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02/06/2001 - 03h55

Escritores recriam a Guerra do Paraguai

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DENISE MOTA
da Folha de S.Paulo

Ninguém com menos de 130 anos pode testificar ao certo de que forma se abateu a Guerra do Paraguai sobre essa que foi a primeira república popular da América do Sul, no início do século 19, e que deu lugar à terra da instabilidade política, da inexpressividade econômica e do contrabando desenfreado.

Daí que tenha se debruçado sobre o conflito -também conhecido como Guerra Grande, sobretudo no Paraguai- o Prêmio Cervantes Roa Bastos, escritor que encabeça "Los Conjurados del Quilombo del Gran Chaco".

A obra, lançamento da editora Alfaguara, será publicada no Brasil pela editora Record, como "O Livro da Guerra Grande".

"Los Conjurados" recria os acontecimentos que causaram a morte, segundo dados históricos, de 75,8% da população total do Paraguai (e de 96,5% dos homens do país) nos mais de cinco anos (1864-1870) em que resistiu, sem sucesso, à investida da Tríplice Aliança -formada por Brasil, Argentina e Uruguai.

Mas não se trata de análise da guerra: o conflito é narrado a partir de cartas deixadas por um observador britânico, o tradutor e viajante Francis Richard Burton -em missão pela América do Sul por ordem da coroa inglesa-, e pelo viés da ficção.

Do livro também participam escritores de outras das nações envolvidas à época no conflito, hoje curiosamente (e pretensamente) unidas por outra guerra -a comercial- por meio do Mercosul.

Contribuem com as diversas visões da batalha que compõem a obra o escritor brasileiro Eric Nepomuceno, o uruguaio Omar Prego Gadea e o argentino Alejandro Maciel.

"O espírito do livro é contra qualquer guerra", afirma Nepomuceno. "A Guerra do Paraguai foi abjeta, e todos temos uma culpa enorme nesse cartório".

Esconderijo
O eixo em torno do qual se desenvolve a história é uma menção que Burton fez, em uma de suas cartas, a um esconderijo de desertores onde brasileiros e argentinos, uruguaios e paraguaios teriam vivido "juntos, em mútua amizade ou em inimizade com o resto do mundo".

É o mote para Bastos olhar o conflito através da rotina do general argentino Bartolomé Mitre, que, de sua tenda, assiste ao fuzilamento de oficiais e à destruição de pelotões enquanto traduz o "Inferno"
da "Divina Comédia", de Dante. Ao seu lado, um artista, Cándido López, pinta a guerra com a única mão que lhe sobrou após os combates (veja quadro com alguns dos personagens à página E-2).

O carioca Eric Nepomuceno transpõe para o presente os resquícios do remoto conflito, ao narrar a história do resgate de um título de nobreza por um homem solitário e preso ao passado, no Rio de Janeiro.

Na busca pelo direito de ser chamado de barão, ele acaba descobrindo ter entre seus antepassados um certo Florencio Silveira, ardiloso soldado brasileiro que participou da Guerra do Paraguai e que teria tido filhos com mulheres de oficiais dos Exércitos paraguaio e uruguaio.

Alejandro Maciel escolhe tratar das memórias de um soldado que, depois de ter escapado de um ataque paraguaio, recebe de um oficial moribundo a missão de compor a participação argentina na trégua que se articula num território distante dos campos de batalha.

A trajetória de um general, registrada nos diários e cartas que deixou, conduz a narrativa de Omar Gadea. O autor se ocupa em dar voz ao relato do oficial que, do refúgio dos desertores, é designado para a tarefa de assassinar Venancio Flores, então líder do Uruguai, numa tentativa de impulsionar o fim do conflito.

"É complicado chamar o que se passou no Paraguai de guerra. Foi, sim, um genocídio absolutamente covarde", diz Nepomuceno. "Todos somos responsáveis pelo destino patético desse país".

LOS CONJURADOS DEL QUILOMBO DEL GRAN CHACO
Autores: Roa Bastos, Eric Nepomuceno, Omar Prego Gadea e Alejandro Maciel
Editora: Alfaguara (na internet: www.alfaguara.com.ar; lançamento no Brasil pela editora Record, ainda sem data definida)
Quanto: US$ 16 (249 págs.)
Onde encomendar: por R$ 58,90, na livraria Cultura (www.livcultura.com.br)
 

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