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26/06/2001 - 03h55

Inglês quer ver moda criativa em SP

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DARIO CALDAS
especial para a Folha

O escritor e jornalista inglês Collin McDowell respondeu por fax às perguntas da Folha, de seu escritório em Londres, logo depois de ter chegado da temporada de moda de Sydney, na Austrália. McDowell está fazendo a curadoria de uma retrospectiva do estilista John Galliano e chega a São Paulo amanhã, para os desfiles.

Folha - O sr. acha possível comparar a ascensão de São Paulo como capital de moda com o que aconteceu com Milão, nos anos 70 (quando a indústria da moda local teve de implantar a temporada em Milão para fazer frente ao prêt-à-porter francês)?
Collin McDowell -
É cedo demais para posicionar o valor do Brasil nos termos da moda italiana, e eu particularmente ainda não vi a moda brasileira. Entretanto, os relatos que ouço são bem encorajadores -e, lembre-se, o "milagre" da moda italiana dos anos 70 levou dez anos para acontecer.

Folha - O que faz de uma cidade uma capital da moda?
McDowell -
As modernas capitais fashion devem ter talentos, uma boa infra-estrutura de mídia e negócios, um treinamento de moda forte e programas de educação. Um estilo de vida que encoraje uma maneira estilosa de viver (lojas modernas, restaurantes, clubes e festas de gala) e uma classe média capaz de ter o suficiente para gastar em roupas e num estilo de vida "fashionable". No momento, somente Nova York tem todas essas características, mas isso não impede que outras cidades (que tenham pelo menos algumas dessas coisas) sejam fortes -e isso inclui o Brasil. Uma moderna capital fashion precisa de tipos diferentes de design, mas precisa ter pelo menos um grande talento.

Folha - O sr. vê uma ruptura entre "roupas para serem vistas" e "roupas para serem usadas". Dessa perspectiva, quais são as funções da vanguarda da moda, hoje?
McDowell -
A função da moda de vanguarda, nos dias de hoje, é a mesma de sempre: chocar, surpreender, causar prazer e amedrontar o resto de nós com sua originalidade. Ela deve prover idéias que outros possam usar para fazer roupas usáveis e bonitas. Um verdadeiro estilista é como um artista: ele está sempre atento ao que os outros estão fazendo, mas nunca os copia.

Folha - O sr. definiu a moda da seguinte maneira: "A moda tornou-se importante como um catalisador que torna possível o desenvolvimento em muitas áreas. (...) A moda tornou-se a força criativa que mais influencia a todos nós". Nesse sentido, o sr. concorda que o jornalista de moda tem uma séria responsabilidade? Como o sr. define o crítico de moda?
McDowell -
Os jornalistas de moda deveriam ter um papel muito sério mas, de fato, esse papel está sendo diminuído porque os seguidores da moda estão mais interessados em imagens do que em palavras; os estilistas não gostam de ser criticados (mesmo quando de maneira construtiva); e editores de jornais e revistas vêem a moda como algo desimportante, ou de exclusivo interesse para mulheres. As coberturas de moda de jornais e revistas são frequentemente superficiais e bobas porque é isso o que a maioria dos leitores quer. A prova de decadência da cobertura de moda é constatada, por exemplo, pela obsessão da mídia por "celebridades".

Folha - Quando o sr. vê um novo "jovem criador", o que diferencia um estilo criativo e promissor de uma estéril excentricidade?
McDowell -
Raramente vejo o desfile de um novo estilista até que ele tenha produzido um ou dois desfiles, porque acho que o talento precisa ser desenvolvido com o tempo. Infelizmente, os estilistas sentem a necessidade de conseguir manchetes de jornal muito cedo em suas carreiras, então eles tendem a tentar ser memoráveis através do choque. Por sorte, as únicas pessoas que podem realmente construir um nome são os críticos que se sentam nas primeiras filas dos desfiles. Como eles já viram tudo, não ficam facilmente chocados e podem separar rapidamente os dublês baratos dos talentos de verdade. No fim, o talento tem por base a inteligência e, quando se tem alguma coisa única a dizer, isso se torna claro muito rapidamente.

Folha - O sr. certamente conhece alguns estilistas brasileiros e tem algumas informações sobre a moda local. Então, o que o sr. espera ver no Brasil?
McDowell -
Espero que a moda do Brasil seja excitante, inteligente e que reflita o estilo de vida e da cultura do país, sendo diferente do que encontramos na Europa e em Nova York. Se não for diferente conceitualmente, para que existiria, então? Globalmente, já vimos muitos talentos. O Brasil poderá servir como centro de moda somente se encontrar algo único para trazer ao mundo. Espero e conto com isso.

Folha - O seu conselho para os designers brasileiros que desejam ter uma presença internacional?
McDowell -
Eles devem criar algo único para si próprios, devem resistir à tentação de imitar os estilistas europeus, como Alexander McQueen e John Galliano, e devem ter orgulho em refletir a cultura de seu país. Acima de tudo, devem perseguir seus sonhos e tentar não se comprometer.

Folha - O último evento revolucionário da moda, na sua opinião, foi o uso de calças pelas mulheres, nos anos 40. Para alguém que já viu quase tudo, como o sr., existe algo realmente novo no ar?
McDowell -
O motivo pelo qual nunca fiquei entediado com a moda é que sempre existe algo de novo no ar, mesmo que seja raramente radical e difícil de atingir, como quando as mulheres adotaram as calças compridas. A área que considero que será realmente revolucionária nos próximos anos é a que vai redefinir a sexualidade masculino/feminino, mas não tenho idéia do que será. Só os estilistas sabem.

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