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12/06/2001 - 07h12

Lobão leva à Europa música em que critica Caetano Veloso

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MARCELO BARTOLOMEI
Editor de Entretenimento da Folha Online

O cantor Lobão, conhecido por enfrentar o mercado fonográfico ao lançar, em 99, um CD independente que vendeu 100 mil cópias em bancas de jornais, abre agora um novo round de sua atribulada carreira, não contra empresários do setor, mas com Caetano Veloso, ícone da música brasileira.

Em seu novo show, que ele apresentará na Europa a partir de agosto, Lobão canta uma "homenagem" a Caetano, uma réplica, segundo o que ele próprio diz, a 20 anos de indignação com o pensamento do músico baiano e, principalmente, a uma das faixas do disco "Noites do Norte", chamada "Rock'n'Raul".

Lobão, que dá continuidade ao trabalho que fez em "A Vida é Doce", lançou a canção "Para o Mano Caetano" no Fest Rock Brasília, num show que fechou a madrugada de domingo entre outras atrações locais, nacionais e internacionais.

"Caetano é uma pessoa que eu adoro, que eu amo, mas com quem eu tenho profundas divergências estéticas, filosóficas, existenciais e de pensamento. É uma pessoa que me sensibiliza muito tanto para o bem quanto para o mal", disse Lobão, horas antes de fazer o show de estréia de "Para o Mano Caetano".

DVD

Lobão ainda não apresentou "Para o Mano Caetano" comercialmente justamente porque lançará a música junto de "Lullaby", outra composição inédita, em Portugal, num DVD produzido em parceria com o canal pago Multishow, que gravou um show do cantor no Rio de Janeiro no último dia 6 e vai exibi-lo na TV a partir de setembro.

No Brasil, será lançado somente o DVD "Lobão 2001 - Uma Odisséia no Universo Paralelo". O CD, que é resultado do show, não. Será vendido somente na Europa e chega a Portugal com 20 mil cópias já vendidas. A diferença dele para o que pode ser comprado nas bancas de jornais do Brasil são exatamente as duas músicas inéditas.

"Para o Mano Caetano" surgiu depois de uma gravação para o "Programa do Jô", na Globo, onde Lobão diz ter se sentido boicotado porque, no mesmo dia, disputava as atenções com Caetano. "Daí ele começou a dizer um monte de coisa que eu não concordo. E o Jô mostrou o CD novo dele e o meu não, eu tive de tirar ele da manga e mostrar", disse o músico.

No dia, Caetano apresentava a música "Rock'n'Raul". "Eu nunca mais ouvi aquela música, foi só naquele momento. Várias coisas pegaram na letra: é uma homenagem escorregadia, ambígua, ele não pode fazer uma homenagem a um grande inimigo dele, que está enterrado e não pode falar nada."

Lobão disse não ter concordado também com a fala que "todo brasileiro gostaria de, um dia, ser americano". "Isso não é verdade, ele estava me incluindo. Eu levantei e falei que algo estava errado. Rapidamente, ele falou sobre detalhes delicados da minha vida, com quem eu estudei e como foi minha formação. Ele disse até que tinha comprado meu CD na banca, que recomendava, foi um garoto-propaganda", afirmou. "Eu fiquei quase implodindo. Eu venho retrucando Caetano sistematicamente muitas e muitas vezes e tenho obtido o silêncio."

A letra

Depois do episódio, que, segundo Lobão, foi melhor "deixar quieto", ele resolveu escrever uma crônica para o site "El Foco" lembrando o que havia acontecido, e dali surgiria a canção, de palavras contundentes e um ritmo heavy-metal pesadíssimo.

"A letra conta a história de 20 anos de indignações e paixões em relação ao Caetano. A letra ficou muito caetânica porque ela ficou muito ambígua. Até na primeira pessoa do singular eu não sei se sou eu ou ele, se estou declarando meu amor a eu (sic) ou a ele. Citações e caricaturas que eu faço são de um conhecimento prévio que eu tenho sobre ele."

A crítica mais explícita, já que, segundo Lobão, a música é totalmente subjetiva, está nos versos "Amado Caetano: Chega de verdade/Viva alguns enganos/Viva o samba, meio troncho,/Meio já cambaleando/A bossa já não é tão nova/Como pensam os americanos". Não faltam citações à carreira de Caetano como quando ficou no exílio: "Meu amado Caetano/Me ensinando a falar inglês/London, London...".

Na letra, Lobão cita Santo Amaro da Purificação, onde Caetano nasceu, fala de suas músicas e de sua maneira de aparecer na mídia, criticando os atos do músico baiano. "Não é uma homenagem, é uma declaração de amor. Eu chego até a chorar no final da música... o tom da minha voz é explícito. Não quero que seja um deboche, é muito emotivo."

"Para o Mano Caetano" já tem um videoclipe pronto e sua letra pode ser encontrada na internet, no site de Lobão (www.lobao.com.br).

Segundo ele, que apresentou a canção no show como "uma canção de amor", a principal crítica é ao cinismo da tropicália. "É conseguir se contradizer sem culpa."

Lobão garante: "Para o Mano Caetano" não é uma música de protesto. "Eu decretei a falência da música de protesto, pois a revanche é uma música de protesto, é sui generis. Ela só surgiu quando ela cabia. O protesto pressupõe uma ingenuidade, um ressentimento, um ódio... eu tenho uma relação com o ódio muito tranquila. Eu sou baterista e aprendi que porrada sublima o ódio, que é uma coisa bacana. O ressentimento é horrível. O amor e o ódio andam juntos."

"A Vida é Doce" é uma metalinguagem de tudo o que acontece hoje, diz o cantor.

Outro lado

Procurada, a assessoria de imprensa de Caetano Veloso no Rio de Janeiro não quis se pronunciar sobre as opiniões de Lobão.

A Folha Online tentou falar com a assessora de Caetano, Gilda Matoso, ontem, durante todo o dia, mas ela nem sequer atendeu a reportagem, se limitando a enviar recados por meio de outros profissionais que trabalham em seu escritório.

Leia também:

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