Publicidade
Publicidade
03/09/2001
-
10h49
SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo, em Veneza
O cinema político se adiantou em Veneza. Sua estréia não estava prevista senão para hoje, com "The Navigators", do engajado britânico Ken Loach, e "Eden", do israelense Amos Gitai.
Mas o francês André Téchiné surpreendeu ontem com um filme que sintetiza num único país (Marrocos) todos os demais e, num triângulo de personagens, as variadas formas do desterro -econômico, geográfico, psicológico, amoroso.
O nome, "Loin" (longe), foi escolhido também por uma questão de síntese. "Queria uma palavra que remetesse à idéia de viagem -às viagens de fato que Serge [o protagonista" faz em seu caminhão e às viagens interiores de cada um dos personagens, que, até o final do filme, irão ao mais distante de si mesmo", diz Téchiné.
Serge (Stéphane Rideau) é um motorista de caminhão francês que viaja da Europa à África por conta de seu trabalho com transporte de cargas (roupas) e pendula entre o sim e o não a se arriscar no tráfico de drogas. Decide-se pelo sim menos pela ambição de ter muito dinheiro que pelo desafio de dar outro rumo à vida.
A namorada de Serge é Sara, marroquina de origem judaica que vive em Tanger, onde dirige a pensão deixada pela mãe. Nigerianos tentando a vida no Marrocos são os principais clientes da pensão. Convidada pelo irmão a viver no Canadá, Sara também oscila -entre ir e ficar.
Árabe filho de camponeses, Saïd é amigo de Serge e de Sara e empregado da pensão. Mesmo depois de "cinco ou seis" tentativas frustradas, Saïd não desiste de seu único objetivo: emigrar (ilegalmente) para a Espanha.
Dos três, é o único seguro de que permanecer é encerrar-se numa vida sem perspectivas, mas também o único para quem a mobilidade é sinônimo de contravenção.
O "coté" político concentra-se nas questões "da livre circulação de mercadorias e da livre circulação de pessoas", como define Téchiné, que preferiu inseri-las no filme de forma "carnal", em completa associação com a vida dos personagens, para que o resultado se parecesse com algo que foi "mostrado, não demonstrado".
A participação de Serge na cena final de "Loin" -que corresponde à nova tentativa de emigração de Saïd- exemplifica, para Téchiné, a possibilidade de um "herói do nosso tempo". O que permite concluir que, hoje como ontem, ultrapassar fronteiras (reais ou imaginárias) continua sendo tradução de bravura.
Para interpretar os protagonistas, o diretor procurou atores pouco conhecidos e que fossem fluentes em árabe e francês. Lubna Azaabal é Sara, Mohamed Hamadi é Saïd. O nome luxuoso no elenco é o da escritora e atriz Yasmina Reza ("Arte"), como Emily, cunhada de Sara. Émilie é uma escritora, uma mulher sofisticada e uma mãe atormentada pela perda do filho, de seis anos de idade. Ela vive no Canadá, mas encanta-se com o mundo árabe e reflete sobre ele em títulos como "Ilusões Identitárias".
"Quando estava fazendo o primeiro esboço dos personagens, me encontrei com Yasmina", conta Téchiné. "Queria uma mulher com perfil oriental e que fosse convincente no papel de uma escritora que leva a vida a toda a velocidade. A partir daí, para mim, Yasmina e o papel ficaram indissociáveis. Mas eu tive muitíssima dificuldade em convencê-la a aceitar trabalhar no filme."
"Recusei desde o início porque o papel parecia ter similitudes demais com a minha vida, sobretudo com minha condição de escritora, e eu não conseguia imaginar que trabalho poderia desenvolver como atriz", diz Reza.
Reza e o elenco de "Loin" acompanharam Téchiné na apresentação do filme no 58º Festival de Veneza, onde é um dos 20 concorrentes ao Leão de Ouro.
Leia também:
Religião mantém Spielberg fora de Festival de Veneza Política e antiglobalização invadem Festival de Veneza Alexandre Pires participa de evento contra a Aids em Veneza Cineasta português Manoel Oliveira é homenageado em Veneza Martin Scorsese recupera filmes italianos Nicole Kidman e o filme "The Others" mobilizam mídia em Veneza Diretor de "Kids" volta em Veneza com jovens desajustados Ator australiano David Wenham gosta de ser "cigano do cinema" Sexo, violência e adolescência são destaques de filmes em Veneza Festival de Veneza terá 41 filmes em competição Cineasta francês Eric Rohmer recebe Leão de Ouro de Veneza Filme de Walter Salles concorre ao Leão de Ouro em Veneza Festival de Veneza anuncia seleção Festival de Cinema de Veneza terá Leão de Ouro e Leão do Ano
Diretor André Téchiné surpreende em Veneza com o político "Loin"
Publicidade
da Folha de S.Paulo, em Veneza
O cinema político se adiantou em Veneza. Sua estréia não estava prevista senão para hoje, com "The Navigators", do engajado britânico Ken Loach, e "Eden", do israelense Amos Gitai.
