Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
13/07/2001 - 09h35

Em "Le Pornographe", Jean-Pierre Léaud está com a cara de Artaud

Publicidade

INÁCIO ARAUJO
Crítico da Folha

Jean-Pierre Léaud. Léaud rima com Artaud. Léaud está com a cara de Antonin Artaud quando o poeta estava às vésperas da morte.
"O sexo é sombrio", dizia Artaud. E Jacques Laurent, o pornógrafo do filme, parece achar mais ou menos a mesma coisa: dirige seus filmes com a cabeça em outro lugar. No filho, na mulher, na casa que sonha construir.

Sexo à francesa: tudo mediado pelo pensamento, pela reflexão. Jean-Pierre faz um diretor de cinema. Sua ligação com François Truffaut, que fez dele Antoine Doinel, seu alter ego em tantos filmes, o credencia ao papel. Papel? Será essa a palavra? Léaud é uma espécie de metáfora do cineasta francês.

Em 1996, ele era René Vidal, o diretor de "Irma Vep", de Olivier Assayas. Encarregado de refilmar um filme mudo de Louis Feuillade, ele primeiro trazia uma atriz chinesa (Maggie Cheung) para fazer o papel. Ao longo da filmagem, enlouquecia. Percebia que a Europa era um velho continente, com a criatividade esgotada. Suas saídas estavam no Oriente, ou na desrazão.

Pornografia

Em "Le Pornographe", é um tipo sorumbático, que percebe ter traído a si mesmo. Percebe mesmo? Ou será que a sociedade lhe outorga um lugar no qual é forçado a sentir-se culpado? De repente, uma jornalista liga, pedindo um depoimento sobre a pornografia. Jacques Laurent -esse nome comum, quase um João da Silva- recusa-se a falar: "seria obsceno", diz. No set de filmagem, ele encontra tempo de ligar para a mulher só para dizer que tem saudades.

Laurent é o contrário de Miguel Metralha, o herói de "O Pornógrafo", que João Callegaro fez no Brasil há mais ou menos 30 anos. Metralha era o inverso do bandido da Luz Vermelha: supunha-se o tipo talhado para vencer. Sua pornografia tipo Carlos Zéfiro é esmagada pelas multinacionais, pelas "Playboy" da vida.

Metralha era um espírito para cima, mas, como o cinema nacional, tinha nos calcanhares a concorrência do filme americano, da TV. Laurent ainda consegue, como o cinema francês, sobreviver. Mas há um preço por isso.
No caso de Laurent, é o abandono, o exílio, a distância do filho. No do cinema francês, o fato de ter se tornado um cinema quase sempre local, que mal consegue se comunicar com povos de fora da Europa.

LE PORNOGRAPHE - Direção: Bertrand Bonello. Produção: França/Canadá (2001). Com: Jean-Pierre Léaud, Jérémie Rénier e Dominique Blanc.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página