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30/06/2000 - 05h21

Mostra de René Clair Parlant traduz 'cinepoesia' de Paris em SP

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AMIR LABAKI
da equipe de articulistas da Folha de S. Paulo

Nunca é tarde demais para descobrir René Clair (1898-1982). Houve uma época em que Clair era um sinônimo de cinema francês, formando ao lado de Jean Renoir ("As Regras do Jogo") e Marcel Carné ("O Boulevard do Crime") um trio complementar e insuperável.

A mostra René Clair Parlant, que o Espaço Unibanco de Cinema e o Consulado da França realizam de hoje até o dia 6 de julho, funciona como uma boa introdução à sua obra urbana e dinâmica, mas sempre delicada, ainda que deixe de fora os marcos da era muda ("Entracte", por exemplo) e sua riquíssima experiência hollywoodiana (quatro filmes entre 1940 e 1948, entre os quais o estupendo "O Tempo É uma Ilusão", de 1944).

O ciclo reúne seis títulos, com cópias legendadas em espanhol, abarcando 25 anos de cinema.

Clair foi talvez o primeiro grande poeta cinematográfico de Paris, ao lado do Alberto Cavalcanti de "Rien Que les Heures".

Há ecos de seu pioneiro "Paris Que Dorme" ("Paris Qui Dort", 1923) no primeiro filme da mostra, o lírico "Sob os Tetos de Paris" ("Sous les Toits de Paris", 1930).

Em seu primeiro filme sonoro, Clair ainda resistia em abandonar o esperanto visual que ele, Chaplin, Griffith e Murnau, entre outros, haviam desenvolvido na era do cinema mudo.

A música cumpre função dramática superior aos diálogos em seu retrato dos subúrbios pobres parisienses transformados em cenário para uma querela amorosa.

Em "14 de Julho" ("14 Julliet", 1932), Clair encena outra intriga romântica na Paris popular, protagonizada por um motorista de táxi e uma florista.

Ninguém menos que seu colega Carné aproveitaria a oportunidade para condecorá-lo como "o poeta das ruas parisienses".

"Viva a Liberdade" ("A Nous la Liberté", 1932) insiste em sua crítica ao industrialismo, inspirando Chaplin em "Tempos Modernos". Tudo gira em torno do reencontro de dois ex-colegas de cárcere. Um se deu bem, o outro, nem tanto. A otimista conclusão dá vontade de sair sapateando do cinema. A mesma linha libertária marca "O Último Milionário" ("Le Dernier Milliardaire", 1934).

Passada no reino imaginário de Casinario, essa fábula bem-humorada satiriza a um só tempo o despotismo imperial, a especulação financeira e os casamentos interesseiros. A expansão do totalitarismo na Europa levou Clair ao produtivo exílio americano.

Finda a Segunda Guerra Mundial, o cineasta celebra seu retorno com outra ode a Paris no metacinematográfico "O Silêncio É de Ouro" ("Le Silence Est d'Ór", 1947), estrelado por Maurice Chevalier como um adorável don Juan.

Por fim, Gérard Philippe vive outro sedutor, desta vez de farda, em "As Grandes Manobras" ("Les Grandes Manoeuvres", 1955).

O esplendor da França da belle époque explode no primeiro filme em cores de Clair, uma nova crítica às manipulações que freiam o verdadeiro amor.

O tom é mais grave. Paulo Emílio Salles Gomes acertaria mais uma vez notando que "a comédia dissolveu-se explicitamente em drama" no cinema do Clair maduro.

Pena que o ciclo não traga a prova decisiva para sua tese: o pungente 'Por Ternura Também se Mata' ("Porte de Lilas", 1957). Quem sabe da próxima vez. Voltar a Clair nunca é demais.

Mostra: René Clair Parlant
Quando: de hoje a 6 de julho
Onde: Espaço Unibanco de Cinema (r. Augusta, 1.470, São Paulo)
Quanto: R$ 6 (de seg. a qui.) e R$ 9 (de sex. a dom.); estudantes pagam meia

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