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29/06/2001 - 04h53

Cantor e político, Fagner volta às inéditas

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da Folha de S.Paulo

"O disco é secundário", "o ambiente musical brasileiro não está nenhuma Brastemp", "sou filiado ao PSDB, infelizmente; com um presidente desse não precisa ter inimigo", "não tenho interesse em viver de lobby de público ou de crítica", "o mercado está exageradamente comercial", "vivo num país de impunidade".

As frases acima têm em comum pertencerem ao mesmo dono, que,
diferentemente do que possa parecer, não é trombone de oposição nem nenhum ninja suicida. Ao lançar seu 31º álbum, o cearense Fagner, 51, exibe nas impressões que profere a figura controversa que é.

Cantor e compositor que não teme criticar sua própria e poderosa gravadora, a Sony ("quando relançou meus discos, foi do modo mais seboso possível; meu público fica irado e não tem com quem reclamar"), nem por isso se arrisca a se tornar "outsider".

Nada disso. Correligionário e amigo próximo dos políticos Tasso Jereissati e Ciro Gomes, Fagner tem cargo de conselheiro no Estado do Ceará e poder suficiente para desdenhar a indústria fonográfica, se necessário for: "Eu vinha um pouco acomodado e enfastiado do meio musical e das gravadoras. Por isso volto com um disco como não fazia havia muito: autoral, inédito, de poesia mais densa, com parceiros novos".

É falastrão quanto a seu papel político no Ceará: "Eu elejo prefeito, faço campanha, minha palavra é ordem. Mas troco moeda com o Estado para proteger o povo. Ciro Gomes é meu amigo, minha cria. Só não rasgo minha carteirinha de filiado ao PSDB porque Tasso está lá. Virou um partido de vergonha, com esse governo que está aí".

Comportamento de coronel, seu Fagner? "Pelo meu temperamento de filho de libaneses, meio bruto, eu até seria mandão. Várias coisas acontecem e até dá vontade de ser coronel mesmo, mas a vida ensina, você vai aprendendo a ter um olhar mais generoso", safa-se.

Ex-diretor artístico do selo Epic, da Sony, à qual ele voltou a pertencer em 2000, não encena uma relação harmoniosa com a gravadora: "Tenho uma pendência jurídica e financeira muito grande lá, de contas antigas que sumiram. São acertos da antiga, é interesse deles e meu recuperar. Voltei para cuidar dos meus ovos".

Não esclarece a situação, mas se exibe investido de autoridade para se mover na Sony: "Quero relançar projetos que fiz sobre Patativa do Assaré e Picasso, dar chance a coisas que não sejam estritamente comerciais, como tudo no mercado atual".

A reclamação não seria contraditória a um artista que iniciou carreira apostando em extremo experimentalismo ("Manera Frufru Manera", de 73, e "Orós", de 76) e fez fortuna com a breguice de "Borbulhas de Amor" (91)?

"Já experimentei demais, o experimentalismo como experiência já não me cabe", esguia-se. "Saí do experimentalismo para entrar no populismo, mas não no de Getúlio Vargas nem no de FHC. Atendo às necessidades do meu público e às minhas".

Seguindo o raciocínio raspa nas desavenças com Caetano Veloso, nos 70, quando disputaram espaço dentro da gravadora Philips ("até hoje não sei por que briguei com ele, mas sei que de parte da imprensa amante de Caetano houve um gelo em mim"):

"No Brasil, só Caetano Veloso e Nelson Motta não envelhecem nunca. Não quero ficar alugando a cabeça dos jovens o tempo todo. Estou fora de alimentar a rebeldia dos primeiros anos. Continuo com os mesmos princípios, mas encontrei meios mais diplomáticos de expressar minha rebeldia".

Entre os novos parceiros, o maranhense Zeca Baleiro é o mais presente no novo CD -é co-autor de três canções e canta numa delas. "Ele fez um show no Ceará e fomos jantar. Não nos largamos mais, virou parceiro e amigo. Sua presença foi uma das grandes motivações para mim nesse CD".
(PAS)

Leia a nossa opinião sobre o CD na Crítica Online
 

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