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20/08/2001
-
02h38
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S. Paulo
Uma das bandas-símbolo da resistência ao comercialismo e à mediocrização do pop nacional, O Rappa adere aos formatos convencionais do mercado em seu novo álbum, "Instinto Coletivo": é um CD ao vivo, repleto de reedições de músicas dos três primeiros discos da ainda jovem banda.
No caso do quinteto carioca, não faltam razões para que tenha sido assim, e nem seus membros tentam maquiar sua situação. O episódio em que o letrista e baterista Marcelo Yuka, 35, foi baleado seis vezes num assalto, em novembro passado, causou uma reviravolta na até então bem-sucedida trajetória do grupo. "Não pensávamos em ter um disco ao vivo agora. Ele surgiu muito em função do baque pelo que aconteceu. Não é uma armação de mercado, é o que poderia ser feito nestas condições", diz Yuka, ainda em processo de recuperação.
O vocalista e guitarrista Marcelo Falcão, 28, concorda: "Sentimos muito Yuka não poder tocar agora. Se não fosse assim, ficaríamos mais três anos na estrada com a turnê de "Lado B Lado A" (99). Por outro lado, os fãs sempre cobraram um disco ao vivo".
Caracterizando-se como "um pessimista", Yuka defende a edição da gravação de um show que aconteceu há mais de um ano, antes portanto do acidente. "É o registro de uma fase que talvez não aconteça mais", diz, referindo-se ao fato de ainda não poder se apresentar tocando bateria.
Mesmo que a banda defenda a "sujeira" do registro ao vivo, feito num show num bar em Porto Alegre (RS), Yuka admite que não foi questão de opção: "Escolhemos esse porque só tínhamos esse show gravado".
O disco não é só isso, entretanto. Duplo ("tem que ser muito fã para comprar, um disco de R$ 50 não vai vender lá essas coisas", diz o pessimista), traz cinco gravações inéditas no final. Ali estão três canções recém-feitas em estúdio (uma com participação do Sepultura e outra composta com o Asian Dub Foundation), uma gravação feita para a MTV e um remix de R.A.M. (94), novamente pelo Asian Dub Foundation.
"Moramos num país que dá recuos inacreditáveis. O que aconteceu foi inusitado, mas não deixa de ser a cara do Rappa. Graças a Deus trabalhamos com a adversidade, com problemas", descreve o tecladista Marcelo Lobato, 36.
Disposta à autocrítica, a banda não foge do desafio de criticar o ambiente musical em que vive. Diz Yuka: "A nosso favor há o fato de que ninguém até hoje falou que parecemos com alguma coisa específica de algum lugar específico. Sofremos influência do mundo todo, mas não a ponto de perdermos autenticidade. No Brasil se chupa produção, arranjo, pedaço de letra, é pornográfico".
Continua Lobato: "Vem neguinho dizer que está fazendo som parecido com o nosso. Que mentalidade é essa? O cara não entendeu nada. Talvez nem sejamos grande coisa, o resto é que está medíocre para caramba".
Yuka, para terminar: "Enquanto pagarmos sapo para gringo, não vamos a lugar nenhum. Ficaria melhor para todos se houvesse mais gente batendo cabeça em busca de um som próprio".
Grupo O Rappa adere aos formatos comerciais
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da Folha de S. Paulo
Uma das bandas-símbolo da resistência ao comercialismo e à mediocrização do pop nacional, O Rappa adere aos formatos convencionais do mercado em seu novo álbum, "Instinto Coletivo": é um CD ao vivo, repleto de reedições de músicas dos três primeiros discos da ainda jovem banda.
No caso do quinteto carioca, não faltam razões para que tenha sido assim, e nem seus membros tentam maquiar sua situação. O episódio em que o letrista e baterista Marcelo Yuka, 35, foi baleado seis vezes num assalto, em novembro passado, causou uma reviravolta na até então bem-sucedida trajetória do grupo. "Não pensávamos em ter um disco ao vivo agora. Ele surgiu muito em função do baque pelo que aconteceu. Não é uma armação de mercado, é o que poderia ser feito nestas condições", diz Yuka, ainda em processo de recuperação.
O vocalista e guitarrista Marcelo Falcão, 28, concorda: "Sentimos muito Yuka não poder tocar agora. Se não fosse assim, ficaríamos mais três anos na estrada com a turnê de "Lado B Lado A" (99). Por outro lado, os fãs sempre cobraram um disco ao vivo".
Caracterizando-se como "um pessimista", Yuka defende a edição da gravação de um show que aconteceu há mais de um ano, antes portanto do acidente. "É o registro de uma fase que talvez não aconteça mais", diz, referindo-se ao fato de ainda não poder se apresentar tocando bateria.
Mesmo que a banda defenda a "sujeira" do registro ao vivo, feito num show num bar em Porto Alegre (RS), Yuka admite que não foi questão de opção: "Escolhemos esse porque só tínhamos esse show gravado".
O disco não é só isso, entretanto. Duplo ("tem que ser muito fã para comprar, um disco de R$ 50 não vai vender lá essas coisas", diz o pessimista), traz cinco gravações inéditas no final. Ali estão três canções recém-feitas em estúdio (uma com participação do Sepultura e outra composta com o Asian Dub Foundation), uma gravação feita para a MTV e um remix de R.A.M. (94), novamente pelo Asian Dub Foundation.
"Moramos num país que dá recuos inacreditáveis. O que aconteceu foi inusitado, mas não deixa de ser a cara do Rappa. Graças a Deus trabalhamos com a adversidade, com problemas", descreve o tecladista Marcelo Lobato, 36.
Disposta à autocrítica, a banda não foge do desafio de criticar o ambiente musical em que vive. Diz Yuka: "A nosso favor há o fato de que ninguém até hoje falou que parecemos com alguma coisa específica de algum lugar específico. Sofremos influência do mundo todo, mas não a ponto de perdermos autenticidade. No Brasil se chupa produção, arranjo, pedaço de letra, é pornográfico".
Continua Lobato: "Vem neguinho dizer que está fazendo som parecido com o nosso. Que mentalidade é essa? O cara não entendeu nada. Talvez nem sejamos grande coisa, o resto é que está medíocre para caramba".
Yuka, para terminar: "Enquanto pagarmos sapo para gringo, não vamos a lugar nenhum. Ficaria melhor para todos se houvesse mais gente batendo cabeça em busca de um som próprio".
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