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13/08/2001 - 09h47

Distribuição de Kikitos agrada uns e desagrada outros em Gramado

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SILVANA ARANTES
enviada especial a Gramado

Com cinco filmes brasileiros concorrendo a 14 prêmios, era de esperar a prevalência da regra da "diplomacia" e uma divisão equilibrada de troféus no 29º Festival de Gramado. Não foi o que se viu na solenidade de entrega dos Kikitos, na noite do último sábado.

"Memórias Póstumas", de André Klotzel, recebeu cinco troféus (melhor filme segundo o júri oficial e a crítica, diretor, roteiro e atriz coadjuvante para Sônia Braga); "Bufo & Spallanzani", de Flávio Tambellini (melhor direção de arte, ator, atriz e ator coadjuvante), e "Netto Perde a Sua Alma", de Beto Souza e Tabajara Ruas (prêmio do júri popular, melhor montagem, melhor música e prêmio especial pela produção), ficaram com quatro cada um; "Urbania", de Flávio Frederico, ganhou melhor fotografia; e "Duas Vezes com Helena", de Mauro Farias, ficou sem nem sequer um prêmio de consolação.

Exibido na mostra oficial na noite de quinta, "Memórias Póstumas" agradou boa parte do público e da crítica e foi apontado como favorito. "Bufo & Spallanzani", último concorrente a ser mostrado, na véspera da premiação, passou a ser seu único rival nas categorias principais.

A premiação popular do gaúcho "Netto Perde a Sua Alma" era certa -recebeu ovação sem par no dia de sua exibição. E a distribuição de troféus técnicos para a produção local resultou numa solução conveniente ao repaginado Festival de Gramado: não caracteriza regionalização de uma mostra que quer (de volta) a qualificação de nacional (depois de quase uma década de destaque para o filme latino) nem frustra por completo a expectativa de seu público mais imediato.

Se os aplausos coletivos da platéia no Palácio dos Festivais não denunciaram discordância com as escolhas do júri oficial -formado pelos cineastas Zelito Viana, Leonel Vieira, Marcelo Piñeyro, a produtora Marisa Leão, o crítico e pesquisador Ricardo Cravo Albim, a escritora Martha Medeiros e a atriz Giulia Gam-, individualmente, houve quem protestasse contra as decisões.

"Já que estou aqui como público, posso dizer o que eu quiser. Fiquei muito desapontada por "Bufo" não ter ganhado nem melhor filme nem melhor direção. O filme de Tambellini é mil vezes melhor que "Memórias Póstumas'", disse a atriz Betty Faria.

As críticas a "Memórias Póstumas" vêem no filme um caráter excessivamente didático e suspeitam no cineasta uma intenção de apresentar (literalmente) Machado de Assis a um leitorado jovem que o desconhece, quando seria cinematograficamente mais nobre propor um diálogo com o autor ou leitores mais qualificados. "Filme para projeto-escola" é o que se ouvia nos bastidores.

"Não sou gigolô de clássicos da literatura brasileira. Não é esse o meu papel. A intenção foi a mais sincera possível, nem didática nem pedagógica, nada disso. Eu estava no meio de outro trabalho quando reli "Memórias Póstumas de Brás Cubas", porque eu só o havia lido quando era adolescente e me achava vagabundo por não ler essas coisas. Na hora, pensei: "Puxa, eu sei um jeito de fazer isso". É isso o que tem de valer. Você não resiste a um trabalho de três ou quatro anos se não tiver o fundo mais sincero possível", disse.

O lançamento comercial de "Memórias Póstumas", agendado para a próxima sexta, deve ser ampliado em razão do resultado em Gramado. O Kikito de melhor filme deu ao título o Prêmio de Aquisição do MinC, no valor de R$ 10 mil, e um automóvel à produção, que é do próprio Klotzel.

Pela escolha do público, "Netto Perde a Sua Alma" recebe igualmente o prêmio do Minc.

A concentração de troféus também foi a tônica na premiação dos 14 curtas em 35 mm concorrentes. O belo "Palíndromo", de Philippe Barcinski, venceu em quatro categorias: melhor filme, diretor, montagem e prêmio de aquisição Canal Brasil (R$ 5.000).

Já emocionado na quarta vez em que subia ao palco, Barcinski disse: "Com certeza esqueci alguém. Não lembro quem eu esqueci. Queria agradecer a quem eu esqueci e a quem eu agradeci".

O paraibano "A Canga" foi o eleito pelo voto popular e ganhou também melhor música, além de dividir o prêmio de aquisição com "Palíndromo". A produção "Sinistro" (DF) levou dois Kikitos: melhor direção de arte e roteiro.

Entre os quatro filmes latinos que disputaram paralelamente, só houve dois vencedores: o argentino "Un Amor de Borges", de Javier Torre, foi eleito o melhor filme pelo júri oficial e pela crítica. O espanhol "Yoyes", de Helena Taberna, ganhou na escolha do público.

Taberna aproveitou para cortejar os distribuidores brasileiros. "Como meu filme é um hino à liberdade, gostaria muito que ele fosse visto no Brasil", disse. Torre preferiu a galhofa. Com um sorriso irônico, afirmou: "Isso é para celebrar a amizade entre argentinos e brasileiros".

A jornalista Silvana Arantes viajou a convite da organização do festival

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