Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
26/07/2001 - 12h44

"Não estou aqui para vender 1 milhão", diz Pedro Mariano

Publicidade

CRISTINA CAROLA
da Folha de S.Paulo

O talento do cantor Pedro Mariano, 26, vem do berço, é herança. Filho da cantora Elis Regina e do músico César Camargo Mariano, 57, ele já recebeu, no segundo CD, "Voz no Ouvido", sua primeira indicação ao Grammy.

Com 40 mil cópias vendidas depois de um ano de lançamento, o CD demorou a emplacar.

"Não interessa quantos discos eu vendi, porque Caetano não vende mais que 40, 50 mil. Esse negócio de número de discos é um fator que eu quero mudar, porque eu não estou aqui para vender 1 milhão, aliás, torço para que não aconteça isso, porque aí vão me colocar numa categoria e, daqui a seis meses, eu não sirvo para mais nada."

Com o aval da academia, Pedro Mariano já está pensando no próximo CD. "Tenho uma idéia inicial de no primeiro semestre do ano que vem entrar em estúdio para gravar o próximo disco, mas, com o Grammy, meu disco pode ganhar uma alavanca e durar mais seis meses, um ano, e a partir daí eu não ter tempo para preparar o outro disco."

No show, o cantor mostra as músicas de seus dois CDs, "Pedro Camargo Mariano" (Sony) e "Voz no Ouvido" (Trama), e não canta nada da mãe Elis. "Algumas pessoas tentam tirar os 20 anos de atraso em mim. Eu estou aqui buscando o meu espaço, se eu ficar tocando o dela, não vou achar meu espaço nunca", desabafa em entrevista à Folha. Leia abaixo.

Folha - Como você recebeu a indicação do CD "Voz no Ouvido" para o Grammy?
Pedro Mariano -
Olha, difícil é racionalizar, porque gritar, tomar porre, tudo isso eu já fiz.

Folha - Você pensava que a indicação fosse chegar já no segundo CD?
Mariano -
Quando eu almejava, um dia, quem sabe, concorrer a um Grammy, óbvio que para mim não era um sonho, era uma meta de vida. Sonho seria eu concorrer ao Grammy americano, mas o Grammy latino, pelo que eles premiam da música brasileira, passou a ser uma meta de trabalho, mas não uma meta a ser alcançada logo no primeiro disco que eu produzo, que eu faço na Trama [gravadora].
Se eu dissesse que trabalhei para isso, eu estaria sendo hipócrita, não é verdade. Eu trabalhei para, quem sabe, construir um alicerce forte na minha carreira para que eu fosse um dia indicado.

Folha - E se você não ganhar?
Mariano -
O grande lance é olhar para os lados: Zeca Baleiro, Herbert Vianna, Marisa Monte, Ivete Sangalo, estou no meio dos tops de linha, estou bem na foto, se ganhar ou não, não estou nem aí.
Estou feliz porque a academia ouviu meu disco e reverenciou meu trabalho. Eu não consigo traçar nenhum paralelo sobre o que é isso na carreira de um artista, é você virar gente grande.
E receber o diploma da academia como indicado, seu disco ser exposto internacionalmente com o aval da academia, isso é muito sério. Para quem já tinha uma série de responsabilidades nas costas, de todo o histórico familiar, esse tempero a mais, agora, veio para apimentar a carreira.

Folha - Esse CD está melhor?
Mariano -
Eu diria que a mudança de um disco para o outro foi radical. O meu primeiro disco eu tinha de fazer, tinha de entrar no jogo. Eu fiquei três anos para lançar mais um. Esses três anos me fizeram enxergar que aquele caminho não era o certo.
Para que eu conquistasse o respeito do público, da mídia, não era fazendo aquele tipo de som. Se for para fazer um som para parodiar os gringos, eu vou ser, no máximo, uma cópia, e eu não vim ao mundo para ser cópia, eu vim para criar referência.
Quando eu resolvi fazer o segundo disco, eu quis me desvincular de todas as coisas que eu tinha feito no primeiro. Lá, tinha mais elementos eletrônicos que acústicos, então esse disco vai ser todo acústico. Lá, eu trabalhei com milhões de compositores, quase não repeti, nesse disco não, eu concentrei, trabalhei com um compositor inédito e pontuei com músicas que tinham a ver com esse, no caso, o Jairzinho.

Folha - O que faz esse CD especial?
Mariano -
A grande química que eu tentei encontrar nesse segundo disco foi tentar transformar a música brasileira em algo acessível para todo mundo, porque a indústria colocou a música brasileira como elitizada, mas nunca foi.
Eu lembro de empregada lavando roupa cantando Caetano, Gil, Gal, Elis Regina, Milton Nascimento. Por que hoje só rico pode ouvir esse tipo de música? Com essa proposta, quando eu comecei a pensar o disco, eu falei: vai ser 8 ou 80, ou nós vamos entrar no mercado e ditar regra ou vamos entrar pela porta dos fundos. Ou vão torcer o nariz.

Folha - E qual é a sua avaliação agora?
Mariano -
Depois de um ano, eu já estou começando optar pela segunda. Eu não acho que meu disco é um sucesso de público, mas de crítica e de mídia a gente vem tendo uma média muito boa.

Folha - Que influências aparecem nesse trabalho?
Mariano -
Se eu fosse atrás do soul e da black music 100%, eu estaria parodiando, e é o que eu não quero. Mas ouvindo discos brasileiros da década de 70, como banda Black Rio, Cassiano, além do soul, da black, do funk, tudo era pontuado com ritmos brasileiros.
Eu cresci ouvindo essas influências também, por isso que deu um pouco de jazz no primeiro disco.
Eu errei na dose, fui muito para o lado do hemisfério norte e esqueci o hemisfério sul. Eu gosto muito da música brasileira e sempre vou buscar um jeito de reciclar seu vocabulário.

Folha - Qual o ponto forte do CD?
Mariano -
Ele é muito brasileiro. Você tem composições extremamente brasileiras o tempo todo. A essência é muito brasileira.

Folha - Quem convidou seu pai para fazer os arranjos?
Mariano -
Tudo que está no disco foi idéia minha. Eu o chamei por dois motivos: eu não conheço arranjador melhor e todo intérprete tem de ter um arranjador.
Ele vai ouvir você cantar e preparar tudo, como se fosse um alfaiate, ele tem um dom que eu não conheço ninguém que tenha.
Era um sonho trabalhar com esse grau de perfeição de arranjo. Será que se eu não tivesse ele, eu teria um disco dessa forma? Ele foi fundamental? Foi.

Folha - O que o público pode esperar do show?
Mariano -
É um show despretensioso, eu não sou fã de megaespetáculo. Os músicos são músicos e eu canto, de verdade, não dublo.

O quê: show "Voz no Ouvido"
Quando: amanhã, às 21h
Onde: Teatro Municipal de Americana (r. Gonçalves Dias, 696)
Ingresso: R$ 5
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página