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07/06/2001
-
05h17
MARCELO RUBENS PAIVA
da Folha de S.Paulo
Teatro de memória é aquele em que é duvidosa a confiabilidade do narrador. É verdade o que está sendo dito no palco? Depende. A memória não é um retrato fiel dos fatos, ela interpreta.
São Paulo viu de raspão a obra do autor e diretor Felipe Hirsch, um
estudioso de "memory play" (teatro de memória).
Sua peça, "A Vida É Cheia de Som & Fúria", que lhe rendeu o Prêmio Shell do Rio de Janeiro de melhor diretor, ficou apenas quatro semanas em cartaz por aqui, lotou num boca-a-boca fulminante -voltavam 200 pessoas por dia- e fez carreira no Rio de Janeiro.
"Som & Fúria", baseada no livro "Alta Fidelidade", de Nick Hornby, volta a São Paulo amanhã e fica seis semanas no Teatro Popular do Sesi.
Depois, Hirsch encena no mesmo teatro a peça "Nostalgia" (de 17/8 a 9/12), um texto seu de 98 sobre a juventude.
No Rio, está em cartaz "A Memória da Água", dirigida por Hirsch, peça da inglesa Shelagh Stephenson com Andrea Beltrão, Eliane Giardini e Ana Beatriz Nogueira.
Hirsch tem apenas 29 anos. É carioca radicado em Curitiba. No Sul e no Rio, é o atual rei do pedaço. Na cidade carioca, ficou em cartaz em 1999 com "Por um Incêndio Romântico" e será o diretor do próximo espetáculo da dupla Marieta Severo e Marco Nanini, "Play",de Nicky Silver, que estréia em janeiro.
O teatro de memória de Hirsch tem história. Com o grupo Sutil Companhia de Teatro, de Curitiba, Hirsch apresentou seu primeiro trabalho profissional em 1993, com "Baal Babilônia". O jogo entre representação e realidade, a verdade falsificada por personagens que narram e a fragilidade da memória são marcas de seus espetáculos, pontuados por projeções em telas transparentes.
O grupo está sempre presente em sua obra. Entre eles, o ator e co-autor Guilherme Weber, protagonista de "Som & Fúria" e diretor-assistente de "A Memória da Água". "Guilherme é um ator de uma técnica monstro, que faz uso do filtro, faz posse sobre os elementos cênicos. Ele é um co-autor, que sabe o que está acontecendo".
Folha - O cinema é sempre incorporado pelo seu teatro?
Felipe Hirsch - Faço um trabalho de teatro de memória, em que há um personagem que conta a história. Há um narrador que cria a movimentação de tempo, o que é diferente da narrativa realista. Isso faz o meu teatro se parecer com o cinema. Se você assume que conta uma história através da memória, entra na lógica proustiana: pode ter acontecido ou não, num contraste entre a memória voluntária e involuntária. "A Memória da Água" acontece em tempo real, mas as personagens falsificam, elas que narram.
Folha - João Falcão é uma referência no seu trabalho?
Hirsch - Tem gente que diz isso. Ele é o grande pensador do teatro contemporâneo. Nossas peças partem de uma idéia, envolvem demais a memória. No entanto meu humor é muito sulista, mais violento, anglo-saxão.
Folha - Por que você só agora aposta em São Paulo?
Hirsch - Existem cinco países no Brasil. Nossa origem é o teatro alternativo de Curitiba. Nós tínhamos visibilidade no Sul há tempos. E em São Paulo as datas nunca coincidiam.
Folha - Incomoda a badalação carioca em torno de você?
Hirsch - Tenho duas vertentes. Faço um trabalho de criação com o meu grupo, Sutil Companhia de Teatro. Nos meus espetáculos, trabalho com as mesmas pessoas, do som à tradução. Mas não somos uma companhia de atores. Os atores são convidados. Não queremos nos limitar sempre ao mesmo casting. São espetáculos que ficamos dois anos criando.
Folha - E a segunda vertente?
Hirsch - Faço com a minha companhia, mas tem mais apoio da mídia, atores famosos que me procuram. Procuro encaixá-los no meu núcleo de criação.
