Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
17/09/2001 - 06h12

Editora prepara coleção de clássicos a R$ 1 cada exemplar

Publicidade

CYNARA MENEZES
da Folha de S.Paulo

Com R$ 1 no bolso você pode comprar um cachorro-quente; meia dúzia de ovos; em algumas cidades, uma passagem de ônibus urbano, só de ida; ou um picolé. A partir de novembro, por incrível que pareça, seu real também vai valer para adquirir um clássico da literatura brasileira. A iniciativa que chega com a pretensão de "revolucionar" o mercado de livros no Brasil é da editora Expressão e Cultura (Exped), do mesmo grupo que publica as "Páginas Amarelas". Com nome homônimo ao dos classificados, a coleção de (inicialmente) 36 títulos deverá ser lançada com festa na sede da Academia Brasileira de Letras, no Rio.

"Queremos substituir o pinguim em cima da geladeira dos mais pobres por nossas estantezinhas", brinca o editor Ferdinando Bastos de Souza, que fundou a Exped há 35 anos. As "estantezinhas" são kits com 12 livrinhos cada um que serão comercializados a R$ 12. O objetivo é vendê-los juntos, mas os volumes poderão ser comprados separadamente.

São livros simples, em formato pocket (de bolso) e impressos em papel
jornal com, em média, 216 páginas e capa brilhante, em cuchê -o mesmo papel usado pelas revistas semanais, só que um pouco mais grosso. Para manter o custo baixo, as ilustrações de capa, a quatro cores, variam pouco.

Apesar de pouco luxuosos, o acabamento dos livros é bom, sem folhas soltas ou manchas na impressão. Os títulos incluem Machado de Assis e Lima Barreto, entre os clássicos, e o acadêmico Arnaldo Niskier e o ex-ministro do Meio Ambiente, Gustavo Krause, entre os novos, além de obras de referência -como a Constituição Brasileira ou o Código de Defesa do Consumidor- e livros infanto-juvenis.

"A intenção é fazer os kits atingirem a família inteira", diz Souza, cuja editora está investindo cerca de R$ 2 milhões no projeto, certos de conseguir retorno. "Só nas bienais do livro do Rio e São Paulo, não tenho dúvida que vamos vender 5 milhões de exemplares. Mas nós não entramos pensando apenas em dinheiro, também queremos ajudar os brasileiros a ler mais", garante.

Como a principal dificuldade de fazer o livro barato está na comercialização, em que os custos chegam a 60% do valor de capa, a editora pretende fazer parcerias com empresas e prefeituras das cidades menores para que pelo menos o primeiro kit possa chegar gratuitamente às casas. A partir daí, com o catálogo, as pessoas podem encomendar novos volumes.

"É difícil vender nas livrarias com esse preço, a não ser que o livreiro abrisse mão de parte do lucro; nas bancas também é impossível, por causa da distribuição, que encarece o produto", diz o editor, que pretende utilizar a rede de representantes das "Páginas Amarelas" nas cidades para comercializar a coleção, possivelmente via correio ou até de porta em porta -a princípio, em São Paulo, Rio e em Minas, e daí para os outros Estados do Brasil.

O livro a R$ 1 se tornou possível porque o grupo compra muito papel e de um tipo mais leve que o usado pelas demais editoras, o que barateia os custos. Além disso, os gastos com impressão praticamente inexistem, porque, como os classificados rodam sazonalmente, havia uma ociosidade de 50% no equipamento e pessoal da área gráfica.

Fica mantido o percentual de direito autoral, em torno de 8% a 10% do preço de capa, o que, de certa maneira, reduz a área de autores aos de domínio público -como Machado, José de Alencar etc.-, sobre os quais não se pagam direitos. Pelo menos 50 dos 650 títulos da Expressão e Cultura, que inclui nomes como William Faulkner e Isaac Asimov, também poderão passar a ser editados em formato de bolso, mas isso ainda não está definido.

Ou seja: a coleção fica praticamente restrita aos clássicos ou aos nomes não consagrados. Se, por um lado, isso é ruim porque deixa quase toda a literatura produzida nos últimos 70 anos de fora, por outro, abre-se uma brecha para a publicação de autores novos, que poderiam não ter chance em outras editoras devido ao custo alto.

Tem gente até preparando coleções completas de 12 livros, caso do professor Johan van Lengen, da PUC-RJ, que irá publicar "O Arquiteto Descalço", série com dicas básicas para quem quer construir a própria casa. "Estamos abertos a receber originais", afirma Souza. "E também a parcerias com editoras que queiram ceder autores para o projeto."

Editores e livreiros ouvidos pela Folha receberam bem a notícia, embora digam não acreditar que a iniciativa se mantenha por muito tempo.
Escritores novatos que queiram se aventurar -e as tiragens iniciais são de pelo menos 30 mil exemplares- devem entrar em contato com a editora pelos telefones 0/xx/11/278-6622 (ramal 1620), em São Paulo, e 0/xx/21/ 2544-8996 (ramal 120), no Rio.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página