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01/07/2001 - 09h56

Marcia apela para bate-bocas e relatos de desgraças

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CLÁUDIA CROITOR
da Folha de S.Paulo

Não aguento mais conviver com um tarado." A frase, estampada na tela da Bandeirantes em um fim de tarde, há alguns dias, mostrava o tema do dia do debate comandado por Marcia Goldschmidt, levado ao ar diariamente pelo canal. Uma moça dava seu depoimento, e a legenda mudava para: "Meu primo é viciado em sexo".

Uma das apostas da Band para sua nova programação, que estreou há um mês, em busca de um aumento da audiência da emissora, o "Hora da Verdade" já mostrou que é, de fato, uma reedição do telebarraco "Márcia", exibido pelo SBT entre 97 e 98.

O programa, que tem como proposta "mostrar dramas pessoais e ser um espaço de denúncia e defesa do consumidor", segundo o diretor de programação da Band, Rogério Gallo, invariavelmente acaba com um bate-boca entre as partes envolvidas. Há alguns dias, por exemplo, um patrão e seus ex-funcionários, demitidos supostamente sem razão, discutiam no programa -"Você não pagou nossos direitos", "Paguei", "Não chama a gente de palhaço"-, enquanto apareciam na tela legendas como "Ei! Patrão, tô na rua. Cadê meus direitos?".

Dias depois, era a vez de uma família se digladiar na frente das câmeras. A mulher acusava o marido de a espancar, o marido rebatia: "A mulher quando presta não apanha". Mães, sobrinhos, vizinhos esquentavam a briga. E as tradicionais legendas: "Desespero! Mulheres espancadas querem vingança!".

Para participar da atração, é preciso se inscrever por meio de um número de telefone divulgado durante a programação da emissora. São convidados a ligar para fazer parte do "Hora da Verdade" quem se encaixa em categorias do tipo "Meu pai é gay", "Meu companheiro é um grosseirão", "Minha ex me inferniza" ou "Fui traída e fui a última a saber".

Mas, às vezes o baixo nível do programa não fica apenas no campo verbal. No último dia 14, por exemplo, sob o título "Ei, doutor! Paguei para ficar mais feia", pessoas que tiveram problemas com operações plásticas foram ao programa mostrar suas deformidades na tela e "exigir justiça". O que se seguiu foi um festival de imagens de virar o estômago. Uma mulher levou fotos de sua barriga necrosada, que eram exibidas em close vezes seguidas -depois de serem mostradas fotos em que aparecia completamente nua, antes da operação.

"Eu sei que é uma imagem chocante. Mas mais chocante é o que aconteceu com aquelas pessoas. Eu não gosto de mostrar deformidades no programa, mas essas foram causadas por erros médicos, é preciso alertar as pessoas", disse Marcia à Folha.

Mas, apesar do discurso da apresentadora, o que foi mostrado ia além de um serviço à comunidade. Em dado momento, uma foto de um rapaz, aparentemente normal, foi colocada no ar. "Ele foi fazer uma simples operação no nariz. Daqui a pouco vou mostrar como ele ficou. É muito chocante, gente. São cenas fortes. Não sei em que momento do programa vou mostrar", dizia Márcia.

Depois dos comerciais, as cenas: um rapaz sem nariz, com o rosto em carne viva, era mostrado na tela.

Em seguida, entra no palco uma vítima de um erro médico em uma operação nos seios. Visivelmente transtornada, a mulher mal chegou e já foi levantando a blusa para mostrar suas cicatrizes. "Por favor, nós não podemos mostrar isso no programa. Por favor", pedia a apresentadora -enquanto a câmera captava, também em close, os seios da mulher.
Apesar de toda a apelação, o programa não tem desempenhos muito melhores que seu antecessor no horário, o "reality show" "Território Livre" -tirado do ar por causa da baixa audiência.

Com algumas exceções, o "Hora da Verdade" raramente ultrapassa os dois pontos de média no Ibope (cada ponto corresponde a cerca de 80 mil telespectadores na Grande São Paulo).
 

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