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05/09/2001 - 02h28

Ruth Escobar anuncia nova montagem de "Os Lusíadas"

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VALMIR SANTOS
da Folha de S. Paulo

Ruth Escobar não gosta da montagem de "Os Lusíadas" que ela produziu e está em cartaz na Estação das Artes, em São Paulo. Para outubro, promete nova versão do clássico português.

A produtora investiu R$ 2 milhões na montagem atual, captados em fontes públicas e privadas. Conquistou um novo espaço, no complexo Júlio Prestes. Reuniu cerca de 70 profissionais, entre eles 52 atores, dançarinos e cantores, para transformar a epopéia de Camões num grande musical.

Fez de tudo para tornar concreto seu sonho, mas agora diz que o espetáculo que estreou em março "não honra" seu passado.

A solução? Fazer tudo de novo. Outro "Os Lusíadas". De preferência, sem os figurinos "de escola de samba pobre", como ela define as 380 roupas desenhadas por José Rubens Siqueira, também responsável pela adaptação. De preferência, sem a suposta falta de rumo do diretor-geral Iacov Hillel, que "se perdeu", segundo ela.

Entra-e-sai
Os nove meses de gestação do espetáculo, de julho de 2000 a março de 2001, foram marcados por reviravoltas que resultaram na troca ou sondagem de diretores como José Possi Neto, Gerald Thomas, Amir Haddad, o próprio Iacov Hillel e Márcio Aurélio, também cotado no início, agora "substituto" de Hillel. Sem contar o entra-e-sai do elenco.

"Ela [Ruth] simplesmente vilipendiou o nosso trabalho", afirma Hillel, 59. Ele e José Rubens Siqueira constituíram advogado e movem ação contra a produtora por direitos autorais.

Em "entendimentos verbais" (não há contrato entre as partes), Hillel recebeu R$ 35 mil (direção-geral), e Siqueira, R$ 24 mil (adaptação e desenho dos figurinos). Os valores, segundo eles, correspondem à temporada de dois meses, que foi prorrogada depois para cerca de sete meses.

Desde maio, os dois trocam cartas (e acusações) com Ruth, o que culminou no rompimento. Hillel e Siqueira querem 6% da bilheteria proporcional aos cinco meses da temporada esticada, sobretudo após acordo com a Secretaria Estadual de Educação, que subsidia ingressos para a rede escolar.

"Estou muito indignada com a má-fé", diz Ruth Escobar, 65. "Quando você faz um espetáculo e quer percentual, tem que falar, e isso jamais foi dito."

"Fiz um trabalho que é meu, ninguém tira isso de mim. É um trabalho que rende dinheiro na bilheteria, mas não chega às minhas mãos", afirma Siqueira, 55. "Não tem intriga, fofoca, só quero minha parte, quero justiça."

Órfão
Ruth Escobar diz que agiu como "mãe que estraga filho". "Dei tudo o que pediram, importei quase US$ 80 mil em equipamentos para cenografia, por exemplo."

Avalia a produtora: "Esse espetáculo não honra a minha história enquanto produtora. Os atores foram um pouco jogados na arena. Com toda a parafernália, não se cuidou para que o texto de Camões sobressaísse com a importância que deveria".

Diz Hillel: "Ela está estragando o trabalho, colocou pessoal que não ensaia, enfim, exerceu um tipo de pressão absurda".

Ruth assume a intervenção. "Outra coisa que eu gostaria de dizer é que esse espetáculo, que o Iacov dirigiu, não é mais o mesmo. Eu cortei 40 minutos."

Entre maio e junho, o elenco esteve "órfão" de diretor e adaptador. "O Vasco da Gama ficou a ver navios", afirma o intérprete do capitão-mor, Daniel Faleiros Migliano, 29, que não aceitou "migrar" para o segundo "Os Lusíadas", como fez cerca de 80% do elenco original, segundo estima Ruth Escobar.

A estréia será em Santos (SP), no dia 17 de outubro, sob a égide do "novo" (dez dias antes, terá saído de cartaz o atual "Os Lusíadas"). Márcio Aurélio assina a direção-geral. Daniela Thomas e André Cortez criam a cenografia.

Palco italiano
Na nova montagem, não haverá mais o corredor -a metáfora para o mar, no espaço não-convencional do antigo saguão da estação Júlio Prestes. As aventuras se passarão em palco italiano.

A caravela de 4,4 metros de altura, ícone da primeira versão cenográfica (criada por Renato Theobaldo), cede lugar para um palco inteiriço sobre molas, como a lembrar o casco de um navio.

Depois de Santos, "Os Lusíadas" da vez estréia na Estação das Artes (de 4 a novembro a 23 de dezembro), segue para Portugal (janeiro, em Lisboa e Porto) e retorna a São Paulo.

"É inacreditável o que ela está fazendo. Há um espetáculo de qualidade, por que montar outro? Seria mais econômico pagar nossos direitos", diz Siqueira.

Ruth Escobar diz que a nova produção vai lhe custar "no máximo de R$ 400 mil a R$ 500 mil", recursos próprios. Ela não pretende fazer novas captações (a curta temporada portuguesa terá apoio do Ministério da Cultural local e da Portugal Telecom).

O custo agora é quatro vezes menor do que o da primeira montagem. Ou melhor, da segunda, pois em 1972 Ruth produziu "A Viagem", dirigido por Celso Nunes e baseado, como 29 anos depois, em "Os Lusíadas".


 

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