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14/09/2001 - 10h51

Gravadora Alligator volta ao país e lança pacote com oito títulos

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EDSON FRANCO
da Folha de S.Paulo

Presidente e fundador da Alligator, a mais importante gravadora dedicada ao blues moderno, Bruce Iglauer, 54, pode ser acusado de tudo. Nos 30 anos em que toca o selo, já ouviu de detratores adjetivos como briguento e teimoso.

Este último tem seu lado bom e explica como ele se dispôs a, pela terceira vez, correr atrás de quem distribua seus discos de maneira séria no Brasil. Depois de Warner e Abril Music, agora é a vez da Caravelas ter acesso aos mais de 200 títulos da Alligator.

Para celebrar a assinatura do contrato, a Caravelas inaugura a parceria com um pacote de oito CDs.

Apesar de animado com a volta ao mercado brasileiro, Iglauer diz estar cético com a indústria de música. "Quando as vendas estão baixas, as lojas tendem a se agarrar aos hits. E o blues fica de fora", disse ele na entrevista a seguir, da sede da gravadora, em Chicago.

Folha - O blues vai bem?
Bruce Iglauer -
Ele continua popular, mas está passando por um período de mudanças. Os velhos artistas estão morrendo, o que é um problema, pois, na cabeça das pessoas, blues é John Lee Hooker [1920-2001", Albert Collins [1932-93", Albert King [1923-92", Stevie Ray Vaughan [1954-90". Agora é a hora de os músicos jovens ajudarem o estilo a dar um passo adiante. Mas eles precisam de marketing, divulgação e publicidade.

Folha - Seu selo é independente. A associação com uma grande gravadora seria a solução para dar mais visibilidade ao seu catálogo?
Iglauer -
A ligação com as "majors" pode gerar um grande sucesso ou um completo desastre. A economia delas funciona mais ou menos assim: 90% dos discos são feitos para não perder dinheiro, e cabe aos 10% restantes fazer a diferença. Acho que a associação com "majors" não é a melhor saída para os músicos de blues. A melhor arma de divulgação que eles têm são os shows.

Folha - Essa interação com a platéia garante a sobrevivência dos músicos e do blues?
Iglauer -
Toco a minha gravadora com fé nisso. Tento trazer para os meus discos o clima da performance ao vivo. Mas só isso não é suficiente. Acho que outra coisa que o blues precisa é de um Messias, de alguém que consiga atrair novas platéias, da maneira que Stevie Ray Vaughan fez.
Ele foi o primeiro blueseiro branco que foi conhecido e copiado pelos negros. A maioria dos músicos de blues negros que eu conheço está pouco familiarizada com nomes como Eric Clapton e George Thorogood, mas eles conhecem Vaughan.

Folha - Há um Messias em potencial no elenco da Alligator?
Iglauer -
Provavelmente, o mais próximo que eu tenho é Shemekia Copeland, mas ela é uma cantora e não toca guitarra. E esse Messias tem de tocar guitarra, pois o público de blues é majoritariamente masculino, e os rapazes gostam de fingir que são músicos.

Folha - Aos 30 anos, como está a saúde da sua gravadora?
Iglauer -
Em geral, muito bem. Temos um catálogo de cerca de 200 álbuns, somos a melhor distribuidora de blues nos EUA e temos contratos que garantem a presença de nossos discos em vários países. Mas o negócio de discos está mal no mundo inteiro.
As vendas estão caindo. E isso inclui o blues. Quando as lojas se amedrontam porque as vendas estão baixas, elas tendem a se agarrar aos hits. Blues, jazz e world music ficam de lado.

Folha - Essa é a terceira vez que a Alligator tenta distribuir CDs aqui. O que deu errado antes?
Iglauer -
Passamos um tempo bom com a Warner, que, como todas as "majors", é movida a hits. Uma das coisas que deram errado foi a economia danada do Brasil. Na Abril Music, tínhamos um ex-funcionário da Alligator, o que facilitava muito as coisas. Quando ele saiu, ficamos perdidos.

Folha - E o que pode fazer com que o contrato com a Caravelas dure mais que os anteriores?
Iglauer -
O bom da Caravelas é que o pessoal da direção gosta de música. Alguns são músicos de verdade. Estão comprometidos com a música. Eu nunca quis ser executivo, mas isso era necessário para que eu pudesse produzir a minha música. Acho que é assim que deve ser: primeiro a paixão, depois o negócio. E não o inverso.

Folha - O sr. já considerou a hipótese de gravar outro estilo?
Iglauer -
Nos primeiros anos da gravadora, eu lancei cerca de 12 discos de reggae. Eu gosto do estilo, mas era muito difícil trabalhar. A começar pelos horários. Se um show de blues termina às 2h, eu fico bem. O problema é que os de reggae começavam nesse horário.
E eu gosto de gravar o que eu posso julgar. Sei identificar o grande blues. Consigo diferenciar o bom jazz do mau jazz, mas eu não detecto o que separa o bom jazz do grande jazz. Meu vocabulário não é grande o suficiente.
 

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