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05/09/2001 - 02h39

Osesp, em crise, lembra cem anos da morte de Verdi

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JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S. Paulo

A Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado) fará quinta, sábado e domingo três apresentações da "Missa de Réquiem", de Giuseppe Verdi (1813-1901), em programa comemorativo do centenário de morte do compositor italiano.

A orquestra atravessou um período de turbulência interna com a demissão, em 20 de julho, de sete de seus músicos. Documentos que circulam pela internet acusam o maestro John Neschling, 54, de "autoritário" e de impor um "clima de terrorismo".

Ele não se pronunciou durante o borbulhar da crise, mas aceitou falar anteontem à Folha. Qualificou o episódio de uma tentativa de quebra de autoridade e o considerou superado.

Será ele o regente do "Réquiem". As três récitas trarão como solistas vocais Norma Fantini, Luciana D'Intino, Keith Lewis e Carlo Colombara, além do coro da Osesp e do Coral Lírico de Minas Gerais.

Os dois conjuntos vocais estarão no programa da semana seguinte, em que Neschling, com Roberto Frontalli (barítono), trará trechos de Verdi e do brasileiro Carlos Gomes (1836-1896).

A "Missa de Réquiem", como peça litúrgica, é atípica na produção de Verdi, um dos maiores nomes do romantismo em razão das 26 óperas que deixou. Algumas dessas obras líricas contêm, no entanto, cenas de inspirado misticismo ou autêntica religiosidade.

Nos dias 20 e 22, a orquestra, dirigida por Roberto Minczuk, faz um programa dedicado a Piotr Ilich Tchaikovski (1840-1893), com a "Sinfonia nº 6" e o "Concerto para Piano nº 1", tendo como solista Ricardo Castro.

O último programa do mês terá, sob a regência de Minczuk, dias 26 e 27, o oratório "Carmina Burana", de Carl Orff (1895-1982), e o "Concerto para Flauta", de Carl Nielsen (1865-1931), com o solista Emmanuel Pahud.

A peça de Orff, com os cantores Rosana Lamosa, Paulo Mestre e Sebastião Teixeira, trará o coro e o coro infantil da Osesp e será reapresentada no domingo, dia 30.

Eis trechos da entrevista do diretor artístico da orquestra.

Folha - Corre que o sr. tentou, com as demissões, desmantelar a associação dos músicos. É verdade?
John Neschling -
Não. Durante três anos trabalhei em harmonia com a associação. Tínhamos em comum a consolidação do mais sério projeto já feito no Brasil na área da música erudita. Conflitos surgiram quando a associação achou que "a orquestra somos nós, portanto podemos administrá-la". Deu em confronto.

Folha - Qual foi o estopim?
Neschling -
Um músico, durante ensaio, afrontou diretamente o maestro e foi suspenso. A associação incitou a orquestra a não mais tocar enquanto a punição não fosse revista. Foi uma tentativa de sublevação e indisciplina.

Folha - Todos os membros da associação foram demitidos?
Neschling -
Não. Dos seis, só foram quatro. Dois outros não concordaram com a radicalização.

Folha - As demissões poderão ser revistas?
Neschling -
Ninguém foi demitido por deficiência de qualidade e, neste momento, não existe a possibilidade de reverter a decisão.

Folha - Os demitidos o acusam de autoritarismo.
Neschling -
Não houve autoritarismo. Houve iniciativa de autoridade, que significa respeitar a hierarquia.

Folha - Uma reportagem atribui ao sr. uma analogia com o comportamento agressivamente autoritário de Toscanini e Karajan.
Neschling -
A revista que publicou a analogia não me entrevistou. Não é o meu ponto de vista.

Folha - As repercussões das demissões foram grandes, da Argentina ao sindicato das orquestras alemãs.
Neschling -
É o que se espera que sindicatos façam. Da mesma forma com que os sindicatos da Toshiba protestam contra as 18 mil demissões anunciadas para aquela empresa. Nenhum regente ou diretor artístico me enviou mensagens de desagravo.

Folha - A crise acabou?
Neschling -
Ela acabou ao se anunciarem as demissões. Ela está completamente superada.

Folha - Uma nova associação será organizada?
Neschling -
Espero que sim. Mas não é problema meu. Os músicos não foram demitidos por serem da associação, mas por terem estimulado a sublevação.

OSESP
Concertos às qui., às 21h; sáb., às 16h30; dom. (dias 9 e 30), às 17h; pça. Júlio Prestes, s/nº, SP, tel. 0/xx/11/3337-5414.
Quanto: de R$ 10 a R$ 30.


 

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