, minha intenção é suscitar um diálogo, provocar questões e assim despertar, nas pessoas, o interesse pela discussão.
Não gostaria que meus filmes fossem recebidos de uma maneira unânime.

Folha - O sr. relacionaria os conflitos urbanos abordados no filme com a situação político-social da Áustria? Qual seu posicionamento em relação ao governo atual?
Haneke -
"Código Desconhecido" não fala especificamente sobre a situação social da Áustria. É um comentário sobre o estranhamento e xenofobia na França.

Sobre a atual situação política na Áustria, vários artistas têm se manifestado abertamente contra a xenofobia latente do partido de Joerg Haider e, mais recentemente, com as vitórias da esquerda nas eleições municipais daqui. É provável que Haider e seus aliados da direita percam cada vez mais espaço.

Folha - Como o sr. definiria a produção contemporânea de cinema na Áustria? Existe algum apoio oficial à realização cinematográfica?
Haneke -
"Código Desconhecido" é uma co-produção da França, Alemanha e Romênia. É lamentável que o governo austríaco ainda não apóie a produção local.

Fala-se muito em música, em belas artes, mas o cinema ainda é pouco visto, oficialmente, também como manifestação artística e nele se investe pouco ou quase nada. Espero que essa situação mude com os filmes austríacos sendo bem acolhidos internacionalmente, tal como aconteceu no Festival de Cannes (além de "La Pianiste", de Michael Haneke, foram exibidos o longa-metragem de estréia de Jessica Hausner, "Lovely Rita", e o curta-metragem "Null Defizit", de Ruth Mader).

Folha - Em "La Pianiste", sua produção mais recente e premiada em Cannes, o senhor optou por adaptar um romance de Elfriede Jelinek, uma escritora engajada com causas políticas e que tem sido perseguida desde que o partido de Joerg Haider assumiu o governo da Áustria. Sua opção foi deliberada?
Haneke -
O romance me interessa bastante devido à sua forte carga explosiva. Ele fala das relações interpessoais de tirania e de dependência, de voyeurismo e de sadomasoquismo. A história é fascinante pelas suas possibilidades de associações, ela me tomou completamente de assalto: é um comentário aguçado do mundo feminino feito por uma mulher.

Leia a nossa opinião sobre o filme na Crítica Online
 

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