Mas o francês André Téchiné surpreendeu ontem com um filme que sintetiza num único país (Marrocos) todos os demais e, num triângulo de personagens, as variadas formas do desterro -econômico, geográfico, psicológico, amoroso.
O nome, "Loin" (longe), foi escolhido também por uma questão de síntese. "Queria uma palavra que remetesse à idéia de viagem -às viagens de fato que Serge [o protagonista" faz em seu caminhão e às viagens interiores de cada um dos personagens, que, até o final do filme, irão ao mais distante de si mesmo", diz Téchiné.
Serge (Stéphane Rideau) é um motorista de caminhão francês que viaja da Europa à África por conta de seu trabalho com transporte de cargas (roupas) e pendula entre o sim e o não a se arriscar no tráfico de drogas. Decide-se pelo sim menos pela ambição de ter muito dinheiro que pelo desafio de dar outro rumo à vida.
A namorada de Serge é Sara, marroquina de origem judaica que vive em Tanger, onde dirige a pensão deixada pela mãe. Nigerianos tentando a vida no Marrocos são os principais clientes da pensão. Convidada pelo irmão a viver no Canadá, Sara também oscila -entre ir e ficar.
Árabe filho de camponeses, Saïd é amigo de Serge e de Sara e empregado da pensão. Mesmo depois de "cinco ou seis" tentativas frustradas, Saïd não desiste de seu único objetivo: emigrar (ilegalmente) para a Espanha.
Dos três, é o único seguro de que permanecer é encerrar-se numa vida sem perspectivas, mas também o único para quem a mobilidade é sinônimo de contravenção.
O "coté" político concentra-se nas questões "da livre circulação de mercadorias e da livre circulação de pessoas", como define Téchiné, que preferiu inseri-las no filme de forma "carnal", em completa associação com a vida dos personagens, para que o resultado se parecesse com algo que foi "mostrado, não demonstrado".
A participação de Serge na cena final de "Loin" -que corresponde à nova tentativa de emigração de Saïd- exemplifica, para Téchiné, a possibilidade de um "herói do nosso tempo". O que permite concluir que, hoje como ontem, ultrapassar fronteiras (reais ou imaginárias) continua sendo tradução de bravura.
Para interpretar os protagonistas, o diretor procurou atores pouco conhecidos e que fossem fluentes em árabe e francês. Lubna Azaabal é Sara, Mohamed Hamadi é Saïd. O nome luxuoso no elenco é o da escritora e atriz Yasmina Reza ("Arte"), como Emily, cunhada de Sara. Émilie é uma escritora, uma mulher sofisticada e uma mãe atormentada pela perda do filho, de seis anos de idade. Ela vive no Canadá, mas encanta-se com o mundo árabe e reflete sobre ele em títulos como "Ilusões Identitárias".
"Quando estava fazendo o primeiro esboço dos personagens, me encontrei com Yasmina", conta Téchiné. "Queria uma mulher com perfil oriental e que fosse convincente no papel de uma escritora que leva a vida a toda a velocidade. A partir daí, para mim, Yasmina e o papel ficaram indissociáveis. Mas eu tive muitíssima dificuldade em convencê-la a aceitar trabalhar no filme."
"Recusei desde o início porque o papel parecia ter similitudes demais com a minha vida, sobretudo com minha condição de escritora, e eu não conseguia imaginar que trabalho poderia desenvolver como atriz", diz Reza.
Reza e o elenco de "Loin" acompanharam Téchiné na apresentação do filme no 58º Festival de Veneza, onde é um dos 20 concorrentes ao Leão de Ouro.
Leia também:
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alice Braga produzirá nova série brasileira original da Netflix
- Sem renovar contrato, Fox retira canais da operadora Sky
- Filósofo e crítico literário Tzvetan Todorov morre, aos 77, em Paris
- Quadrinhos
- 'A Richard's estava perdendo sua cara', diz Ricardo Ferreira, de volta à marca
+ Comentadas
- Além de Gaga, Rock in Rio confirma Ivete, Fergie e 5 Seconds of Summer
- Retrospectiva celebra os cem anos da mostra mais radical de Anita Malfatti
+ EnviadasÍndice