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01/07/2001 - 09h51

Guerra vespertina: Vale-tudo domina as tardes da televisão

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CLÁUDIA CROITOR
da Folha de S.Paulo

A câmara focaliza um pé calejado e um alicate tenta cortar uma unha grossa, comprida e amarelo-acinzentada. Um toque no controle remoto e surge na tela uma modelo tirando sua lingerie vermelha e entrando no banho. Segue-se um debate com outras modelos desconhecidas que já posaram nuas. Mais um toque no controle e aparece um padre no comando de uma sessão de exorcismo, da qual participa uma moça, que está caída no chão. Muda-se novamente de canal, e a mulher do cantor sertanejo Christian, num consultório médico, acaba de descobrir o sexo de seu bebê por um exame de ultra-som.

As cenas acima descritas, exibidas respectivamente pelos programas "Mulheres" (Gazeta), "Melhor da Tarde" (Bandeirantes), "A Casa É sua" (Rede TV!) e "Note & Anote" (Record), são uma amostra do vale-tudo que toma conta dos programas chamados femininos, exibidos nas tardes das emissoras.

Para se sustentar no ar por, em média, quatro horas, diariamente e ao vivo, os vespertinos fazem uma verdadeira miscelânea de assuntos, que muitas vezes acabam descambando para um "show de horrores".
De debates sobre questões judiciais a dicas de como se maquiar para um casamento noturno, passando por amostras de erros médicos, há tempos os programas femininos da tarde deixaram de apenas ensinar receitas e artesanato.

O campeão desse tipo de "variedades" talvez seja o tradicional "Mulheres", da Gazeta, no ar há cerca de 20 anos. O programa consegue ir de uma entrevista com o técnico Wanderley Luxemburgo a um desfile de lingerie em poucos minutos.

Debates com temas como "Samba de raiz ou samba moderninho? Qual dos dois vocês preferem?" são seguidos por fofocas da exótica Mamma Bruschetta e consultas telefônicas com uma tal de vidente Rosa. Num dos programas, uma mulher, só com o olhar, "revelava os segredos" de Aguinaldo Timóteo. "O seu pescoço mostra o quanto você foi criticado e o quanto você teve ojeriza dessas críticas. E na sua sobrancelhas há a linha do temperamental", dizia ela.

De entrevista com Wanderley Luxemburgo a ginásticas para a terceira idade ao som de músicas juninas, vale tudo para preencher as quatro horas de programação ao vivo

Ao menos o programa superou a fase "barraco", em que tratava exclusivamente de temas como adultérios de jogadores de futebol, pedidos de pensão, operações para troca de sexo, promovendo discussões com as pessoas envolvidas.

A mudança se deve principalmente à saída de Marcia Goldschmidt, que foi tratar desses assuntos em um programa próprio na Bandeirantes (leia texto ao lado), e à chegada de Clodovil e Christina Rocha. "Temos um programa tradicional, e, com a chegada dos dois, buscamos voltar à revista feminina", diz Marinês Rodrigues, superintendente de programação da Gazeta.

A fórmula, ao que parece, é a que mais dá certo. O "Note & Anote", da Record, que já foi comandado por Ana Maria Braga, pode ser considerado a típica "revista eletrônica feminina" e é o campeão nessa guerra pequena pela audiência -já que vence com sua média de apenas três pontos no Ibope.

Comandado por Claudete Troiano, que veio do "Mulheres", o programa é centrado na culinária e em dicas para donas-de-casa, embora não deixe de lado temas "exóticos", como promover, na rua, um concurso de imitadores da Ivete Sangalo.

"Temos um programa voltado para a dona-de-casa, em que ela já sabe que sempre vai encontrar dicas, receitas etc. Por causa disso, temos oito dos dez maiores anunciantes de produtos voltados para esse público", diz Claudete. "Não estava feliz com o formato que o "Mulheres" tinha, com muita fofoca, mulheres dançando em trajes mínimos, muitos debates; estava me transformando no Ratinho da tarde."

Já Sônia Abrão, que comanda o "A Casa É sua", na Rede TV!, pensa diferente. "Odeio culinária, artesanato, essas coisas. Quero ter um programa mais informativo, mais jornalístico", afirma.

E ao dizer "jornalístico" ela está sendo literal, já que passa uma boa parte do programa apenas lendo notícias de jornais e revistas. "Sempre assisti a pessoas "chupando" as informações da minha coluna no jornal e dizendo que eram delas. Eu, pelo menos, mostro as notícias e digo quem fez."

Além das notícias, a apresentadora vende produtos para emagrecer ou moedas de santo Expedito -como acontece em todos esses programas, aliás- e vez ou outra mostra alguma deformidade, como fez com a plástica malsucedida da apresentadora Cristina Nicolotti.

Embora de uma outra forma, o jornalismo é também a característica do "Melhor da Tarde", da Band. Último a entrar na guerra vespertina, o programa -apresentado por Astrid Fontenelle, pelo fofoqueiro ex-"Mulheres" Leão Lobo e pela numeróloga Aparecida Libertato (a irmã de Gugu)- costuma ser o mais atualizado, abordando os acontecimentos do dia e promovendo debates sobre eles.

Na semana em que morreu Marcelo Frommer, guitarrista dos Titãs, por exemplo, o programa mostrou o enterro, promoveu um debate com o presidente do sindicato dos motoboys e outro sobre "o processo do luto".
Enquanto a Record também mostrava o sepultamento, Sônia Abrão na Rede TV! conversava por telefone com um vidente que teria previsto um acidente com "um roqueiro que gostava de caminhar", e o "Mulheres" contava "todos os segredos" da maquiagem definitiva.

MELHOR DA TARDE - Bandeirantes, 13h
MULHERES - Gazeta, 14h
NOTE & ANOTE - Record, 14h
A CASA É SUA - Rede TV!, 14h30


 

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