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23/06/2001 - 04h38

Exposição: SP vê México que Juan Rulfo não escreveu

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FRANCESCA ANGIOLILLO
da Folha de S.Paulo

Quando, no início dos anos 70, o arquiteto Victor Jiménez viu entrar em sua sala o escritor Juan Rulfo (1918-1986), trazendo consigo uma caixa de sapatos cheia de negativos, não entendeu nada.

"O senhor é fotógrafo?", perguntou, confuso, ao já consagrado autor de "Pedro Páramo" (1955), que lhe encomendara uma casa de campo e, por isso, costumava visitá-lo em seu escritório para acompanhar o projeto.

Responsável pela exposição "México - Juan Rulfo Fotógrafo", que o Memorial da América Latina inaugura esta tarde, o arquiteto nos dá uma resposta: sim, Juan Rulfo era fotógrafo.

"Deve-se frisar que ele não dedicava seu tempo livre à fotografia; ele a exercia com a mesma intensidade que a literatura", diz, por telefone, à Folha, horas antes de embarcar para São Paulo.

Foi também Jiménez -que se tornou amigo do escritor e hoje dirige a fundação que leva seu nome, mantida pela família de Rulfo, na Cidade do México- quem incitou o tímido autor a exibir suas habilidades fotográficas.

"Perguntei se ele não tinha cópias em papel, porque seria mais fácil de ver que negativos, mas ele disse que, quando as tomara, não tinha muito dinheiro, então ampliara umas poucas; foi aí que pensei que poderíamos reproduzi-las e exibi-las na universidade".

Parte do acervo de imagens (que contabiliza quase 7.000 negativos) foi exposta em uma homenagem nacional ao escritor em 1980. Foi assim que se deu a conhecer o fotógrafo Juan Rulfo.

"Ele tinha um projeto fotográfico paralelo ao literário, mas seu sucesso como escritor pôs o fotógrafo em recesso. Era muito modesto e, por isso, sabe-se tão pouco sobre suas outras atividades".

As atividades incluem incursões no cinema -escreveu roteiros e co-dirigiu filmes, caso de "El Despojo", que Jiménez classifica como "experimental" e no qual não usou atores profissionais, mas moradores do vilarejo onde filmou, sem roteiro prévio.

Depois dos anos 50 e até sua morte, Rulfo trabalhou no Instituto
Nacional Indigenista, onde editou uma coleção de 30 livros de antropologia que mapeia os povos indígenas mexicanos.

Jiménez antecipa que uma grande mostra, em setembro, cobrirá todas as áreas de atuação de Rulfo, ocupando o Palácio de Belas Artes, na Cidade do México, com exposições e debates. As fotos que chegam hoje a São Paulo também estarão lá.

"Mãe" espanhola
A mostra que o memorial inaugura acontece paralelamente a uma versão maior, que está em cartaz desde abril em Barcelona.

A primeira idéia de montar uma exposição de fotos de Rulfo no Brasil, no entanto, veio de uma estudiosa de sua obra em São Paulo, Simone Montoto -que estará em mesa-redonda que antecede a abertura da mostra.

"Pensávamos em usar uma seleção de obras que já tínhamos, mas foi quando apareceu o projeto dessa editora espanhola, que queria fazer, além do livro, a exposição. Propus então fazer um jogo das mesmas fotografias para apresentar em São Paulo, com o que ganhamos um catálogo".

Por estar vinculada à escolha de fotos para o livro, no entanto, a exposição não abarca todas as características de sua produção fotográfica.

"Existem fotos de caráter mais experimental e também retratos de artistas contemporâneos seus. Os editores, no entanto, selecionaram imagens do México em que ele havia vivido".

"Rulfo andou a pé por montanhas e estradas. Muitas dessas fotografias mostram seu deslocamento. O México dos camponeses lhe interessava e, por isso, está muito presente".

Apesar de os livros de Rulfo trazerem os mesmo temas que as fotos, Jiménez ressalta que, se "é a história do México, ele mesmo dizia, a sugerir-lhe sua literatura, a relação entre elas é indireta, triangular. No terceiro vértice, está a história, a geografia".

"Muitos podem dizer que aqui está o mundo de "Pedro Páramo'; algumas fotos fazem uma evocação bem forte", entende o curador. Mas ressalta: "Suas fotografias não são as imagens que faltam em seus livros; nem a literatura é a legenda das fotos. Talvez um dos méritos dessa exposição seja sugerir o mundo de sua literatura".

MÉXICO - JUAN RULFO FOTÓGRAFO - 104 fotografias em preto-e-branco feitas pelo escritor Juan Rulfo (1918-1986)
Onde: galeria Marta Traba do Memorial da América Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, tel. 0/ xx/11/3823-9611)
Curadoria: Victor Jiménez. Abertura hoje, a partir das 11h, com a mesa-redonda "Releituras de Juan Rulfo, Imagens e Signos", com Simone Montoto e José Amálio Branco Pinheiro, na biblioteca Latino-Americana, seguida de vernissage às 12h, na galeria.
Quando: de ter. a sex., das 10h às 16h; sáb. e dom., das 10h às 18h, até 15/7.

MÉXICO - JUAN RULFO FOTÓGRAFO (livro) - 187 fotos e textos de Carlos Fuentes, Victor Jiménez, Margo Glantz, Erika Billeter, Jorge Alberto Lozoya e Eduardo Ribero. Editora: Lunwerg (Barcelona, Espanha). 222 págs., R$ 90 (à venda na galeria Marta Traba, durante o período da mostra).
 

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