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04/06/2001 - 10h11

Grupo Silvio Santos ganha prefeita como aliada contra o Oficina

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RODRIGO MOURA
da Folha de S.Paulo

LEONARDO CRUZ
da Folha de S.Paulo, em Genebra

Tudo de novo no front do Bixiga. O tiroteio verbal entre grupo Oficina e grupo Silvio Santos pelo destino urbanístico do bairro paulistano da Bela Vista avança, com munição oficial desta vez. A prefeita Marta Suplicy (PT) declarou na semana passada, durante viagem a Genebra (Suíça), sua simpatia pelo projeto do conglomerado de TV.

"Conversei com o grupo Silvio Santos sobre o projeto deles. Achei a proposta muito interessante para a cidade, porque recupera o Bixiga. E a recuperação daquela parte da cidade é muito importante", disse a prefeita, que confirmou ter se recusado a assinar um documento favorável à proposta do Oficina.

"Poderia ser de Margaret Thatcher", diz José Celso Martinez Corrêa, diretor do Oficina. "A declaração da prefeita surpreende porque é fala de personagem colonizadora, redutora da cidade a uma feitoria. Dá continuidade à feiúra de São Paulo, considerada como senzala de empregados para a diversão dos ricos provincianos amedrontados. Limpeza. Higienização do centro em plena calamidade social."

Além da construção de um centro de entretenimento de Silvio Santos no entorno do Oficina, que gerou uma negociação mediada pelo Ministério Público, a disputa passou a envolver, nas últimas semanas, novos e poderosos personagens.

O recém-anunciado Projeto Bela Vista Viva reúne o grupo Silvio Santos, dono do teatro Imprensa, a Hudson Petróleo Brasileira, do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), e a multinacional CIE (Corporação Interamericana de Entretenimento), dos teatros Abril, Jardel Filho e Ópera. Todas as casas estão instaladas no bairro.

A idéia, segundo o empresário Marcos Tidemann, diretor-geral do grupo Hudson, é criar um "distrito teatral". "Não gosto do nome Broadway paulista, mas o espírito é esse", diz.

"Queremos devolver o charme à região, para que as pessoas possam circular de um teatro a outro e voltem a se sentir seguras", diz Eduardo Velucci, engenheiro responsável pelo grupo SS.

"O verbo recuperar é totalmente descabido. O projeto, como está concebido e aprovado até agora, "desbixiga" o Bixiga, é o apagão da Bela Vista", avalia Zé Celso.

A arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, que vinha fazendo a mediação da negociação no Ministério Público, lamenta a interrupção do diálogo e avalia com pesar os recentes acontecimentos que envolvem o caso. "Começaram a ofensiva na mídia, anunciando um plano de revitalização da Bela Vista bancado pelos três grupos. Lançam a ação conjunta e tentam caracterizar a ação de resistência do Oficina ao projeto como se fosse a resistência à revitalização."

Carlos Brickmann, porta-voz do grupo SS, refuta a tese de "ofensiva na mídia". "No caso do grupo que eu represento, pode até se dizer que haja esse interesse. Mas se outros grupos apóiam o projeto só pode ser porque ele é bom para a região", diz. "Nosso projeto para área vai ao encontro do projeto da prefeitura para o centro", acrescenta Velucci.

O prédio do Oficina é tombado por resolução do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo) de 1982.

O empreendimento que o grupo SS quer construir se instalaria no entorno do edifício, o que determina que tenha seu anteprojeto aprovado pelo Condephaat. Essa aprovação foi obtida pelo conglomerado de TV, mas a questão foi prorrogada pelo Ministério Público em sessões de negociação entre as partes.

Mesmo com a "documentação completa", o grupo afirma que só vai iniciar as obras quando "não houver divergências", temendo que sejam interrompidas por medidas judiciais.

"As negociações com o grupo SS vão passar pelo crivo da Justiça e por uma possibilidade de contracenação construtiva a partir do momento em que entendam que há outras visões urbanas fora e dentro do mercado", diz Zé Celso.

Impasse

"O mais interessante é as duas propostas existirem sem uma matar a outra. Essa é a questão central do urbanismo desta cidade."

A opinião é da urbanista Raquel Rolnik, autora de "O Que É Cidade" (Brasiliense) e "São Paulo" (Publifolha) -e que vem mediando a negociação entre os grupos Oficina e Silvio Santos.

Para ela, do confronto das duas concepções de cultura e cidade pode surgir um modelo democrático. "O que não deve ser feito, a meu ver, é a eliminação das diferenças e a transformação do centro em um grande shopping center", diz.

"São Paulo tem a chance de apresentar para o urbanismo brasileiro um outro modelo, democrático, ainda mais considerando que a prefeitura agora é do PT. Eles podem responder se tem alguma diferença entre o PT e o PFL. Tem?"
 

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