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29/06/2000 - 03h07

Polêmica abastece o centenário do escritor francês Saint-Exupéry

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RONALDO SOARES
da Folha de S.Paulo, em Paris

As comemorações pelo centenário de Antoine de Saint-Exupéry ganharam o ingrediente que faltava para uma efeméride "de verdade": polêmica.

Pelo menos 18 países promovem eventos para celebrar o nascimento do escritor-aviador, que completaria exatos 100 anos hoje. No Brasil, duas cidades participam das comemorações. Em outubro, o hidroavião pilotado por ele nos anos 20 e 30 aterrissa em Florianópolis com uma mostra sobre o autor. Após ter passado pela Alemanha, a mostra chega a Petrópolis.

Mas foi justamente uma pessoa que ficou longe dos holofotes que "atrapalhou" a festa.

Trata-se de José Martinez Fructuoso, motorista particular e amigo da viúva do autor de "O Pequeno Príncipe", a salvadorenha Consuelo de Saint-Exupéry, que não teve filhos com o escritor.

Em 1979, Consuelo transferiu sua herança para Fructuoso, que acompanhou-a por 20 anos. O motorista, que hoje possui 25% de todos os direitos sobre Saint-Exupéry, não foi convidado para as comemorações em Lyon, terra natal do escritor.

Como as festividades em Lyon passaram pelo crivo da família Saint-Exupéry, o ato está sendo interpretado como resistência dos demais herdeiros de Saint-Exupéry em reconhecer Consuelo como integrante da família.

Essa seria mais uma evidência, já que recentemente os herdeiros tacharam de traidor o escritor Alain Vircondelet, que publicou no início do ano a biografia de Consuelo, "Memórias da Rosa", para a qual a família se negou inclusive a ceder fotografias.

A polêmica intensificou-se este mês, quando exames grafológicos dos manuscritos que originaram a biografia indicaram que seria a grafia do filósofo suíço Denis de Rougemont, suposto amante de Consuelo.

A salvadorenha, que o escritor conheceu em Buenos Aires, em 1930, sempre teve dificuldade de aceitação pela família Saint-Exupéry, que a via como uma mulher boêmia e sedutora.

A descrição de Consuelo feita por um sobrinho do escritor, Frédéric d'Agay, mostra que o sentimento de rejeição não mudou muito até hoje.

"Tia Consuelo, viúva de nosso tio Antoine, não gostava de crianças. Não me lembro de uma única vez em que ela nos tenha dado um presente. Mas seu sotaque sul-americano e sua tagarelice nos divertiam", diz d'Agay no prefácio do livro "Cinco Crianças em um Parque", lançado por uma das irmãs do escritor, Simone.

Fructuoso, por sua vez, dá uma pitada de mistério à briga familiar. "Não quiseram aceitá-la porque ela não era uma Saint-Exupéry. Antes de morrer, ela dizia que queria restabelecer a verdade sobre seu casamento", disse ao jornal francês "Libération".

A discussão serviu para reforçar o culto ao mito de um dos autores mais lidos do mundo _e para ganhar dinheiro: "Memórias da Rosa" já vendeu 100 mil exemplares.

No centenário de Saint-Exupéry, o culto é alimentado também por especulações sobre a localização de destroços do avião que ele pilotava quando caiu no mar, em 31 de julho de 1944.

Há dois anos, um pescador localizou no litoral de Marselha (sul da França) um bracelete de prata com o nome do escritor e o de Consuelo. Em maio, um mergulhador disse ter visto destroços da aeronave na região, a 85 metros de profundidade.

O presidente Jacques Chirac estuda a possibilidade de designar a Marinha para realizar buscas no local. Se isso acontecer, acredita-se que será possível descobrir o verdadeiro motivo da queda do avião _as hipóteses levantadas vão de um suposto ataque à aeronave e falha mecânica até um suicídio do escritor.

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