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13/06/2001 - 04h02

Cinema: Giorgetti mostra intelectualidade sombria

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da Folha de S.Paulo

"Eu me conformei com a escuridão", diz o cineasta Ugo Giorgetti, 59. Embora o conformismo e a nebulosidade não pareçam condizentes com o estado de espírito de quem inicia hoje as filmagens de seu quinto longa-metragem, a frase se justifica. "No começo de um filme, a gente nunca sabe onde ele vai dar".

O início, contudo, é certo. Numa feira livre na Vila Mariana, bairro paulistano, serão tomadas as primeiras cenas de "O Príncipe", produção orçada em R$ 1,8 milhão na qual Giorgetti assina também o roteiro.

Num cenário dominado por feirantes e consumidores, o protagonista, interpretado pelo ator Eduardo Tornaghi, irá saborear um engordurado pastel, como quem comete uma contravenção.

"Que se dane o colesterol. As coronárias, porra! Eu sonhava com isso!", é o comentário de Gustavo para Hilda (Márcia Bernardes), a mulher de seu sobrinho Mário (Ricardo Blat), cuja internação em um hospital psiquiátrico o traz de volta ao país depois de um longo exílio voluntário em Paris.

O retorno de Gustavo a uma São Paulo que em duas décadas se tornou outra é o mote de Giorgetti para abordar "o que nos tornamos". Nós, no caso, é uma certa intelectualidade classe média paulistana.

Personagens reconhecíveis
No filme, a transformação dos jovens promissores com tendências de esquerda em "habitués" de um universo que Giorgetti classifica como "culturatti" terá de ser adivinhada. "Não me interessa como chegamos a isso, mas o que somos agora", diz o cineasta, que vê nesse panorama uma realidade muito sombria.

"É triste ver a ânsia de cultura da classe média e o que se oferece a ela como sendo produto cultural", diz. Por ter uma pontaria certeira "numa cidade e em alguns de seus habitantes", "O Príncipe" conta personagens facilmente reconhecíveis.

Apenas no caso de Hilda, homenagem à fotógrafa Marlene Bergamo, fotógrafa da Folha, Giorgetti admite revelar a identidade do personagem real que inspirou o da ficção. "No caso dela, é um exemplo positivo".

Não se pode dizer o mesmo de Maria Cristina (Bruna Lombardi), responsável pelas decisões de investimento em projetos culturais de uma grande empresa, ou do produtor de eventos Marino Estevez (Ewerton de Castro).

No elenco de "O Príncipe" tomam parte ainda Otávio Augusto, Elias Andreato, Thiago Pinheiro, Lygia Cortez, Felipe Folgosi e Nídia Alícia, no papel da mãe de Gustavo.

Antes mesmo que a crise energética tivesse ocupado a pauta do dia no país, Giorgetti havia desenhado uma queda de luz no diálogo de reencontro dos ex-amantes Gustavo e Maria Cristina.

Com muitas cenas externas e noturnas previstas, o cineasta não se inquieta com a possibilidade de enfrentar os apagões que já começaram a atingir São Paulo. Ao contrário, acha pertinente registrar uma cidade às escuras, num filme em que trata do obscurantismo intelectual.

Pessimista por escolha e cínico por cultivo, o cineasta que dedicou 30 anos de carreira à publicidade diz que, se pudesse, falaria apenas sobre técnica cinematográfica, assunto que mais lhe interessa e prática que mais o divertiu até hoje, na realização de filmes como "Festa", "Sábado" e "Boleiros". "Depois que ficar pronto, ninguém irá vê-lo, e os cariocas ainda dirão que é filme paulista. Mas temos que fazê-los".
(SILVANA ARANTES)
 

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