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17/07/2001 - 04h35

Exibições gratuitas e pacote de filmes recuperam cinema russo

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TIAGO MATA MACHADO
da Folha de S.Paulo

O templo do capitalismo paulistano é invadido por propaganda comunista: começa hoje a mostra "O Cinema Revolucionário Soviético". Com o evento (gratuito), a Continental lança pacote que quer agitar (com um pouco do fervor utópico do cinema bolchevique) o ainda morno e reticente mercado nacional de DVDs.

A ausência de nomes como Dovjenko, Donskoi, Kulechov, Medvédkine, Serguei Vassiliev e Boris Bárnet, para nos atermos apenas à primeira geração, faz-se sentir, mas o pacote (ainda não fechado) recupera, em compensação, figuras como a de Yakov Protazanov, principal cineasta russo do período pré-revolucionário, aqui representado por "Aelita" (delírio futurista-expansionista soviético que influenciou "Metrópolis" de Fritz Lang), e filmes como "Eu Sou Cuba", obra-prima castrista quase desconhecida, do diretor Mikhail Kalatozov.

Em grandiosos e wellesianos planos-sequências (dois deles antológicos), Kalatozov homenageia "O Encouraçado Potemkin" de Eisenstein, retomando a estrutura (dialética) de seu roteiro, em nome da propaganda castrista.

Por não dissociar propaganda política de experimentação formal, "Eu Sou Cuba" (1964) nos remete aos melhores momentos do cinema soviético, à era pré-stalinista, quando a vanguarda russa pôde conceber o sonho de uma modernidade mais justa.

Durante a guerra civil que se seguiu, em território russo, à Primeira Guerra, os "vermelhos", liderados por Lênin, decidiram fazer do cinema sua arma. Associado ao Comissariado do Povo para a Propaganda e Educação, o Comitê para o Cinema espraiou ideais revolucionários, conquistando uma população heterogênea e em sua maioria analfabeta.
Nessa época, o cinema soviético restringiu-se à produção de documentários de atualidades para propaganda (os "agitki") e teve em Dziga Vertov grande agitador.

Foi Vertov, mais do que ninguém, quem encarnou em sua trajetória a evolução formal do cinema soviético. As obras do cineasta selecionadas pelo pacote da Continental dão a exata medida dessa evolução: da "vida ao improviso" da fase do "Cine-Olho" ao metacinema (antiilusionista) de "Um Homem com uma Câmera", Vertov tenta unir, cada vez mais, sua ética (antificcional) a uma estética (futurista), buscando uma lógica formal para enquadrar o caos da vida (a "simultaneidade dos fatos").

Mas, do "Cine-Olho" ao "Homem-Câmera", resta a imagem futurista desse agregado homem/máquina a povoar o sonho da modernidade comunista.
A "glorificação do novo" -gesto moderno de tendências tanto futuristas (por cantar a velocidade e a perfeição da máquina) quanto construtivistas (por erigir, em enquadramentos de linhas e superfícies oblíquas, a primazia da arquitetura)- e o rompimento com o passado eram obsessões comuns aos gênios da geração.

Foi rompendo com o passado, a formação (de engenheiro) e a família, que Eisenstein começou, num "comboio-agit", a sua carreira artística. No teatro, foi discípulo de Meyerhold, de quem herdou o interesse pela biomecânica e os efeitos psicológicos decorrentes das experimentações estéticas, e, no cinema, admirador de D.W. Griffith (cujo "Intolerância" influenciou todo o cinema soviético). Foi fazendo uma releitura dialética da "montagem-paralela" griffithiana que ele começou a criar os conceitos de montagem que constituíram, no constante movimento entre teoria e prática, a riqueza cinematográfica desse momento histórico inigualável.

O pacote da Continental nos permite constatar a maior ou menor longevidade desses conceitos e testemunhar também o terrível impacto causado, a partir dos anos 30, pelo jugo stalinista e a consequente imposição doutrinária (antiformalista) do "realismo socialista". Com a morte da vanguarda, o povo deixa de ser o personagem ideal do cinema soviético. Enquanto Eisenstein é obrigado a criar paralelos históricos para a figura de Stálin, Vertov tem seus projetos sistematicamente boicotados.

LANÇAMENTO DE 14 DVDs DO CINEMA SOVIÉTICO
caixa com seis DVDs com as obras de Serguei Eisenstein ("A Greve", "O Encouraçado Potemkin", "Outubro", "Alexander Nevsky", "Ivan, o Terrível 1 e 2"). Duas caixas com quatro DVDs cada uma do Cinema Revolucionário Soviético: numa caixa, "Andrei Rublev", de Andrei Tarkovski, "Aelita - A Rainha de Marte", de Yakov Protazanov, e "Câmera-Olho - Réquiem a Lênin" e "Um Homem com uma Câmera", de Dziga Vertov; em outra caixa, "Tempestade sobre a Ásia" e "A Mãe", de Vsevolod I. Pudovkin, "Eu Sou Cuba", de Mikhail Kalatozov, e "Serguei Eisenstein -Uma Autobiografia", de Oleg Kovalov
Quando: R$ 35, cada DVD
Onde: Continental Home Video (tel. 0/ xx/11/ 5052-6311)

CINEMA REVOLUCIONÁRIO SOVIÉTICO - DE EISENSTEIN A TARKOVSKI mostra com 15 filmes
Quando: de hoje a 21 de julho
Onde: Teatro Popular do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 0/xx/11/284-3639)
Quanto: grátis (retirar ingresso com uma hora de antecedência).
 

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