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01/07/2001 - 10h18

Islamismo chega ao horário nobre das novelas

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CRISTIAN KLEIN
da Folha de S.Paulo, da sucursal do Rio

Como fazer uma novela sobre a rigorosa religião islâmica sem abrir mão dos ingredientes de romance e sexualidade típicos de um folhetim? Essa tem sido a tarefa de Glória Perez, autora da próxima novela das oito da Globo, "O Clone".

A trama terá como protagonista a personagem Jade, vivida por Giovanna Antonelli, cuja família muçulmana a impede de se casar com seu amor Lucas (Murilo Benício).

Jade será uma mulher dividida entre duas culturas. Ao ficar órfã, antes de completar 18 anos, sai do Brasil e passa a ser criada pelo tio, Ali (Stênio Garcia), um patriarca muçulmano, que mora em Marrocos.

A novela -que tratará da clonagem humana- vai retratar uma personagem que não quer se submeter a regras. "Você não faz história com ninguém obediente. É impossível escrever uma história com alguém que não faz nada. Mas as muçulmanas também amam. Os muçulmanos não têm nada contra a sexualidade", afirma Glória Perez.

A autora argumenta que personagens como Jade não são irreais. "Se você pegar as mulheres do Islã, elas transgridem regras o tempo inteiro. As leis só existem para coibir algo real. Se existe a lei do adultério, das chibatadas, é porque as pessoas transgridem, senão nem haveria lei", diz.
Na terceira fase da novela, a personagem Jade volta ao Brasil. Casada e com uma filha, ela reencontra Lucas e se vê tentada a acertar as contas com sua história, ficando ao lado da paixão antiga.

Glória Perez afirma que não quer criar polêmica religiosa. "É uma história de amor interditada por duas culturas. Mas os sentimentos humanos são os mesmos em todas as culturas", diz a autora.

As mulheres muçulmanas da trama ficarão com o corpo todo coberto quando estiverem na rua. Mas poderão usar minissaias e shortinhos dentro de casa.

"As muçulmanas, quando estão apenas entre elas, ficam sem aquele pano e estão sempre com decotes grandes, com roupas de alta costura, maquiadas, penteadas", afirma Glória, que visitou Marrocos e Egito para a escolha de locações.

Glória Perez afirma que está se cercando de todos os cuidados para retratar o universo muçulmano, dividido em ramos como os sunitas e os xiitas.

"Só quero mostrar as convergências entre eles. Nada que faça diferença entre essas linhas do islamismo vai ser mencionado. Vamos mostrar os costumes comuns a todos", diz.

A autora tem consultoria permanente de representantes muçulmanos, como o xeque Jihad Hassan Hammadeh, de São Bernardo do Campo (SP), da Assembléia Internacional dos Estudantes Muçulmanos, e Abdelbagi Sidahmed Osman, presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro e representante da Liga Islâmica Mundial, no Rio.

Mesmo assim, Glória afirma que é inevitável que tropece, vez ou outra, em algum ponto relacionado à religião.

Para consertar os erros, ela já traçou uma estratégia: a entrada de um personagem na novela, um xeque, que dirá aos outros membros da comunidade como proceder corretamente segundo o islamismo.

"Eu faço a personagem procurar um xeque e ele diz que ela estava errada. Meus personagens são apenas pessoas devotas. Seria o mesmo que cobrar de um católico que ele saiba a Bíblia como um padre. Não tem a obrigação de saber", diz.

Ciganos
Essa não será a primeira vez que Glória Perez mergulha em outra cultura. Em "Explode Coração", ela retratou o mundo dos ciganos. A novela enfrentou problemas na Justiça quando, em janeiro de 96, a advogada Miriam Stanescon conseguiu uma liminar proibindo dois capítulos em que a personagem cigana Dara (Teresa Seiblitz) transava com Júlio (Edson Celulari).

A advogada alegava que Dara era inspirada em sua vida e a perda da virgindade da personagem antes do casamento seria uma ofensa a sua moral. Um grupo de 40 ciganos, no entanto, foi ao fórum do Rio dar apoio a Glória Perez.

"A novela foi muito boa para eles. Resgatou o orgulho de serem ciganos. Os filhos contavam que, às vezes, tinham vergonha de sua origem por causa do preconceito contra os ciganos. "O Clone" também vai ser muito interessante para os muçulmanos desfazerem uma série de preconceitos que pesam sobre eles", afirma Glória Perez.

Entre eles, a autora cita a prática da mutilação genital das mulheres. "Algumas pessoas pensam que isso é ordenado pelo Alcorão. Mas vamos esclarecer que é um costume restrito a certas tribos. As autoridades islâmicas são radicalmente contra", afirma.


 

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