Teatro: São Paulo volta a possuir "Som & Fúria"
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da Folha de S.Paulo
Teatro de memória é aquele em que é duvidosa a confiabilidade do narrador. É verdade o que está sendo dito no palco? Depende. A memória não é um retrato fiel dos fatos, ela interpreta.
São Paulo viu de raspão a obra do autor e diretor Felipe Hirsch, um
estudioso de "memory play" (teatro de memória).
Sua peça, "A Vida É Cheia de Som & Fúria", que lhe rendeu o Prêmio Shell do Rio de Janeiro de melhor diretor, ficou apenas quatro semanas em cartaz por aqui, lotou num boca-a-boca fulminante -voltavam 200 pessoas por dia- e fez carreira no Rio de Janeiro.
"Som & Fúria", baseada no livro "Alta Fidelidade", de Nick Hornby, volta a São Paulo amanhã e fica seis semanas no Teatro Popular do Sesi.
Depois, Hirsch encena no mesmo teatro a peça "Nostalgia" (de 17/8 a 9/12), um texto seu de 98 sobre a juventude.
No Rio, está em cartaz "A Memória da Água", dirigida por Hirsch, peça da inglesa Shelagh Stephenson com Andrea Beltrão, Eliane Giardini e Ana Beatriz Nogueira.
Hirsch tem apenas 29 anos. É carioca radicado em Curitiba. No Sul e no Rio, é o atual rei do pedaço. Na cidade carioca, ficou em cartaz em 1999 com "Por um Incêndio Romântico" e será o diretor do próximo espetáculo da dupla Marieta Severo e Marco Nanini, "Play",de Nicky Silver, que estréia em janeiro.
O teatro de memória de Hirsch tem história. Com o grupo Sutil Companhia de Teatro, de Curitiba, Hirsch apresentou seu primeiro trabalho profissional em 1993, com "Baal Babilônia". O jogo entre representação e realidade, a verdade falsificada por personagens que narram e a fragilidade da memória são marcas de seus espetáculos, pontuados por projeções em telas transparentes.
O grupo está sempre presente em sua obra. Entre eles, o ator e co-autor Guilherme Weber, protagonista de "Som & Fúria" e diretor-assistente de "A Memória da Água". "Guilherme é um ator de uma técnica monstro, que faz uso do filtro, faz posse sobre os elementos cênicos. Ele é um co-autor, que sabe o que está acontecendo".
Folha - O cinema é sempre incorporado pelo seu teatro?
Felipe Hirsch - Faço um trabalho de teatro de memória, em que há um personagem que conta a história. Há um narrador que cria a movimentação de tempo, o que é diferente da narrativa realista. Isso faz o meu teatro se parecer com o cinema. Se você assume que conta uma história através da memória, entra na lógica proustiana: pode ter acontecido ou não, num contraste entre a memória voluntária e involuntária. "A Memória da Água" acontece em tempo real, mas as personagens falsificam, elas que narram.
Folha - João Falcão é uma referência no seu trabalho?
Hirsch - Tem gente que diz isso. Ele é o grande pensador do teatro contemporâneo. Nossas peças partem de uma idéia, envolvem demais a memória. No entanto meu humor é muito sulista, mais violento, anglo-saxão.
Folha - Por que você só agora aposta em São Paulo?
Hirsch - Existem cinco países no Brasil. Nossa origem é o teatro alternativo de Curitiba. Nós tínhamos visibilidade no Sul há tempos. E em São Paulo as datas nunca coincidiam.
Folha - Incomoda a badalação carioca em torno de você?
Hirsch - Tenho duas vertentes. Faço um trabalho de criação com o meu grupo, Sutil Companhia de Teatro. Nos meus espetáculos, trabalho com as mesmas pessoas, do som à tradução. Mas não somos uma companhia de atores. Os atores são convidados. Não queremos nos limitar sempre ao mesmo casting. São espetáculos que ficamos dois anos criando.
Folha - E a segunda vertente?
Hirsch - Faço com a minha companhia, mas tem mais apoio da mídia, atores famosos que me procuram. Procuro encaixá-los no meu núcleo de criação.
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