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01/06/2001 - 04h41

"Queremos séries gays na Globo e no SBT", diz critico

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LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

Todos concordam: o título escolhido para o Brasil é péssimo. "Os Assumidos", nome que a série "Queer as Folk" recebeu no país, estréia hoje, à meia-noite, no Cinemax (TVA/DirecTV).

O que chega à TV brasileira é a versão norte-americana do pioneiro "Queer as Folk" inglês, exibido aqui no ano passado pelo Eurochannel. O diferencial dessa série gay em relação às outras foi não economizar em cenas de sexo e mostrar o namoro homossexual com beijos, abraços, afeto. Ou seja, tudo o que não costuma passar de insinuação em outros programas voltados ao público GLS.

O seriado europeu teve apenas 13 episódios. O motivo é o mesmo de sempre: sucesso inesperado de audiência, atores virando celebridades e pedindo fortunas para renovar o contrato. Apesar da curta duração, o seriado causou polêmica.

Nos Estados Unidos, os produtores foram prevenidos e já garantiram em contrato uma primeira temporada de 22 episódios. Exibida lá pelo Showtime, a série teve ótima audiência e já há negociação para a segunda temporada.

Tanto na versão inglesa como na norte-americana, o propósito é abordar o cotidiano de um grupo de amigos homossexuais sem cair no estereótipo, tão comum em grande parte das produções na televisão. O seriado é polêmico também ao tratar de temas como drogas e sexo com menores.

Na última quarta-feira à noite, seis convidados da Ilustrada se reuniram para assistir ao primeiro episódio, em vídeo.

Entre pizzas, guaraná e vinho tinto, o grupo era formado por Beto de Jesus, 38, presidente da Associação da Parada Gay de São Paulo, José Gatti, 50, professor da Universidade Federal de São Carlos e crítico de cinema, Júlio Nascimento, 33, psicanalista com mestrado na PUC sobre homoerotismo, Laura Rebessi, 27, produtora do Festival Mix Brasil da Diversidade Sexual, Maurício Gonçalves, 36, professor de cinema da Belas Artes, e Suzy Capó, 39, jornalista, colunista de sexo e diretora da Associação Mix Brasil.

Ler na caixa da fita o nome "Os Assumidos" causou decepção. Mas a gafe do Cinemax foi recebendo aos poucos o perdão do grupo enquanto a série ia rolando no vídeo. Surgiram comentários de toda natureza, desde os mais militantes, como "eles usaram arquétipos bem gays", até os de pura tietagem, como "eu acho esse ator maravilhoso".

As cenas de sexo foram bem recebidas. "É tudo o que o "Will & Grace" não mostra", disse José Gatti. Essa série, exibida pelo canal pago Sony (Net/Sky), tem como protagonistas uma garota e seu amigo gay.

Mostrar homossexuais, mulheres e homens, namorando, transando, enfim, se relacionando de verdade, é o ponto forte de "Os Assumidos" para o grupo.

"O mais legal da série é que tem beijo e sexo. "Will & Grace" é mais sofisticada, mas não mostra o melhor", disse Gatti. "Estamos cansados de ver filmes gays inteiros, esperar até a última cena e não ver nem um beijo sequer", afirma Júlio Nascimento. "Isso acontece também com as novelas brasileiras, que raramente colocam um gay na trama. O máximo que mostram é um olhar mais insinuante", diz Maurício Gonçalves.

Além das cenas de sexo, Suzy Capó elogiou o fato de a série mostrar romance, "namoro de verdade", entre gays.

"Isso é importante para mudar o senso comum, em que a homossexualidade costuma ser vinculada à sexualidade e não à afetividade." Beto de Jesus concorda: "Muitas vezes as pessoas ficam mais chocadas vendo dois homens ou duas mulheres se beijando, felizes, de mãos dadas, do que transando de fato".

É claro que "Os Assumidos" também recebeu críticas, como a fraca atuação de parte do elenco. Outros problemas, para os convidados, não são específicos de uma produção para gays. "É claro que existe aquela maneira americana de ver as coisas. Todo mundo é lindo. Além disso, não há negros no elenco central", diz Júlio Nascimento.

Mas, para os críticos, o grande mérito de "Os Assumidos" é simplesmente ser uma série pioneira, que rompe o preconceito, fazendo o que seus telespectadores esperavam. "Que venham mais e mais séries assim. E queremos ver seriados gays na TV aberta também, na Globo, no SBT", disse Gatti. Mas, na Record, concordaram todos, "acho que não vai rolar".
 

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